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Como funcionam os diferentes testes de coronavírus?

RT-PCR, testes de anticorpos e testes rápidos: entenda a ciência por trás de cada método utilizado para detectar os infectados pela Covid-19.

Por Bruno Carbinatto
24 abr 2020, 19h29

“Temos uma simples mensagem: testem, testem, testem.” Foi essa a recomendação mais enfática da Organização Mundial da Saúde (OMS) para os países que estão lidando com a pandemia de covid-19. E a maioria dos especialistas concorda: testar grandes parcelas da população para a doença gera dados mais precisos sobre a pandemia e permite rastrear melhor a cadeia de transmissão, de maneira a isolar os infectados (incluindo, é claro, as pessoas assintomáticas, que não saberiam que estão com o coronavírus de outra maneira).

Na prática, não é tão fácil assim. Realizar os testes exige dinheiro, matéria-prima e um esquema logístico complexo, e muitos países simplesmente não possuem infraestrutura suficiente para testar sua população de forma massiva. Aqueles que conseguem têm tido resultados considerados positivos – é o caso da Alemanha, Islândia, Coreia do Sul, Cingapura e Taiwan, por exemplo. 

No começo da pandemia, o cenário era ainda mais complicado, porque só havia um método conhecido para identificar a doença. Agora, diversos laboratórios e empresas privadas já desenvolveram tecnologias baseadas em diferentes métodos, oferecendo alternativas geralmente mais viáveis, mas que também tem seus contras.

Antes de conhecer os diferentes métodos utilizados, primeiro temos que entender o ponto de partida de todos os tipos de teste: a coleta de amostras. A maioria dos testes é feito com secreções do paciente extraídas das vias respiratórias superiores, isto é, da boca ou do nariz, já que essas são as portas de entrada do vírus no corpo – e os locais onde ele se mantém presente em maiores quantidades.

Os profissionais de saúde raspam com um cotonete o fundo da boca ou do nariz do paciente e reservam aquela amostra de meleca. Alguns outros testes, principalmente os de anticorpos, utilizam amostras de sangue do paciente – em certos casos, basta uma picadinha no dedo.

Muitos países estão adotando o modelo drive thru para essa coleta de amostas, em que o possível infectado nem precisa sair do carro. Isso evita aglomerações em hospitais e contato físico entre pessoas possivelmente doentes. Depois de coletada, as amostras passam por diferentes procedimentos. Entenda a ciência por trás de cada um:

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RT-PCR

É o método mais tradicional e foi o primeiro a ser utilizado, ainda no começo da pandemia. É feito em laboratório, e por isso tem a desvantagem de demorar – 24 horas ou mais, dependendo de como o processo é feito. Em compensação, tem uma alta taxa de acerto – ultrapassa os 90%, dependendo do estágio da doença. O RT-PCR raramente dá falsos positivos ou negativos.

A sigla, em inglês, significa “transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase”, e ela descreve o processo. Traduzindo em termos mais acessíveis: o teste procura pelo material genético do vírus nas células do paciente; no caso do Sars-CoV-2, estamos falando de uma fita única de RNA (entenda melhor o que é RNA aqui). Acontece que essa fita é muito pequena para ser facilmente detectada em sua forma original, então a tecnologia primeiro precisa amplificá-la para ser melhor lida. Para isso, entra em jogo a transcriptase reversa, uma enzima que consegue transformar o RNA viral em uma molécula de fita dupla de DNA.

Depois desse primeiro processo, essa fita de DNA então é replicada diversas vezes, através de uma reação chamada reação em cadeia da polimerase. Em resumo, para que isso aconteça, é preciso submeter as amostras a ciclos de aquecimento e resfriamento diversas vezes – por isso, o teste demora horas para ser concluído. No fim desse processo, uma única cópia da fita de DNA viral se transforma em milhões de cópias – muito mais fáceis de analisar do que aquela solitária molécula inicial. 

Uma máquina então consegue “ler” a sequência genética, procurando por genes específicos do SARS-CoV-2 (qual gene, exatamente, depende do protocolo utilizado). Se esse gene for detectado, significa que sim, o vírus está presente naquele paciente, e o resultado é positivo. Se estiver ausente, o resultado é negativo. 

Vale ressaltar que a taxa de falsos negativos (quando o paciente está com vírus e o teste diz que não) é maior do que a de falsos positivos, já que é possível que o vírus simplesmente não seja coletado na amostra, mas é muito difícil que um gene viral seja apontado pelo teste se ele não estiver ali.

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Testes de anticorpo ou sorologia

Uma outra estratégia possível, que está ganhando mais força ultimamente, é utilizar os chamados testes de anticorpos, também chamados de sorologia. Neste caso, procura-se não pelo vírus nas amostras do paciente, mas sim pela resposta do corpo contra ele. Funciona assim: quando uma pessoa é infectada pelo coronavírus, seu sistema imunológico geralmente começa a produzir anticorpos – substâncias capazes de se ligar ao patógeno e neutralizá-lo. Os anticorpos são específicos para cada invasor, tendo um formato único capaz de se ligar e neutralizar apenas aquele ser.

Os testes de anticorpos buscam, então, essas substâncias específicas nas amostras de sangue – ninguém que não tenha tido o coronavírus vai ter esses anticorpos. Existem dois tipos de testes: os que procuram o anticorpo do tipo IgM, que são os primeiros a serem produzidos por nosso corpo, e os do tipo IgG, que só ficam presentes no nosso corpo depois que a infecção já foi curada e a pessoa está agora protegida contra o vírus. Se eles forem encontrados, dá para saber que aquela pessoa tem ou teve o vírus, e que seu corpo reagiu a ele.

O problema é que a produção de anticorpos não é algo rápido, e pode levar dias. Por isso, os testes do tipo IgM funcionam melhor só depois de uma semana do começo dos sintomas, mais ou menos. Os do tipo IgC, duas semanas ou mais. E mesmo nesses períodos, os testes de anticorpo podem ter taxas de erro significativas.

Eles têm uma vantagem, porém: conseguem dizer quem, teoricamente, já está imune ao vírus. Por isso, este tipo de teste é visto por alguns como uma esperança para tirar o mundo da quarentena generalizada aos poucos. Explicamos mais essa ideia – e porque ela é perigosa e falha – neste texto da SUPER.

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Testes rápidos

Por fim, os testes rápidos não são exatamente um tipo de teste diferente, mas na verdade um conjunto de tecnologias que têm algo em comum: conseguem dar resultados muito mais rapidamente do que os outros, porque não precisam ir para laboratórios. Esses testes rápidos são bem novos: a maioria foi desenvolvida em plena pandemia e ainda não passou por rigorosos testes de eficácia de agências reguladoras, já que a situação é excepcional. Por isso, não dá para garantir muito bem a eficácia de todos.

Como dito, testes rápidos utilizam várias tecnologias diferentes: alguns procuram pelo material genético do vírus, como uma versão mais simples do RT-PCR; outros tentam detectar as proteínas virais; e alguns também seguem a lógica dos anticorpos, procurando pela nossa resposta imunológica.

Uma técnica em específico usada em testes rápidos vem chamando atenção por parecer especialmente promissora: a amplificação isotérmica de material genético. É bem parecida com a RT-PCR, pois segue a mesma lógica de ampliar o material genético do vírus para poder ser lido. A diferença é que o processo, como diz o nome, é isotérmica, ou seja, não passa pelos diversos ciclos de variação temperatura da PCR. Ao invés disso, utiliza uma enzima chamada NEAR para rapidamente replicar o DNA viral em milhões de cópias em questão de dezenas de minutos – ou até menos. 

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