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Cientistas recriam receita de pão de 4 mil anos — usando fermento da época

Por incrível que pareça, o pão ficou gostoso - e bem mais cheiroso que o normal. Veja o resultado.

Por Maria Clara Rossini
16 ago 2019, 13h52

Imagine juntar seus dois hobbies favoritos na mesma receita. Seamus Blackley é físico e também é considerado o “pai do Xbox” (em 1999, quando trabalhava na Microsoft, ele teve a ideia de criar o console de videogame). Além disso, ele tem duas paixões inusitadas: arqueologia egípcia e panificação. O resultado disso? Um pão feito com fermento egípcio de 4500 anos.

O fermento biológico foi encontrado dentro de peças de cerâmica da época. Ele era usado pelos egípcios para fazer pão e cerveja. Como seria de se esperar, todas as amostras estavam guardadas em museus, mas o padeiro amador deu um jeito de ter acesso ao ingrediente.

Com a ajuda de Serena Love, arqueóloga da Universidade de Queensland, ele conseguiu negociar e levar pra casa uma parte do fermento, enquanto o resto foi destinado a pesquisas. 

O fermento biológico nada mais é do que um grupo de leveduras. Elas são fungos que transformam o açúcar presente no pão em álcool e gás carbônico. Esse é o processo de fermentação. O álcool acaba evaporando no forno, mas o efeito do gás carbônico é visível: são as bolinhas encontradas dentro da massa, que fazem o pão “crescer”.

As leveduras egípcias estavam dormentes durante todo esse tempo. Para acordá-las, o microbiologista Richard Bowman, da Universidade de Iowa, injetou uma solução de nutrientes no pote de cerâmica e extraiu os microorganismos vivos. A partir daí, eles só precisaram seguir a receita.

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Seamus, o pseudo-arqueólogo-padeiro, geralmente compartilha suas aventuras culinárias no Twitter — e essa não poderia ficar de fora. Para uma experiência ainda mais autêntica, ele usou os mesmos ingredientes que os egípcios usariam na época, como cevada, farinha de einkorn e trigo de khorasan. Todos esses são grãos mais antigos que a farinha de trigo que conhecemos hoje.

O resultado foi um pão fofinho, cheiroso e gostoso. Provavelmente não é o que você imaginaria de um pão milenar. Esse “D” escrito na crosta é, na verdade, o hieróglifo antigo que designa “pão”.

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Essa foi só a primeira tentativa. É provável que microorganismos modernos estivessem junto das leveduras antigas, influenciando o resultado final. A equipe de cientistas ainda pretende analisar profundamente as amostras e fazer essa separação.

Seamus já testou a receita mais vezes. Todas elas foram feitas em assadeiras e fornos convencionais, mas ele pretende usar peças de cerâmica em breve, assim como os egípcios. Nos pães abaixo, os hieróglifos escritos são Di e Ankh, que significam “dar vida”.

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