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Depósitos de metano no Ártico podem estar liberando o gás na atmosfera

A liberação, se for confirmada, é uma má notícia: a longo prazo, esse gás pode piorar o aquecimento global. Entenda.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 28 out 2020, 17h00 - Publicado em 28 out 2020, 16h55

No Ártico há grandes depósitos de metano, conhecidos como “gigantes adormecidos do ciclo de carbono”, que são um motivo de preocupação: se o aquecimento global derreter parte do gelo da região, e esse gás for liberado na atmosfera, ele poderá colaborar para elevar ainda mais as temperaturas no planeta. E isso pode ter começado. Pesquisadores à bordo do Akademik Keldysh, navio de pesquisa científica russo, relataram ao jornal britânico The Guardian ter visto o gás sendo liberado na atmosfera. Eles ressaltam que a descoberta é preliminar e só será confirmada após análise dos dados e publicação do artigo em revista científica com revisão por pares. Mas, se a liberação de metano for comprovada, pode representar uma intensificação a longo prazo do efeito estufa. 

Os sedimentos das encostas do Ártico guardam hidratos de metano (água e metano em estado sólido), que podem se desintegrar e se transformar em metano gasoso. A desestabilização desses hidratos já foi considerada pelo Serviço Geológico dos EUA como um dos quatro cenários mais prejudiciais para as mudanças climáticas. O metano é um problema porque, na atmosfera, ele retém mais calor do que o dióxido de carbono.

O CO2, por sua vez, é liberado, principalmente, por automóveis e indústrias. Atualmente, muitos países estão buscando a neutralidade das emissões desse gás, como forma de cumprir o Acordo de Paris. O Japão, por exemplo, prometeu, nesta segunda-feira (26), zerar ou compensar todas as suas emissões do poluente até 2050. Mas o metano também deve ser levado em conta. 

Altas concentrações desse gás foram medidas na encosta do Mar de Laptev, próximo da Rússia, a cerca de 350 metros de profundidade. Além desse ponto, os cientistas observaram outros cinco lugares em que bolhas de metano estavam sendo liberadas. O nível do gás na superfície destes locais era quatro a oito vezes maior do que o esperado. A maioria das bolhas se dissolvia na água, mas parte delas estava sendo liberada na atmosfera. 

Essa liberação parece estar ocorrendo devido ao aquecimento da região, que tem recebido correntes marítimas quentes do Atlântico Ártico oriental. A chegada dessas correntes, por sua vez, é impulsionada pelas mudanças climáticas resultantes da ação do homem. O próprio Mar de Laptev, por exemplo, sofreu degelo mais cedo que o normal no verão deste ano e, até agora, não conseguiu se congelar novamente para o inverno. A tendência é que, no verão de 2035, não haja camadas de gelo na região.

Quanto à liberação de gás dos depósitos de metano, os cientistas explicam que, mesmo que seja comprovada, não resultará em efeitos negativos imediatos. Por outro lado, uma fonte recém aberta de gás poluente no ambiente pode representar problemas a longo prazo difíceis de serem revertidos, como a aceleração do aquecimento global. 

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