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Comida Frankenstein

Apontados como vilões pelos ecologistas e como salvação da pátria pelos cientistas, os alimentos transgênicos estão mudando as regras do jogo na lavoura, na cozinha e na Medicina

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 31 out 2000, 22h00

Jomar Morais / Com Reportagem de Mariana Mello

OGM. Se você ainda não se deu conta da importância dessas três letras em sua vida, é bom acordar. Siglas como WWW e Wap, que simbolizam as transformações radicais promovidas pela computação e pelas telecomunicações em nosso dia-a-dia, vieram para ficar. Mas acredite: OGM, as iniciais que abrem esta reportagem, têm um poder de mexer com a sua vida muito maior do que elas. Para o bem ou para o mal.

OGM quer dizer Organismo Geneticamente Modificado. Ou, simplesmente, transgênico. Trocando em miúdos, trata-se de um ser vivo cuja estrutura genética – a parte da célula onde está armazenado o código da vida – foi alterada pela inserção de genes de outro organismo, de modo a atribuir ao receptor características não programadas pela natureza. Uma planta que produz uma toxina antes só encontrada numa bactéria. Um microorganismo capaz de processar insulina humana. Um grão acrescido de vitaminas e sais minerais que sua espécie não possuía. Tudo isso é OGM.

Ainda que timidamente, os transgênicos já fazem parte do nosso cotidiano. Lembra aquela caixa de cereais Shake Diet que você comprou pensando em perder alguns quilinhos? Pois é. Entre outros ingredientes, havia lá dentro o farelo da soja Roundup Ready, um cereal desenvolvido para tolerar altas doses de um herbicida que leva o mesmo nome e é produzido pela mesma empresa, a americana Monsanto. E aquela lata de Nestogeno com soja que você comprou para o seu filho? Segundo um exame realizado pelo laboratório suíço Interlabor Belp AG, ali também havia o grão modificado pelos geneticistas.

Está em curso uma celeuma mundial sobre os transgênicos, alimentada pelo que já se sabe sobre a novidade e, principalmente, por seu lado obscuro, sobre o qual ainda não existem respostas científicas 100% confiáveis. Os ambientalistas, contrários à alteração genética dos alimentos, já criaram até um apelido para esse tipo de comida – Frankenfood, uma mistura de Frankenstein e food (comida, em inglês). O barulho é tanto que redes de lanchonetes famosas, como o McDonald’s, decidiram riscar os transgênicos da sua lista de ingredientes para não correr riscos junto à clientela. Descontados as paixões e os interesses bilionários que insuflam essa discussão, a verdade é que estamos apenas no começo de uma revolução como o mundo jamais viu – a biorrevolução. “Os transgênicos transformarão o mundo no século XXI”, prevê Michio Kaku, doutor em Física Teórica da Universidade de Nova York. “Eles livrarão bilhões de pessoas do sofrimento, da fome e da doença.”

Para a humanidade, o fato de o homem poder transferir características intrínsecas de um organismo para outro é um feito tão extraordinário quanto, por exemplo, o nascimento de Dolly, a ovelha clonada há três anos num laboratório da Escócia. A cadeia de implicações econômicas, ecológicas e éticas decorrente disso é simplesmente imensurável nos dias atuais. Com o transplante de genes entre diferentes espécies e gêneros, os cientistas almejam encontrar soluções inéditas para alguns problemas crônicos da humanidade, como a fome nos países pobres e a escassez de áreas agricultáveis. (Estima-se que a demanda por cereais na Ásia vai crescer 35% até 2010. Como atendê-la?) Além disso, ao desenvolver vegetais e animais com novas características, os pesquisadores abrem um leque de alternativas que, nos próximos anos, vai alterar de modo profundo nossos hábitos alimentares, cuidados com a saúde e até nossos julgamentos morais.

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Por enquanto, quase tudo que se fala sobre transgênicos, seus benefícios e seus perigos, diz respeito ao primeiro estágio das pesquisas. Trata-se de uma etapa, consolidada na década passada, em que os avanços da biotecnologia foram utilizados basicamente para reduzir os custos de produção na agricultura e ampliar os ganhos da agroindústria mediante o desenvolvimento de vegetais resistentes a pragas ou tolerantes a pesticidas. Não surpreende, por isso mesmo, que tenha despertado mundo afora tanta desconfiança. O caso da soja Roundup Ready é exemplar: ninguém, ao consumir o grão da Monsanto, se sentiu agraciado com o direito de enriquecer a sua dieta com doses maiores do agrotóxico da companhia. Seja como for, há uma enorme quizila opondo cientistas e empresas de biotecnologia a militantes ambientalistas e entidades de defesa do consumidor. Entre as duas facções, um mar de desentendimento e desacatos.

A segunda fase de experimentos com transgênicos já começou e acena com benefícios mais visíveis ao consumidor. (Nada que arrefeça a polêmica, no entanto.) Alimentos enriquecidos de vitaminas na origem ou programados para proporcionar ao homem pratos menos nocivos ao coração estão deixando de ser mera futurologia. Simultaneamente, uma terceira onda de pesquisas genéticas promete transformar as plantas em biofábricas que produzirão alimentos-vacinas. Isso mesmo: frutas, por exemplo, que já sairão do pé munidas de antígenos capazes de combater várias doenças.

Mas, afinal, na prática, de que modo os cientistas estão transformando em realidade algo que até há pouco só existia na ficção? Uma história simples ajuda a entender.

A bactéria Bacillus thuringiensis, um microorganismo encontrado no solo há milhões de anos, produz uma toxina que atua como pesticida, eliminando insetos e ervas daninhas. Nos anos 90, cientistas da empresa suíça de biotecnologia Novartis debruçaram-se sobre essa fábrica natural de defensivos agrícolas e tiveram uma idéia surpreendente. Primeiro, eles identificaram o seu genoma – como é chamada a seqüência de genes existentes no DNA, o ácido que guarda, no núcleo da célula, as instruções do processo da vida. Em seguida, capturaram o gene responsável pela produção da toxina e o transferiram para o DNA do milho Guardian, uma espécie duramente atacada pela chamada broca européia. O que aconteceu? O milho preservou a sua aparência e as suas funções naturais, mas em suas entranhas passou a fabricar o veneno da bactéria, tornando-se resistente à broca e a outros tipos de pragas. Surgiu assim o milho Bt, atualmente cultivado em 12 milhões de hectares no mundo.

A construção de um transgênico, seja ele uma soja que suporta overdoses de agrotóxico, seja uma planta que produz plástico degradável (sim, os cientistas já trabalham com essa hipótese!), parte sempre desse procedimento básico – a interferência nos genes. Isso só se tornou possível com a descoberta de que o DNA de qualquer organismo, inclusive o do homem, compõe-se das mesmas unidades ou “palavras”, os genes. A singularidade de cada ser decorre da maneira como essas palavras se combinam, formando “sentenças” usadas para produzir e regular as diferentes proteínas. É essa característica fundamental que torna os genes de um organismo potencialmente funcionais em outro, o que abriu caminho para as conquistas da engenharia genética.

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Seguindo essa trilha, no ano passado o professor Ingo Potrykus, do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, e seu colaborador Peter Beyer, da Universidade de Freiburg, Alemanha, chegaram ao arroz dourado, o maior feito da biotecnologia agrícola desde o surgimento da técnica de transferência de genes, há 20 anos. Ao transplantarem para o genoma da Oryza sativa, a mais popular espécie de arroz, genes emprestados do narciso, uma erva nativa do Mediterrâneo, e da bactéria erwinia, os pesquisadores obtiveram um tipo de cereal muito mais rico em betacaroteno, o agente construtor da vitamina A. E esse é um detalhe que faz diferença. A vitamina A fortalece o organismo humano contra doenças infecciosas e previne contra a cegueira noturna, mal que aflige atualmente mais de 350 000 crianças subnutridas ao redor do mundo. Prover vitamina A em abundância em um único cereal poderia ser o caminho mais curto para aliviar o sofrimento de famílias carentes da África, da Ásia e da América Latina a médio prazo. Perceba a importância disso: o arroz representa entre 50% e 80% da ingestão diária de calorias dos asiáticos.

Aos 66 anos, Potrykus, um cientista discreto que se esconde atrás da barba grisalha, emociona-se ao falar do seu grão transgênico. O arroz dourado, ápice de uma saga de sete anos, que custou 2,6 milhões de dólares, é também um sonho que evoca os dias amargos da sua infância, na Alemanha arrasada pela guerra. Para sobreviver, o menino Potrykus muitas vezes se viu forçado a roubar comida e a experiência de criança faminta jamais lhe saiu da mente.

A escolha do arroz deveu-se a uma feliz coincidência: o cereal é consumido como alimento básico por 60% da população mundial e, entre todos os grãos comestíveis, é o que possui o código genético mais curto. Seu genoma é 37 vezes menor que o do trigo e seis vezes menor que o do milho – portanto, bem mais fácil de ser estudado, entendido e… modificado.

“Os transgênicos vão aumentar em 25% a produção de alimentos no mundo nos próximos anos”, diz Elíbio Rech, doutor em Genética Celular e coordenador de projetos para a produção de transgênicos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, empresa estatal baseada em Brasília. “Mas são os produtos com novas características nutricionais que darão o tom das pesquisas.” A Monsanto, por exemplo, que até outubro estava impedida por liminar da Justiça brasileira de comercializar a sua soja Roundup Ready, há pouco desenvolveu uma canola enriquecida com betacaroteno e agora pesquisa um tipo de milho com mais proteína. Na própria Embrapa, que, há alguns anos pesquisa mamão, soja, milho e algodão resistentes a pragas, está no forno outra novidade: o leite dietético. Ele tem 30% a menos de gordura e 10% a mais de proteína, qualidades proporcionadas pela inclusão, na ração das vacas, de moléculas modificadas de ácido linoléico conjugado (CLA), composto graxo que atua na formação de lipídios (gorduras). A molécula transgênica acaba alterando a síntese de gordura na glândula mamária dos animais.

A Embrapa também tem um pé na terceira onda das pesquisas, da qual devem resultar os chamados nutracêuticos, alimentos provedores de hormônios e vacinas. Em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, a estatal toca o projeto da alface adicionada da proteína Lack 1, que dará à verdura a propriedade de imunizar contra a leishmaniose, doença conhecida de 200 milhões de pessoas no mundo. A soja igualmente está sendo alterada para produzir insulina e o hormônio do crescimento humano.

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Outra pesquisa que interessa aos brasileiros está em curso na Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. Ali, o professor Schuyler Korban quer dar ao tomate do tipo cereja a propriedade de produzir antígenos do vírus respiratório sincicial, agente de uma infecção fatal em crianças e idosos. A doença é causa da maioria das 2 000 mortes que ocorrem anualmente no Estado de São Paulo entre crianças com menos de 5 anos, segundo o pesquisador Edson Luiz Durigon, da USP. Agora, Korban inseriu no genoma do seu tomate uma proteína encontrada na membrana do vírus e espera, com isso, obter a vacina para o mal. “Vacinas em vegetais oferecem vantagens como possibilidade de múltipla vacinação em uma só planta, aplicação indolor e baixo custo de produção”, diz Maria Lúcia Rácz, doutora em Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

De fato, há promessas otimistas no horizonte pintado pela biotecnologia, mas isso não elimina a nuvem de apreensão. O problema é a escassez de dados convincentes sobre o uso seguro dos organismos modificados. De um lado, nem mesmo Doug Parr, o cientista-chefe do Greenpeace, a organização ambientalista que lidera mundialmente as brigadas anti-OGM, admite que é possível deter a biorrevolução. De outro, o que fragiliza a idéia dos transgênicos são discussões como o tempo de maturação dos experimentos antes que os OGMs sejam postos à venda e a necessidade de uma legislação mais rigorosa sobre o assunto. Teme-se que grãos modificados possam causar danos à saúde. E os ecologistas arrepiam-se ante a possibilidade de culturas transgênicas virem a contaminar espécies silvestres, desencadeando um desequilíbrio ecológico de proporções e conseqüências imprevisíveis. “Não sabemos os riscos de juntar organismos que jamais se cruzariam na natureza”, afirma Mariana Paoli, coordenadora da campanha do Greenpeace no Brasil.

Os argumentos contrários se multiplicam aqui e lá fora. O consultor técnico do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), de São Paulo, Sezifredo Paz, afirma que nos derivados de soja transgênica há excesso de resíduos de glifosato, o agrotóxico que, em razão da resistência da planta, agora é usado em maior quantidade nas lavouras. Outra suspeita é a de que os antibióticos usados como marcadores nos experimentos transgênicos promovam a resistência de microorganismos causadores de doenças no homem ou destruam bactérias benignas da flora intestinal. Num OGM, o gene transplantado interage com os genes naturais do organismo e com o ambiente, mas o que acontece lá dentro é um enigma. “Os geneticistas gostam de dizer que 90% do genoma é massa que não serve para nada, é lixo. Mas isso é apenas uma forma de justificar o que eles ainda não conhecem”, afirmam os cientistas Amory e Hunter Lovins, dirigentes do Instituto Rocky Mountain, uma das organizações americanas anti-transgênicos. Os irmãos Lovins, aliás, estão no grupo dos que acham que só o interesse econômico justifica a velocidade com que os transgênicos estão chegando à mesa. “Eles não foram criados porque são mais produtivos, mas porque podem ser patenteados”, imaginam.

Até o príncipe Charles, da Inglaterra, entrou na polêmica. Em artigo na revista The Ecologist, ele deixou de lado a fleuma real e manifestou sua crença de que a conservação dos recursos naturais pode ser um meio melhor e mais seguro de resolver o problema da produção de alimentos e da fome nos países pobres. “Mesmo porque a fome é menos uma questão de comida do que de dinheiro para comprá-la”, diz o príncipe.

Nos últimos meses, alguns dados objetivos – mas não definitivos – deram mais força aos protestos contra os OGMs. É o caso do estudo comandado pelo cientista John Losey na Universidade Cornell, nos Estados Unidos, sobre a mortalidade de borboletas Monarch após serem alimentadas com o pólen do milho Bt. Losey diria, depois, que houve falhas de controle em sua experiência. Mas era tarde. A história, desde então, é contada mundo afora. Cresceu também o número de empresas que, temendo problemas futuros, se recusam a comercializar transgênicos ou a utilizá-los como ingredientes em seus produtos. No final de setembro, milhões de caixas de taco, uma comida mexicana à base de milho, foi recolhida nos Estados Unidos porque se descobriu que em seu farelo havia milho Bt produzido pela Aventis.

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Paranóia? A maioria dos cientistas acha que sim. “A engenharia genética permite que se façam alterações pontuais nos genomas, utilizando genes cuja ação é estudada antes e depois de serem inseridos na planta”, diz Manoel Teixeira Souza Júnior, doutor em Genética e pesquisador da Embrapa. Já a obtenção convencional de híbridos por cruzamento envolve um conjunto de genes que sequer são conhecidos, segundo o especialista. É como abater um alvo no escuro. O tiroteio pára quando o objetivo é atingido, mas em torno pode-se fazer um bruta estrago. Quanto ao argumento de que os OGMs podem provocar alergias e mal-estar, o professor de Bioquímica Walter Ribeiro Terra, da USP, rebate que mesmo alimentos naturais apresentam inibidores de enzimas humanas capazes de causar distúrbios. É o caso do feijão. O vegetal inibe a enzima tripicina, provocando má digestão, problema evitado com o simples cozimento dos grãos.

A questão é que há pelo menos 8 000 anos o homem intervém, de algum modo, nas culturas agrícolas, a ponto de nenhuma das plantas que alimentam a humanidade encontrar-se hoje em seu estado original. Se isso trouxe mais prejuízos do que benefícios, é outra controvérsia.

Gente como Doug Parr, o guru do Greenpeace, preferia que nada saísse dos trilhos da natureza. Nem mesmo nos casos em que a justificativa é salvar colheitas de pragas como as que dizimam, na África, metade das plantações. “Há alternativas naturais viáveis, como ficou provado no Quênia”, lembra o cientista. Ali, a broca do milho foi eliminada em muitos campos com a introdução de um capim que, plantado entre os pés de milho, repele o inseto e, ao final da colheita, ainda serve de alimento para animais.

A grande resistência aos transgênicos ocorre entre os europeus. Nos Estados Unidos, mais da metade de todos os alimentos processados apresentam modificações genéticas. Na Argentina, 90% da soja produzida no país tem origem em sementes alteradas. No mundo inteiro, porém, apenas em 12 países a liberação dos produtos transgênicos é um caso encerrado – e o Brasil está fora desse grupo.

Recentemente, a Academia Brasileira de Ciências endossou um documento de 20 páginas em defesa dos OGMs, preparado em conjunto com outras seis entidades científicas nacionais, entre as quais as academias de ciências dos Estados Unidos e da China e a Sociedade Real de Londres. A argumentação girou em torno da impossibilidade de prover alimentos para uma população mundial que, em 30 anos, pode ser de 12 bilhões de pessoas – o dobro de hoje. E girou em torno também da importância da transgenia para a Medicina.

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Há dois anos, a Comissão Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão que disciplina as atividades de biotecnologia no Brasil, autorizou a comercialização da soja Roundup Ready no país. A decisão nunca teve valor por determinação da Justiça, que concedeu liminar à ação civil impetrada pelo Idec. Plantas transgênicas, por enquanto, só nas áreas experimentais liberadas para 120 instituições. A batalha nas ruas e nos tribunais tende a levar cientistas, a indústria e os governos a caminhar com mais cautela na trilha dos OGMs. Mas não dá para deixar de admitir: qualquer que venha a ser o acordo futuro sobre a questão, nossa vida jamais será a mesma depois do surgimento daquelas três letrinhas.

jmorais@abril.com.br

Para saber mais

Na Internet:

https://www.agbioworld.org

https://www.monsanto.com

https://www.greenpeace.org

https://www.rmi.org/biotechnology/twobotanies.html

https://www.idec.org.br

O nascimento de um transgênico

A criação em laboratório do arroz dourado teve quatro etapas ao longo de sete anos

1. A busca dos genes

Os cientistas identificam na erva narciso e na bactéria erwinia os genes responsáveis pela produção de betacaroteno, o nutriente que serve como construtor da vitamina A. Com o auxílio de enzimas, eles são isolados.

2. O intermediário

Os genes, junto com os segmentos do DNA responsáveis por sua ativação, são inseridos em plasmídeos, moléculas de DNA com capacidade de duplicação autônoma existentes no interior das agrobactérias conhecidas como Agrobacterium tumefaciens.

3. O transplante

Embriões de arroz comum, colocados em dois recipientes, são infectados pelas agrobactérias. No processo, assimilam os genes portadores da instrução para produzir betacaroteno.

4. A seleção

Como no processo convencional de melhoramento genético, as primeiras plantas do arroz transgênico são submetidas a cruzamentos entre indivíduos da mesma espécie, permitindo a seleção daquelas que apresentam padrões desejáveis. São as sementes destas que irão germinar nos campos de culturas geneticamente modificadas.

Futuro alterado geneticamente

A engenharia genética já deu à luz seis culturas transgênicas. Mas os cientistas preparam a modificação de outras 4 500 espécies

A engenharia genética é, antes de tudo, rápida. Rapidíssima. Estima-se que haja 350 000 espécies vegetais na Terra. Cerca de 1 500 delas são usadas como alimento pelo homem. Em duas décadas de experiências, os cientistas já conseguiram alterar geneticamente mais de uma centena de espécies – quase 10% do conjunto de plantas comestíveis.

Apesar disso, somente quatro vegetais transgênicos já chegaram às prateleiras dos supermercados e, por conseguinte, à mesa do consumidor. São eles: soja, milho, canola e mamão papaia. O quinto alimento modificado, o arroz dourado concebido por Ingo Potrykus, é cultivado apenas em campos experimentais, nos Alpes suíços. O próximo item na lista de produção comercial de OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) é o algodão.

Certamente você já consumiu algum dos alimentos citados, ainda que sem saber. Eles são empregados na fabricação de gêneros industrializados em 12 países, e, no Brasil, pelo menos um deles – a soja Roundup Ready, da empresa americana Monsanto – foi detectada em 11 produtos vendidos em supermercados. A lista inclui importados, como os salgadinhos BacOs, o macarrão instantâneo Cup Noodles e a bebida ProSobee. E os brasileiros: Cereal Shake Diet, Creme de Milho Knorr, salsichas Swift tipo Viena, leites Supra Soy Integral, Nestogeno com soja, Soy Milke, salgados Pringles Original e McCormick Bacon Pieces. Por falta de normas oficiais, até outubro todos eram comercializados sem exibir no rótulo a informação de que contêm ingredientes transgênicos, uma das bandeiras das campanhas de grupos como o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e o Greenpeace.

Aparentemente, teremos que conviver cada vez mais com os transgênicos. Cientistas americanos estudam 4 500 espécies vegetais com o objetivo de transformá-las geneticamente. A indústria biotecnológica americana já obteve licença do FDA, órgão que controla a fabricação de alimentos e remédios nos Estados Unidos, para produzir outros 50 tipos de alimentos geneticamente modificados. Quem viver verá.

O barato que custa caro

Milhões de dólares são investidos na produção tecnológica de alimentos. Mas o que custa os olhos da cara são os vegetais que crescem só com sol e chuva

Enquanto cientistas trocam genes de lugar, uma corrente de produtores agrícolas e de consumidores faz questão de seguir na contramão da tecnologia. Seu negócio: plantar e colher, de um lado, e comprar e consumir, de outro, alimentos produzidos da forma mais natural possível, sem fertilizantes químicos, agrotóxicos e, muito menos, modificações genéticas. A única concessão é o adubo orgânico, como esterco e restos de vegetais. Nessa direção estão indo algumas empresas de porte, como o Carrefour, dono de duas fazendas de uva orgânica no vale do Rio São Francisco, na Bahia.

Não é por acaso que a agricultura orgânica está em alta na Europa, foco da grande resistência aos transgênicos. No Brasil, frutas, legumes e verduras cultivados dessa forma conquistam uma parcela crescente de consumidores e já têm lugar reservado nas grandes redes de supermercados. Bem, eles parecem feinhos, às vezes exibem furos feitos por insetos, mas quem os consome afirma que vale a pena. “São saborosos e muito mais saudáveis”, diz a webdesigner paulistana Angela Cristina Bermejo.

O gosto amargo desses alimentos está no preço. Segundo a Associação de Agricultura Orgânica, sediada em Piracicaba, no Estado de São Paulo, eles podem custar de duas a dez vezes mais que os similares produzidos à base de tecnologia. Mesmo assim, a pequena produção orgânica brasileira não alcança a demanda – na verdade, quase tudo é exportado para a Europa e os Estados Unidos. “Interessante é ver que os estrangeiros, que inventaram os transgênicos, na hora de comer preferem os orgânicos”, ironiza Ricardo Cerveira, agrônomo da Associação de Agricultura Orgânica.

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