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Como o avião de isopor desta menina voou mais de 240 km

Do País de Gales até Leicester, região central da Inglaterra. Só com uma ajudinha do vento

Por Guilherme Eler
12 Maio 2017, 17h18

A aventura começa no alto da Menai Bridge, ponte localizada na cidade de Angseley, no País de Gales. De lá, a pequena Tamara, de 5 anos, lançou o aviãozinho que ganhou da mãe para um experimento inocente. O planador, feito de isopor, media pouco mais de 53 cm, e levava anotado o nome da menina e o endereço de sua família. Tudo para que, no caso do brinquedo ser encontrado, a dona pudesse receber notícias do avião – e soubesse até onde ele voou.

Essa poderia ter sido apenas mais uma história do surgimento de uma pequena futura engenheira aeronáutica, não fosse o fato de a brincadeira ter ido muito mais longe do que se esperava. Decolando de Angseley no fim de março, o avião de Tamara chegou até Leicester, região central da Inglaterra – a cerca de 240 km da cidade galesa.

A mulher que encontrou o planador seguiu as instruções que encontrou no corpo do brinquedo e entrou em contato com a família por meio de um cartão postal. Identificando-se apenas como “Kathy”, ela disse ter encontrado o planador em uma árvore do Bradgate Park, parque público da região norte de Leicester.

Passada a surpresa, fica a questão: como é possível que isso realmente tenha acontecido? Seria mesmo um aviãozinho de isopor capaz de cumprir uma viagem que, se feita de carro, levaria pelo menos 3h30? A ciência aposta que sim.

A geografia favorável do local pode ter impulsionado o veículo de isopor, defende Robert Kerr, especialista da Universidade de Warwick, no Reino Unido. Com condições adequadas de vento na hora do lançamento, sua propulsão pode ter sido dinamizada pela brisa gelada do Mar da Irlanda, que fica à oeste do País de Gales, explicou, em entrevista ao jornal britânico Telegraph.

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Rogério Fraendorf Coimbra, da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), e Fernando Catalano, da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP), concordam que a viagem pode, sim, ter sido um sucesso graças a condições climáticas e aerodinâmicas favoráveis.

De acordo com Catalano, o aviãozinho pode ter sido agraciado ao longo de sua trajetória por correntes de ar descendente – que proporcionam ganho de altitude. Esse tipo de corrente se forma com o aquecimento de grandes volumes de ar, que sobem por convecção para alturas maiores até as temperaturas se equilibrarem – o aviãozinho sobe junto com o ar.

A técnica é a mesma utilizada por pássaros planadores, como o urubu, mestres na arte de voar sem bater as asas. “Note que um urubu é muito mais pesado do que o aviãozinho da menina. Então o efeito dessas correntes pode ter sido bem efetivo nesse caso”, explica. Depois de ter adquirido altitude, o brinquedo foi ajudado por uma corrente de vento horizontal para percorrer 240 km.

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O fato é que não dá para duvidar dos planadores. Por mais leves e frágeis que pareçam, eles têm a capacidade de surfar nas ondas de ar como ninguém. Basta que estejam bem construídos e equilibrados – e que sejam colocados para voar por alguém com uma boa dose de sorte.

“Eu mesmo, quando jovem, lancei um planador de balsa (madeira especial para aviação) e nunca mais o recuperei. Sumiu no horizonte e com certeza voou vários quilômetros”, conta Catalano.

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