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Chuvas não estão repondo o Aquífero Guarani

Reserva que abastece 90 milhões de pessoas corre risco, aponta estudo.

Por Maria Clara Rossini
15 nov 2024, 10h00

O Guarani é o segundo maior aquífero do mundo. Com 1,2 milhão de km2, ele abrange sete estados brasileiros, além de trechos da Argentina, Uruguai e Paraguai. Um estudo (1) realizado por pesquisadores da Unesp mostrou que as chuvas não são suficientes para repor o volume de água explorado, que abastece 90 milhões de pessoas.

A equipe monitorou as águas das nascentes e rios da região de Brotas (SP) entre 2013 e 2021, onde analisou isótopos estáveis de hidrogênio e oxigênio. Eles funcionam como “impressões digitais” que indicam a origem da água – revelam se ela é recém-infiltrada no aquífero, por exemplo, ou se está lá há milhares de anos.

O estudo mostrou que 80% do volume de água das nascentes é de origem antiga, e não provém do reabastecimento das chuvas. Conversamos com Didier Gastmans, um dos autores, sobre as conclusões do artigo.

As águas analisadas têm entre 2,6 mil e 720 mil anos. O que isso revela?
A idade das águas subterrâneas indica que não existe renovação do recurso em escala temporal humana. O que estamos fazendo é uma mineração de água, que compromete a sustentabilidade e a resiliência hídrica das regiões em que o aquífero Guarani é a única fonte de abastecimento.

Na última década, houve baixa precipitação e aumento da temperatura, o que leva a uma maior evaporação da água [e menor penetração dela no aquífero]. Além disso, a conversão de matas nativas para a monocultura reduz as taxas de infiltração e, consequentemente, a recarga.

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Quais são os riscos do nosso atual consumo de água?
Os maiores riscos são para as gerações futuras, de que o recurso não esteja mais disponível. A curto prazo, os riscos apontam para um aumento excessivo do custo de extração da água, pois a demanda de energia será maior, além da necessidade da perfuração de novos poços.

A constatação de que as taxas de recarga vêm diminuindo se estende a outros aquíferos monitorados. Ou seja, essa situação pode impactar inúmeros ecossistemas no Brasil que dependem das águas subterrâneas.

O que deve ser feito para manter a sustentabilidade do Guarani?
Programas de monitoramento do nível de água, e gestão integrada das águas subterrâneas com as águas superficiais – ou seja, não depender de uma única fonte para suprir as demandas locais.

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É necessário investimento em sistemas interligados, para garantir o abastecimento por meio da fonte (rios ou aquíferos) que tiver a maior disponibilidade no momento.

Fonte 1. “How much rainwater contributes to a spring discharge in the Guarani Aquifer System: insights from stable isotopes and a mass balance model”, D Gastmans e outros, 2024.

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