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Cenas da natureza

O diretor Quinn Berentson conta o que acontece nos bastidores da produção de filmes sobre a vida selvagem.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h53 - Publicado em 30 nov 2002, 22h00

Louise Sottomaior

Se você gosta de assistir a documentários sobre a vida selvagem na TV, é bem possível que já tenha visto um dos filmes do diretor Quinn Berentson. Aos 29 anos, esse neozelandês formado em zoologia já filmou macacos, lagartos, golfinhos, vermes, ratos e até um elefante excitado em busca de uma parceira num filme sobre a vida sexual dos animais. “Algumas dessas cenas de sexo explícito na selva chegaram a ser censuradas”, diz Berentson, que no ano passado foi premiado por várias de suas produções no Festival Internacional de Filmes Sobre a Vida Selvagem, além de ter sido indicado a um Emmy há três anos.

Foi em 1995, poucos meses antes de se formar em zoologia, que ele resolveu largar a vida acadêmica e se dedicar a escrever roteiros e dirigir documentários. “Àquela altura, eu já sabia que não queria ser cientista”, diz Berentson. “Além de você não poder ser muito criativo ao escrever textos acadêmicos, a vida de pesquisador exige que você delimite um campo muito restrito de estudo.” Em entrevista à Super, ele conta um pouco da rotina de viagens e fala de todas as etapas necessárias na produção de filmes.

Por que você abandonou a zoologia para dirigir documentários?

Foi por acidente. Na faculdade, sabia que não queria ser cientista, já que é preciso escolher um campo estreito de trabalho e se aprofundar nele. Nem nos textos é possível ser muito criativo. Meses antes de me formar, em 1995, li um cartaz na faculdade com uma oferta de emprego para quem tivesse bom humor e formação na área científica. Era uma vaga para trabalhar num programa infantil sobre ciência. Durante a seleção, eles me pediram para escrever quatro roteiros em duas semanas e, como não estava trabalhando na época, os quatro roteiros terminaram sendo filmados. Um deles chegou a ganhar o prêmio Golden Apple, concedido pelo Festival de Filmes e Vídeos Educativos dos Estados Unidos, e uma estatueta CHRIS, do Festival Internacional de Filmes e Vídeos Columbus. Três meses depois, me ligaram para que eu coordenasse outra série, até que um dia o diretor ficou doente e eu me ofereci para substituí-lo. Terminei assumindo a direção do programa por dois anos.

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E como foi que você passou de um programa infantil para documentários?

Em 1998, um professor da minha faculdade estava trabalhando numa produção sobre a história natural da Nova Zelândia e me convidou para trabalhar com ele. Logo depois, escrevi e dirigi dez episódios do Twisted Tales, uma série do Animal Planet sobre a influência dos porcos, macacos, vermes, ratos, lagartos, moscas, golfinhos e outros animais na arte, na religião etc. Fui indicado ao Emmy pelo roteiro do especial sobre ratos. Em 2000, escrevi e dirigi uma série sobre a história da medicina para o Discovery Health Channel, um documentário sobre a Antártica para o National Geographic Channel, outro sobre animais que vivem sob condições extremas para o Animal Planet e um sobre os segredos da Nova Zelândia para o Discovery Travel Channel.

Quais as principais dificuldades para se filmar um documentário?

A principal dificuldade é a paciência e o tempo necessário para se obterem boas imagens da natureza. Afinal, não é fácil filmar cenas de animais raros nos mais recônditos lugares do planeta.

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Você já foi ameaçado por algum animal?

Não é o diretor que passa por situações arriscadas, são os câmeras. Alguns deles são malucos! Um colega meu foi deixado por um helicóptero para filmar uma fêmea de urso polar defendendo seus filhotes. Nessa fase, elas ficam ainda mais agressivas. Depois que a mamãe ursa arrancou a cabeça de um leão-marinho com uma patada, ele começou a filmar os filhotes. Estava tão entusiasmado que não deu conta de que a ursa estava a poucos metros dele. Sem ter para onde fugir, teve que esperar mais de 20 minutos pelo helicóptero, que estava tendo dificuldades para resgatá-lo em meio a uma tempestade de neve. Quando estava prestes a ser atacado, a produção conseguiu atirar um dardo tranqüilizante na ursa.

Então você nunca correu risco enquanto estava filmando?

Risco de vida, não. Mas, certa vez, enquanto acampávamos numa ilha em Belize, a brisa parou de soprar e dois guias que acompanhavam nossa equipe começaram a se olhar preocupados. Quando perguntamos o que tinha acontecido, eles responderam: “Vocês vão ver”. De repente, todos começaram a se coçar como malucos. Uma nuvem marrom de carrapatos famintos nos atacou pelo nariz, ouvidos, atravessando nossas roupas. Todos estavam desesperados. Uns se enfiavam no saco de dormir, outros pulavam na água. Fiquei perto de uma fogueira, sendo assado, até que finalmente eles foram embora. Foi uma longa meia hora.

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Qual o primeiro passo na produção de um documentário?

Geralmente, as idéias são propostas por três pessoas do departamento de desenvolvimento. Elas pesquisam sobre o tema, checam se algo igual já não foi feito antes e arrumam as autorizações necessárias para fazer as filmagens. Depois, o diretor da equipe viaja quase sempre para os Estados Unidos e apresenta a idéia aos canais de televisão. Os executivos de lá que analisam o projeto podem descartá-lo, aprová-lo com algumas sugestões de mudanças ou dar o sinal verde enviando o dinheiro para que as filmagens comecem.

Quanto se gasta em média numa produção dessas?

Depende. Um filme de uma hora pode ser feito com cerca de 250 mil dólares. Se for mais longo, envolver computação gráfica, filmagens submarinas, pode chegar até 1 milhão de dólares.

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O que acontece depois das filmagens?

A primeira etapa é escolher as cenas e anotar no papel o trecho e a duração delas. As imagens são digitalizadas, pré-editadas e o resultado é um filme cerca de 50% mais longo que a versão final. O diretor e o escritor, que podem ser a mesma pessoa, escrevem um esboço do texto e gravam a narração com a própria voz. Toda essa etapa leva umas quatro semanas. O filme em estado bruto vai para o cliente, que gasta duas semanas checando dados e consultando executivos que opinam sobre o programa. Essa é a pior parte, já que eles podem mexer no trabalho, exigindo cortes e alterações.

Você já ficou insatisfeito com algumas dessas mudanças?

Uma vez fiz um filme sobre sexo animal – não vou falar para que canal. E, como era de se esperar, estava cheio de imagens de sexo. Só que o cliente decidiu cobrir inúmeras cenas, como a de um elefante com seu órgão sexual ereto (aquilo tinha uns 2 metros de comprimento) correndo atrás da fêmea. Gastamos mais duas semanas para editar essas imagens.

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O que você mais gosta de fazer quando está viajando para filmar?

Muita gente acha que tenho uma vida sensacional, cheia de glamour e aventuras espetaculares. Mas, no dia-a-dia, é tanta correria que quase não tenho tempo de conhecer os lugares onde estou filmando. Depois, são meses de escritório lidando com executivos estúpidos que podem até apagar o conteúdo educativo do seu filme. Além de filmar e escrever, o que mais gosto de fazer é editar o filme. É lá que ele começa a ganhar vida. Nessa fase, não chego a ver a luz do dia por mais de um mês. Chego antes de amanhecer, trabalho mais de dez horas na sala de edição, sem janelas, e saio de lá somente ao anoitecer. Mas, no final, acho que vale a pena.

Quinn Berentson

• Estudou zoologia, mas desde 1995 vem fazendo documentários sobre o mundo animal para a televisão

• Foi indicado a um Emmy em 1999 e premiado pelo Festival Internacional de Filmes Sobre a Vida Selvagem por uma série de documentários em 2001

• Tem 29 anos, é solteiro e seu maior prazer é mergulhar

Frase

“É preciso ter muita paciência para conseguir imagens de animais raros”

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