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Cientistas chineses avançam em energia nuclear usando pesquisa abandonada pelos EUA

Os novos reatores à base de tório podem ser a chave para a China conseguir completar sua transição energética para uma matriz neutra em carbono.

Por Eduardo Lima
2 Maio 2025, 19h00

Pela primeira vez, cientistas conseguiram reabastecer um reator nuclear experimental sem desligá-lo no meio do processo. É um avanço importante no ramo da energia nuclear, uma fonte mais eficiente e limpa do que os combustíveis fósseis – e a novidade só aconteceu porque pesquisadores chineses decidiram continuar uma pesquisa abandonada por pesquisadores dos Estados Unidos.

Eles conseguiram esse avanço inédito com um protótipo de reator de sal fundido que funciona com tório, elemento químico metálico radioativo, em vez de usar urânio como é mais comum na maioria dos reatores. Para o principal cientista do projeto, Xu Hongjie, isso significa que a China “agora lidera a fronteira global” de inovação nuclear, como ele disse numa reunião da Academia Chinesa de Ciências relatada pelo jornal South China Morning Post.

Os reatores à base de tório foram criados nos Estados Unidos na década de 1950, mas acabaram abandonados para focar nos reatores de urânio. Depois de anos, essas pesquisas iniciais deixaram de ser segredo de Estado e ficaram disponíveis ao público. Foi aí que os pesquisadores chineses começaram seu projeto. Há relatos de tentativas da China de construir um reator de tório desde a década de 1970, sem sucesso. A paciência compensou.

“As lebres às vezes cometem erros ou ficam preguiçosas. E aí que a tartaruga aproveita a oportunidade”, disse o cientista Xu Hongjie, em referência à clássica parábola de Esopo sobre uma lebre que desafia uma tartaruga para um torneio de velocidade e resolve descansar no meio do caminho, confiante em sua velocidade. A lebre, apesar de sua vantagem inicial, acaba perdendo a corrida.

Como funciona o reator

O novo reator nuclear chinês fica num local secreto, provavelmente perto da fronteira com a Mongólia no deserto Gobi. Ele começou a funcionar em junho de 2024, e já pode gerar dois megawatts de energia termal, suficiente para abastecer 2.000 domicílios.

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O tório, combustível radioativo, é dissolvido num sal fundido, que atua para resfriar o metal. Dentro da câmara do reator, essa mistura de sais e minérios radioativos é aquecida a 600 °C e bombardeada com nêutrons, que fazem o tório formar átomos do isótopo radioativo urânio-233. Nessas circunstâncias, o urânio se quebra e libera energia pelo processo de fissão nuclear.

Esses reatores de sais fundidos são considerados muito mais seguros do que reatores que usam combustível sólido, já que eles não podem passar por derretimento do núcleo, que é quando as estruturas do reator sobreaquecem e começam a derreter. Foi isso que aconteceu, por exemplo, nos acidentes nucleares de Chernobyl, em 1986, e Fukushima, em 2011. (Ainda assim, vale ressaltar, sistemas de segurança robustos são necessários para evitar outras falhas.)

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Além disso, os reatores de tório também produzem menos lixo nuclear que os reatores tradicionais de urânio. Eles até podem servir para reciclagem: os dejetos das máquinas que usam urânio teoricamente podem ser usados como combustível para reatores de sais fundidos. O tório também é um minério bem mais fácil de encontrar, sendo três vezes mais abundante que o urânio na crosta terrestre.

O presidente da China, Xi Jinping, pretende transformar a matriz energética do país inteiro até 2060, alcançado a meta de carbono neutro. É um desafio grande para um país que representa cerca de 27% de todas as emissões de carbono do mundo. Um reator gigante de tório seria um bom caminho para essa meta, já que a China acabou de descobrir reservas enormes do minério em seu território.

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