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Cientistas descobrem por que adoçantes engordam

Adoçantes artificiais ativam um circuito cerebral que avisa o corpo que ele está passando fome.

Por Denis Russo Burgierman
Atualizado em 11 mar 2024, 11h08 - Publicado em 13 jul 2016, 13h45

Como é possível que adoçantes artificiais engordem, se eles não possuem caloria nenhuma? Parece improvável, mas, nos últimos anos, surgiu uma porção de estudos surpreendentes mostrando que essas substâncias inventadas para nos ajudar a emagrecer acabam causando o efeito oposto, pelo menos em animais (as pesquisas com humanos ainda são inconclusivas). Num estudo publicado ontem, uma equipe de neurocientistas australianos contou que usou moscas de fruta para entender por que algo tão inusitado acontece. Ao final de um bem bolado experimento, eles chegaram à conclusão de que adoçantes fazem o cérebro acreditar que está morrendo de fome. Aí, fica difícil emagrecer.

O que os cientistas fizeram, para começar, foi dar adoçante para algumas moscas e açúcar para outras, de maneira a poder comparar. O resultado: as do adoçante consumiram 30% mais calorias que as do açúcar. A conclusão clara foi que consumir adoçante faz aumentar o consumo calórico. Para confirmar, os cientistas cortaram os adoçantes da dieta do primeiro grupo de moscas – e rapidamente o consumo de calorias voltou a cair.

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Mas a pesquisa não parou aí. O passo seguinte foi tentar descobrir por quê. Os pesquisadores monitoraram a atividade das sensillas, que são pelinhos que as moscas têm na boca e que contém os receptores de paladar do animal. As sensillas ficam mais ouriçadas quanto maior for o apetite do inseto, e elas se agitam especialmente quando entram em contato com açúcar, prato preferido das simpáticas mosquinhas. Pois então: a pesquisa revelou que bichinhos que comem adoçantes artificiais ficam com as sensillas muito mais excitadas quando comem açúcar. Ou seja, o apetite delas por açúcar aumenta quando elas comem muito adoçante.

Em seguida, a equipe deu açúcar para todas as moscas e monitorou a atividade elétrica nas sensillas. Descobriu então que, nas moscas que comem adoçante, a atividade elétrica é maior, mesmo com pequenas quantidades de açúcar. Isso quer dizer que o adoçante deixa as moscas mais sensíveis ao açúcar.

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Não terminou ainda: foi a partir daí que o experimento ficou realmente sofisticado. Os pesquisadores então vasculharam as enzimas e os neurotransmissores das mosquinhas para tentar decifrar o mecanismo molecular que estava em ação. Foi aí que eles perceberam que comer adoçante ativa uma rede neural que é exatamente a mesma que é ligada quando os animais passam fome. A lógica é a seguinte: quando passamos fome, nossos neurônios que transmitem o sabor doce ficam mais ativos e mais sensíveis. É por isso que fome é o melhor tempero – nossas redes neurais interpretam qualquer micro-estímulo como uma explosão de sabor para nos incentivar a comer mais. Acontece que adoçantes ativam esses neurônios, mas não nos dão nenhuma caloria. Por isso, deixam o corpo todo mais desejoso de comida, como se estivéssemos passando fome. Adoçante não engorda, mas ativa um sistema fisiológico que nos faz comer mais. E comer mais engorda, é óbvio.

Por mais que o raciocínio faça sentido, isso não quer dizer que o mesmo que acontece em moscas de fruta vá acontecer em humanos. Pessoas, ao contrário de moscas, são capazes de reprimir impulsos usando a razão. Talvez os usuários de adoçante sejam tão disciplinados que consigam resistir à fome que o adoçante causa. Mas, no mínimo, a pesquisa serve para mostrar que dieta é muito mais complexo do que imagina nossa indústria de alimentos.

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