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Cientistas encontram poeira estelar em neve da Antártida

Gelo antártico contém um tipo de ferro que é criado quando estrelas explodem em supernovas — e caiu na Terra nos últimos 20 anos

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 12 ago 2019, 17h53 - Publicado em 12 ago 2019, 17h25

Sabemos que somos feitos de poeira de estrelas. O que não sabíamos, no entanto, é que esse pozinho cósmico continua caindo sobre nossas cabeças. Uma pesquisa recente conduzida por cientistas da Alemanha e da Áustria descobriu uma minúscula quantidade de ferro interestelar misturada na neve da Antártida. E os átomos foram depositados ali há bem pouco tempo — nas últimas duas décadas.

Esse mesmo isótopo, o ferro-60 (que tem 4 nêutrons a mais do que o ferro comum), já havia sido encontrado no leito dos oceanos e na superfície da Lua. A principal fonte produtora desse elemento são as supernovas: a morte violenta e explosiva de estrelas gigantes. Mas os depósitos oceânicos e lunares têm milhões de anos. Pela primeira vez, temos evidências de que esse isótopo interestelar continua caindo na Terra.

Toda a logística da pesquisa foi bastante complicada. A equipe liderada pelo físico nuclear Gunther Korschinek, da Universidade Técnica de Munique, transportou meia tonelada de neve da Antártica até o laboratório na Alemanha para ser analisada. Para que ela chegasse ainda congelada, o contêiner teve de ser cuidadosamente embalado e embarcado.

Chegando lá, o gelo foi derretido, filtrado e evaporado, até que uma técnica conseguiu identificar o ferro-60. Apesar de serem a principal fonte do elemento, as supernovas não são as únicas produtoras desse isótopo. Colisões entre partículas de alta energia (como raios cósmicos colidindo com poeira do Sistema Solar), bem como testes nucleares, também podem produzi-lo. Mas os pesquisadores conseguiram descartar essas possibilidades.

Em meio aos 500 quilos de neve, eles isolaram dez átomos de ferro-60. “Isso nos dá uma indicação clara de que esse material vem de fora do Sistema Solar”, disse Korschinek em comunicado. Os resultados foram publicados nesta segunda (12) no periódico Physical Review Letters. É uma pesquisa interessante porque nos permite entender melhor o lugar da humanidade no Universo. Nosso Sistema Solar “mora” em um bolsão de gás bastante difuso e de baixa densidade chamado pelos astrônomos de Bolha Local. Acredita-se que ondas de choque produzidas por supernovas nos últimos 20 milhões de anos tenham “deformado” essa bolha. Atualmente, o Sol atravessa uma região mais densa chamada de Nuvem Interestelar Local.

A descoberta do depósito fresco de ferro-60 na Antártica é um forte indício de que essa nuvem também teria sido esculpida por supernovas. Num momento especial dos últimos 20 anos, um pozinho estelar caiu na neve de um dos cantos mais remotos do planeta, cruzou meio mundo e agora nos conta coisas incríveis sobre a história recente da nossa vizinhança galáctica, sobre a vida e a morte de estrelas gigantes. Não é demais?

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