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Construções romanas são ‘invisíveis’ a terremotos, diz estudo

O formato delas funciona como uma "capa da invisibilidade", que as protege quando ondas sísmicas destruidoras se propagam pelo chão

Por A. J. Oliveira
3 jun 2019, 18h05

Ao visitar Roma e contemplar o Coliseu, é impossível não se perguntar como uma estrutura daquele porte conseguiu resistir em pé por tanto tempo. Seria exagero dizer que as paredes estão impecáveis. Mas boa parte da construção monumental permanece em um estado de conservação impressionante — ainda mais levando em conta que é do ano 80 da era cristã. Como ela não sucumbiu à implacável ação do tempo e dos terremotos por dois milênios?

Pesquisadores do sul da França acreditam ter encontrado a resposta. De acordo com um artigo recém-publicado, o Coliseu é assim tão resistente graças à sua arquitetura. Os cientistas suspeitam que o formato com o qual foi construído funcione como uma “capa da invisibilidade”, capaz de desviar as ondas destrutivas que se propagam pelo chão após um terremoto. E essa habilidade não se limita só ao Coliseu.

Anfiteatros bem preservados são relativamente fáceis de se achar ao longo dos territórios que pertenciam ao Império Romano, nas margens do Mar Mediterrâneo. Vale lembrar que esse pedaço da crosta terrestre é um tanto caótico, com muitos vulcões ativos e intensa atividade sísmica, por ser uma zona de encontro de placas tectônicas. Isso torna ainda mais incrível o fato de as antigas arenas terem resistido até hoje — e, até então, um mistério.

Mas, afinal, o que seria uma capa da invisibilidade sísmica? O conceito foi formulado pelo físico Stéphane Brûlé e seus colegas de departamento da Universidade Aix-Marseille. Em poucas palavras, eles descobriram que a maneira como as ondas sísmicas se propagam pela terra é bem mais dinâmica do que parece. Certas estruturas, tanto na superfície quanto no subsolo, podem interagir com as ondas e modificá-las. Certos tipos de construção fazem com que essas ondulações sofram um desvio ao redor da área interna, protegendo-a dos impactos. E, segundo os pesquisadores, o formato se assemelha bastante ao dos anfiteatros romanos.

Estudos sobre “capas da invisibilidade” (esse conceito também serve para outros tipos de onda, como as eletromagnéticas) têm alcançado resultados interessantes nas últimas duas décadas. Em 2006, físicos arranjaram ressonadores de metal em um padrão que desvia as micro-ondas, impedindo que elas passem pela região do meio. Se alguém de fora olhasse para aquele lugar -com olhos capazes de enxergar micro-ondas- não veria nada. Foi assim que a capa da invisibilidade deixou de ser um objeto fantástico do universo de Harry Potter e se tornou um tema real de pesquisas acadêmicas. Cientistas têm explorado bastante o conceito.

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O grupo de Stéphane Brûlé adaptou esse conceito para as ondas sísmicas, e começou a estudá-lo em 2012. Eles sugeriram, construíram e testaram uma capa para proteger usinas elétricas e barragens contra terremotos. Uma das ideias em que o grupo tem trabalhado envolve o efeito de terremotos sobre arranha-céus.

As ondas sísmicas fazem o prédio vibrar e mandar suas próprias ondas de volta ao solo. Mas, dependendo da configuração, essas ondas podem se anular, amenizando os impactos. Os cientistas desenvolveram um modelo que simula um círculo de arranha-céus e uma área no centro, como um parque. Os prédios atuariam como uma espécie de barreira protetora, fazendo com que as pessoas no meio não sentissem o terremoto. Parece que, mesmo sem saber, os romanos construíram seus anfiteatros como capas da invisibilidade sísmicas. Gladiadores poderiam morrer de mil formas — menos por causa de um terremoto.

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