Como os zoológicos protegem seus animais durante furacões?
Eles não podem ser evacuados facilmente, mas há alternativas. Veja.
Na semana passada, o furacão Milton atingiu o estado americano da Flórida, e deixou um caminho de destruição por onde passou. Mais de 30 condados foram evacuados, fazendo com que cidades ficassem desertas temporariamente. Mas existem alguns moradores que não podem ser evacuados facilmente: os animais de zoológicos e aquários.
Desde mamíferos enormes, como rinocerontes e gorilas, até os peixinhos mais minúsculos precisam ser protegidos em caso de tempestades. Um furacão como o Milton, com ventos extremamente fortes, chuva torrencial e possibilidade de enchentes pode ser fatal para esse bichos. Por isso há algumas medidas que devem ser tomadas em caso de alertas e ameaças.
Por exemplo: os trabalhadores do ZooTampa, zoológico da cidade de Tampa, correram para proteger seus mais de 1.000 animais. O zoológico implementou um rigoroso plano de contingência para assegurar a segurança tanto de suas espécies quanto dos membros da equipe. A metrópole foi uma das mais atingidas no estado.
Sandra Torres, vice-presidente de marketing e comunicações do ZooTampa, explicou que os animais maiores, como elefantes e girafas, são acomodados em abrigos resistentes a furacões, enquanto aves e mamíferos menores são transferidos para canis e outras instalações seguras. “O transporte pode ser estressante para os animais, mas estamos monitorando seu comportamento para garantir que eles estejam se adaptando bem”, disse Torres ao The Independent.
Durante a passagem do furacão, uma equipe de 12 pessoas, incluindo veterinários e profissionais de manutenção, ficou responsável por cuidar dos animais e avaliar a situação após a tempestade. Essa equipe é vital, especialmente considerando que muitas das espécies sob cuidado são ameaçadas ou em extinção.
Além das medidas do ZooTampa, o Aquário da Flórida também se preparou para o Milton, deslocando seus animais para andares superiores e reforçando a segurança de suas instalações. O estabelecimento registrou a transferência de nove pinguins, algumas medusas-da-lua, seis cobras, três lagartos, três tartarugas, dois sapos, dois jacarés e um caranguejo-eremita de seus locais de exposição comuns para uma parte mais elevada do prédio.
Durante o recente furacão Helene, que passou poucas semanas antes do Milton, o aquário sofreu inundações significativas, levando a equipe a revisitar seus protocolos de segurança. Agora, o aquário evacua funcionários e transfere a maioria dos corais para estabelecimentos seguros.
Com as mudanças climáticas contribuindo para a intensificação de tempestades, zoológicos e aquários em todo os Estados Unidos revisam e atualizam seus planos de emergência anualmente. A necessidade veio depois de 2005, quando o furacão Katrina devastou o país. Além das mortes humanas, o número de perda de animais também foi exorbitante.
O Aquário Audubon das Américas, em Nova Orleans (um dos estados mais afetados pela tempestade na época), por exemplo, registrou a morte de quase todos os seus animais – cerca de 10 mil vidas marinhas, representando mais de 530 espécies – quando a energia acabou e os geradores extras não funcionaram na passagem do Katrina.
Esse evento levou à promulgação da Lei de Bem-Estar Animal de 2006, que exige que zoológicos e aquários mantenham planos de segurança atualizados. Hoje, muitos desses estabelecimentos já possuem abrigos resistentes em seus locais, projetados para proteger os animais durante tempestades severas.
Para obter credenciamento da Associação Nacional de Zoológicos e Aquários (AZA, na sigla em inglês), as instalações devem realizar ao menos quatro simulações de emergência anualmente, focando nos eventos climáticos extremos mais relevantes para sua região, como incêndios, tornados, furacões, inundações ou outros fenômenos. Além disso, as instituições podem ser certificadas como “StormReady” (do inglês, ‘prontas para tempestades’), pelo Instituto Nacional de Meteorologia.
Treinamentos também são realizados frequentemente para preparar tanto os cuidadores quanto os animais. No Zoológico de Palm Beach, por exemplo, os tratadores ensinam flamingos e jacarés a se deslocarem para áreas seguras. Essa preparação contínua busca transformar o processo em uma atividade familiar e tranquila para os animais.
O método funciona igualmente ao adestramento de um cachorro: com repetições. Por exemplo, se você quer que seu cachorrinho te ‘dê a patinha’, é necessário que o comando seja repetido várias vezes, com um sistema de recompensa, para que ele aprenda. Eventualmente, os animais começam a fazer a associação sozinhos.
Assim, o zoológico ensinou uma dupla de jacarés a entrarem em suas áreas seguras, bugios a trancarem suas caixas de transporte e uma pantera a reconhecer o som de emergência que indicava que ela precisava se dirigir ao seu recinto.
Mike Terrell, curador de experiências com animais do zoológico, explica à BBC que com esses treinamentos, é possível garantir que quando os momentos de evacuação cheguem para valer, os animais não se sintam tão estressados ou se coloquem em risco. Além de facilitar o toque de recolher, claro.
Hoje em dia, a maioria dos zoológicos e aquários possuem espaços resistentes a furacões, como bunkers. Mas, em casos em que esses lugares não estejam disponíveis, são usadas infraestruturas de seres humanos.
“Utilizamos corredores, banheiros, escritórios e tudo mais que conseguimos para manter [os animais] seguros dentro dos mesmos prédios”, relata Tiffany Burns, curadora do zoológico de Tampa à BBC.
Um caso notório ocorreu em 1992, quando a equipe do Zoológico de Miami abrigou flamingos em um banheiro durante o furacão Andrew. “Eu me lembro de pegar esses flamingos, sabe, foi uma coisa doida, pegá-los e colocá-los no banheiro”, disse Magill, trabalhador do zoológico responsável pela foto do momento, à Fox Weather.
Adicionalmente, as instalações mantêm parcerias com outras organizações para facilitar a evacuação de animais, caso necessário. A ZDR3, uma rede de mais de 175 instituições, desempenha um papel crucial na assistência durante crises, permitindo um esforço colaborativo para o resgate e a recuperação.
Após a passagem da tempestade, os trabalhadores dos estabelecimentos direcionam sua atenção a amparar as celas, águas e espaços em que os animais habitam, retirando a sujeira das piscinas, limpando árvores caídas e reparando cercas quebradas.