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Colisão com galáxia-anã pode despertar buraco negro no centro da Via Láctea

Mas não se preocupe: a batida ainda vai demorar 2,4 bilhões de anos.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
7 jan 2019, 16h48

Assim como planetas pequenos (como a Lua) podem girar em torno de planetas maiores (como a Terra) – ganhando o nome de satélites –, galáxias pequenas podem girar em torno de galáxias maiores. É só uma questão de gravidade. As duas galáxias-satélite mais famosas da Via Láctea são a Grande Nuvem de Magalhães e a Pequena Nuvem de Magalhães, visíveis do hemisfério sul em locais de céu extraordinariamente limpo (como o Atacama, no Chile, onde fica o ESO, um dos mais importantes observatórios astronômicos do mundo).

A Grande Nuvem de Magalhães (ou LMC, na sigla em inglês) não é nem de longe tão grande quanto a Via Láctea, com seus 105 mil anos-luz de diâmetro. Mesmo assim, é impensavelmente grande na escala humana: são 14 mil anos-luz de diâmetro. Se você imaginar que a distância entre a Terra e o Sol é a distância da sua casa até a padaria – digamos, uns 500 metros –, então a distância entre as duas extremidades da LMC equivale a ir e voltar de Pretória, na África do Sul, partindo de São Paulo. Detalhe: repetindo a viagem 28 mil vezes.

Ou seja: é como se a Via Láctea fosse uma metrópole do tamanho do Rio de Janeiro ou de São Paulo – e a LMC fosse uma cidade muito próxima e bem grandinha, como Duque de Caxias ou Guarulhos. Nenhuma das duas nasceu grudada nas capitais. Elas começaram como pontos de urbanização isolados, e só depois, com o passar dos anos, cresceram até seus bairros começarem a se misturar com os bairros mais periféricos das cidades maiores.

A LMC ainda não se juntou à Via Láctea. Mas, dadas as estimativas mais recentes sobre sua massa (que é maior do que se pensava), é inevitável que se junte um dia. Uma simulação de computador revelada na última quarta-feira (4) pela Universidade de Durham, na Inglaterra, indicou que a dita cuja vai colidir com a Via Láctea daqui 2,4 bilhões de anos. Isso é muito, muito tempo: a espécie humana tem só 300 mil anos, ou seja, é 8 mil vezes mais jovem. É extremamente improvável que a gente ainda esteja por aqui para apreciar o evento.

Caso esteja, porém, não há motivo para preocupações. Uma colisão entre duas galáxias não é como um acidente de carro. Lembra mais uma mistura entre dois líquidos. Elas se fundem lentamente até se tornarem uma coisa só, com algumas traumas no processo. É evidente que as estrelas recém-chegadas vão interferir com a estabilidade gravitacional das que já estavam lá. Alguns planetas serão arremessados para longe de suas órbitas ou engolidos. Sistemas estelares inteiros (o Sistema Solar não está isento disso) poderão ser ejetados no espaço aberto.

O problema é outro: a Via Láctea, como toda galáxia espiral, tem um buraco negro supermassivo em seu centro, chamado Sagittarius A*. Ele é razoavelmente quieto e um bocado magrelo: não costuma engolir muitas coisas – pelo menos não em relação aos buracos negros supermassivos de galáxias parecidas com a nossa, que em geral são bem mais gordinhos. Isso é porque buracos negros, ao contrário da ideia comum no imaginário popular, não aspiradores de pó cósmicos. Eles não sugam nada. Se alguém substituísse o Sol por um buraco negro com a mesma massa que ele, a Terra continuaria girando normalmente em torno do novo corpo (a luz e o calor fariam falta, é claro).

Um buraco negro só engole algo se o tal algo se aproximar demais dele e cruzar uma linha imaginária chamada horizonte de eventos – o ponto de não-retorno, a partir do qual a atração gravitacional é inescapável. Buracos negros supermassivos de outras galáxias espirais costumam ter muito mais material dando sopa em seu entorno. O que, é claro, se converte em um número muito maior de corpos celestes, gás e poeira engolidos.

Quando a Via Láctea englobar a Grande Nuvem de Magalhães, o Sagittarius A* repentinamente terá uma quantidade colossal de material extra para engolir. Assim, se tornará oito vezes maior. É bom lembrar que, quando dizemos que um buraco negro engoliu alguma coisa, queremos dizer que ele a incorporou. A coisa deixa de ser ela e se torna mais buraco negro. Você pode entender melhor o que é e como se forma um buraco negro nesta reportagem.

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Apesar de ter “negro” no nome, quando um buraco negro está engolindo uma grande quantidade de matéria, suas bordas se tornam extremamente luminosas. Isso é porque a matéria, conforme se aproxima, gira em torno do horizonte de eventos como água girando em torno do ralo (uma estrutura chamada disco de acreção). É tanto atrito e velocidade que o calor atinge um patamar ridículo, e doses cavalares de radiação eletromagnética de todos os espectros – inclusive o vísivel – são liberadas. É um brilho muito superior ao da estrela mais brilhante que você possa imaginar.

Esses núcleos de galáxias extremamente luminosos são chamados de núcleos galáticos ativos (AGNs). Dependendo da situação, também é comum referir-se a eles como quasares (o termo quasar tem uma conotação ligeiramente diferente para especialistas, pois denota AGNs que são extremamente distantes e são observados em um determinado ângulo em relação à Terra). AGNs estão entre os objetos mais brilhantes do Universo, o que significa que, quando houver um no centro da Via Láctea, olhar o céu se tornará uma experiência bem mais psicodélica do que é hoje.

Essa lista de consequências da união entre a Via Láctea e a Grande Nuvem de Magalhães terá um efeito curioso: tornará nossa galáxia mais comum. A maior parte das galáxias espirais conhecidas têm buracos negros maiores e mais ativos em seu centro – e satélites menores. O fim da Grande Nuvem de Magalhães fará nosso lar cósmico se tornar só mais um rostinho bonito (e típico).

 

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