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Cientistas finalmente descobrem como mulher “sente cheiro” de Parkinson

É tudo culpa da secreção que todo mundo produz na pele – só que um pouquinho diferente.

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 22 mar 2019, 19h16 - Publicado em 22 mar 2019, 19h15

Em 2017, veio a tona o curioso caso da australiana que detecta a doença de Parkinson… pelo cheiro. Joy Milne, enfermeira aposentada, percebeu, pelo cheiro do marido, que algo estava errado com ele dez anos antes do diagnóstico da doença.

Na época, Milne explicou que possuía uma capacidade inusitada: “Estou em algum lugar entre o cachorro e o ser humano. Tenho um olfato melhor que a maior parte das pessoas”. E foi em um encontro de pacientes com Parkinson, no qual ela e o marido, médico, compareceram, que a australiana percebeu o mesmo cheiro estranho de seu companheiro em várias outras pessoas. Bingo. O marido viveu com a doença por 20 anos e acabou falecendo aos 65.

Mas cientistas da Universidade de Manchester não deixaram essa história terminar assim, apenas como um caso curioso. Eles convocaram Joy Milne para um grupo de pesquisa – na qual ela era tanto objeto de estudo quanto participante.

Estudar como alguém consegue detectar a doença cerebral anos antes de os sintomas aparecerem é uma das formas mais concretas de desvendar mistérios sobre o problema,  já que, até hoje, não há um teste diagnóstico definitivo para o Parkinson, o que dificulta o diagnóstico precoce.

Há três anos, cientistas têm trabalhado com Joy para tentar identificar o que exatamente provocada o odor que ela sente. Finalmente, eles chegaram à resposta: escrevendo no periódico ACS Central Science, os pesquisadores revelaram que o odor característico está ligado ao sebo – a secreção oleosa produzia pelas glândulas sebáceas, que ajudam a manter a pele e o cabelo naturalmente hidratados (e ajudam na proteção da camada externa da pele).

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Os médicos já sabiam que o Parkinson leva a um aumento da produção dessa secreção. Mas no sebo de duas pessoas diferentes, a concentração de substâncias químicas pode variar drasticamente. A questão, daí, era entender se o aumento em algumas dessas substâncias teria relação com o Parkinson.

Joy já dava uma pista de que tipo de substância poderia estar envolvida – afinal, ela detectava alterações no odor de pacientes com Parkinson. O que conhecemos como “cheiro” são, na verdade, estruturas químicas conhecidas como aromáticas. Elas se volatilizam no ar e, por isso, chegam às nossas fossas nasais e ao fundo das nossas gargantas, sendo associadas a cheiros e gostos.

Sendo assim, os pesquisadores suspeitavam que algumas substâncias voláteis presentes no sebo poderiam estar emitindo o odor que Joy detecta – mesmo antes da doença progredir muito.

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Para definir exatamente qual estrutura era a responsável pela diferentes, eles fizeram um teste: retiraram sebo de 64 voluntários – parte com Parkinson, parte sem – e deram as “amostras” para que a mulher hipersensível pudesse analisá-los.

Eles notaram que as pessoas com a doença tinham concentração superior ao normal de três substâncias diferentes: ácido hipúrico, eicosano e octadecanal (ou aldeído estearílico). Essas seriam exatamente as responsáveis pelo odor que Joy percebe.

Ainda não está claro o quão cedo o sebo começa a emitir sinais do Parkinson. Os pesquisadores acreditam que a presença excessiva destes compostos moleculares está ligada aos níveis variáveis ​​de neurotransmissores (os mensageiros químicos que ajudam os neurônios a se conectar e controlar nossos pensamentos e movimentos) em pessoas com Parkinson. É justamente esse desequilíbrio de neurotransmissores que provoca os sintomas da doença – então ter uma correlação dessas no óleo produzido pela pele pode, no futuro, se tornar uma ferramenta bastante útil para acompanhar o desenvolvimento da doença, e a efetividade dos tratamentos.

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