Colonização extinguiu metade das cobras e lagartos de arquipélago no Caribe
A partir de fósseis, pesquisadores analisaram a perda de biodiversidade das ilhas de Guadalupe. A queda no número de espécies coincide com a chegada dos franceses no século 17.
Uma pesquisa publicada na última quarta-feira (19) mostrou que a perda da biodiversidade em Guadalupe, no Caribe, é muito maior do que se acreditava. A partir do estudo de fósseis, cientistas puderam analisar o histórico da biodiversidade da região e perceberam que uma extinção de 50% a 70% das espécies de cobras e lagartos aconteceu após a chegada dos colonizadores europeus, no século 17.
Guadalupe é uma província da França (o nome oficial é departamento ultramarino) localizada ao norte de Dominica e ao sul de Montserrat. Possui seis ilhas (as duas maiores se chamam Basse-Terre e Grande-Terre) e cerca de 400 mil habitantes.
No estudo, os cientistas analisaram 43 mil restos ósseos de espécies de 31 locais do arquipélago. Eles pertenciam a quatro períodos: Pleistoceno tardio (32.000 a 11.650 anos atrás); Holoceno pré-antrópico (há 11.650 anos); a época de habitação indígena (2.450 anos atrás) e o período moderno (meados do século 16 em diante).
Os fósseis foram atribuídos a 16 grupos de animais (táxons) diferentes, e a pesquisa encontrou uma grande biodiversidade em registros antigos, observando desde espécies que não se sabia que viveram ali a algumas que nunca tinham sido descritas.
A enorme perda de biodiversidade contrasta com os registros do período pré-colonial – naquela época, indícios mostram que as populações indígenas dividiram espaço com as cobras e lagartos das ilhas por milhares de anos. Nicole Boivin, que liderou o estudo junto ao pesquisador Corentin Bochaton, afirmou em comunicado que esses animais répteis não parecem ser sensíveis a mudanças climáticas e ao impacto humano. Ainda assim, a diversidade deles foi reduzida – nos últimos cem anos, a diminuição foi ainda mais acentuada.
Estima-se que Guadalupe já era habitada por humanos há cinco mil anos. Cristóvão Colombo só chegou por lá em 1493, quando foi expulso pelos indígenas; em 1635, os franceses transformaram o local em colônia. Os pesquisadores não observaram extinção de espécies quando apenas as populações nativas habitavam as ilhas.
Ao analisar a dinâmica das extinções, os cientistas perceberam relações entre entre o tamanho das espécies, a preferência de habitat e o risco de extinção. Segundo eles, as espécies terrestres de cobras e lagartos de médio porte foram as mais atingidas.
Dentre as possíveis explicações para isso, está a presença de mangustos e gatos, mamíferos recentemente introduzidos em Guadalupe. Predadores, eles podem ter sido os principais responsáveis pela extinção em massa. Além disso, a agricultura colonial extensiva também pode ter contribuído. A prática levou à destruição do habitat, a degradação do solo e a dizimação das populações de insetos (que integram a dieta de cobras e lagartos).
“Répteis são considerados espécies ‘menos carismáticas’, mas são uma parte vital dos ecossistemas tropicais”, disse Bochaton. “Analisar a biodiversidade do passado é importante para entender as questões atuais de conservação.”
A pesquisa destaca a importância de espécies consideradas “menos carismáticas” – como os animais em questão – para a saúde dos ecossistemas e dos estudos em relação ao impacto humano sobre elas.