Contraceptivo masculino não-hormonal pode durar até dois anos, segundo testes
É o segundo anúncio de um produto do tipo no mês de abril, mas os testes ainda devem levar anos antes que os produtos sejam liberados

Não faltam opções para quem deseja evitar e prevenir gravidez – anticoncepcionais orais ou injetáveis, implantes, DIUs, e outros tantos – mas a imensa maioria fica sob responsabilidade única das mulheres.
Para as pessoas do sexo masculino que não desejem engravidar ninguém, sobra o uso de preservativo e a vasectomia, um procedimento cirúrgico que nem sempre é reversível.
Os estudos de anticoncepcionais masculinos geralmente esbarram nos efeitos colaterais das medicações hormonais – efeitos com que as mulheres já sofrem, diga-se de passagem. Por isso, novos estudos buscam formas não-hormonais de reduzir a fertilidade masculina.
Mais cedo neste mês, a empresa norte-americana YourChoice Therapeutics anunciou o sucesso da primeira fase dos testes clínicos de uma medicação sem hormônios capaz de impedir a produção de espermatozoides, chamada YCT-529.
Agora, uma empresa australiana, Contraline, anuncia um feito semelhante. A empresa desenvolve um anticoncepcional chamado ADAM, que não é uma pílula, mas um gel implantado nos dutos que transportam os espermatozoides.
É um princípio parecido com o da vasectomia, que, com um corte nos canais deferentes, impede o transporte das células reprodutivas até o esperma. No caso do ADAM, os canais não são cortados, mas obstruídos com um hidrogel biocompatível. O procedimento ocorre com anestesia local e leva menos de dez minutos.
Passadas as fases de testes in vitro e em animais, a empresa começou os testes clínicos em voluntários australianos em 2023. Agora, eles comemoram a marca de 24 meses de eficácia – os dois primeiros voluntários estão há dois anos em condição de azoospermia, ou seja: sem espermatozoides na ejaculação.
O estudo tem outros 23 voluntários que estão sob efeito do implante há menos tempo. Segundo a empresa, os únicos efeitos colaterais relatados foram semelhantes aos de uma vasectomia, como dor, inchaço e desconforto temporários no escroto. A diferença é que o ADAM é completamente reversível, já que o hidrogel foi projetado para se dissolver com o tempo.
“Continuamos otimistas quanto à segurança, eficácia e reversibilidade [da ADAM] e quanto ao seu potencial de proporcionar aos homens e casais maior controle reprodutivo”, disse Alexander Pastuszak, diretor médico da Contraline, em comunicado.
Os resultados do ensaio clínico do Adam ainda não foram publicados em um periódico revisado por pares e não incluem dados sobre a reversibilidade do implante. Segundo a empresa, os dados devem ser apresentados no encontro da Associação Americana de Urologia no dia 26 de abril deste ano.
Com a segurança do produto assegurada, a empresa recebeu aprovação das autoridades regulatórias australianas para iniciar estudos de fase 2, em que receberá mais voluntários e poderá testar diferentes dosagens e métodos. Se a fase 2 for bem, o estudo ainda precisará passar por mais uma fase de testes antes de solicitar a aprovação pelas autoridades regulatórias, como a Anvisa no Brasil e a FDA nos EUA.
Não é o primeiro primeiro contraceptivo masculino em desenvolvimento que age bloqueando os canais deferentes, mas nem todos são feitos de materiais que se decompõem no corpo.