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Cientistas transformam estrutura do novo coronavírus em música; ouça

Não é nenhuma brincadeira: o objetivo é criar uma outra forma de organizar as informações do vírus para melhor entendê-lo.

Por Bruno Carbinatto
8 abr 2020, 16h56

Neste ponto da pandemia, você já deve ter visto várias imagens do novo coronavírus: basicamente, uma bolinha coberta por estruturas pontiagudas, as proteínas spike. Mas agora, pela primeira vez, você também pode ouvi-lo. Uma equipe de cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) traduziu a estrutura da coroa do vírus em música.

Funcionou assim: como todas as proteínas, as spike são formadas por aminoácidos. Usando uma técnica chamada sonificação, a equipe atribuiu uma nota para cada aminoácido em uma escala musical. Depois, os cientistas escolheram os instrumentos musicais com base em gostos pessoais, sendo o principal o koto, um instrumento típico do Japão. 

Em seguida, uma inteligência artificial deu uma mãozinha para transformar a estrutura em música, gerando um áudio de quase duas horas. Além de simplesmente colocar as notas uma atrás da outra, o software ajustou o volume e duração delas com base na realidade, porque esses aminoácidos podem se apresentar dobrados em formato de hélice ou esticados, o que altera a estrutura da proteína. Markus Buehler, o pesquisador principal do estudo e também musicista, publicou o resultado final do trabalho:

Apesar de também ser uma espécie de expressão artística, a iniciativa tem grande valor científico. A sonificação ajuda a expressar informações de um jeito diferente: assim como você pode ver a spike em um desenho ou ler a sequência de seus aminoácidos, agora também pode ouví-la. E isso fornece aos cientistas uma nova base de dados que permite procurar por padrões ou características específicas da proteína em busca de um medicamento, por exemplo. Como as spike são essenciais para o vírus entrar numa célula humana, achar uma arma específica para elas é uma estratégia que pesquisadores de todo o mundo vêm buscando.

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“Nossos cérebros são ótimos no processamento de sons”, explica Buehler, que já trabalhava com a sonificação de proteínas antes da pandemia. “De uma só vez, nossos ouvidos conseguem captar todas suas características: tom, timbre, volume, melodia, ritmo e acordes. Para ver esses mesmos detalhes em uma imagem, precisaríamos de um microscópio de altíssima potência – e nunca conseguiríamos observar tudo ao mesmo tempo.”

Quem ouve a sinfonia relaxante sem saber sua história dificilmente imagina que o que está por trás dela é um vírus que já causou mais de 87 mil mortes pelo mundo. “[A música] engana nosso ouvido da mesma maneira que o vírus engana nossas células. É um invasor disfarçado de visitante amigável”, diz Buehler.

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