Distrações impedem de memorizar muita coisa – mas nem tudo
Seu cérebro dá um jeito de gravar aquilo que é realmente importante, ainda que você esteja atolado no multitasking
A não ser que você faça parte dos seletos 2% de humanos que de fato conseguem realizar várias tarefas de uma vez, a opção pelo chamado multitasking só vai roubar seu tempo. Escolher ler um livro, enquanto se escuta música e navega na internet, fará com que você acompanhe cada coisa apenas superficialmente. Até dá para manter tudo junto, mas será impossível lembrar dos detalhes da história ou decorar a letra da canção, por exemplo.
A boa notícia é que seu cérebro está do seu lado, trabalhando para não lhe deixar esquecer do que realmente importa. Embora grande parte do conteúdo se perca, informações essenciais permanecem gravadas – ainda que você divida sua atenção entre cada uma das atividades. Por conta disso, algo que você realmente precise guardar dificilmente vai passar batido por sua central de comando.
Cientistas norte-americanos confirmaram essa habilidade em um experimento com 192 alunos da Universidade da Califórnia. A tarefa dos voluntários era simples: decorar 120 palavras, divididas em seis grupos de 20. Cada uma delas aparecia na tela por apenas 3 segundos, sempre junto de um número entre 1 e 10.
As cobaias foram avisadas de que essa numeração representava o grau de importância de cada palavra. Quando mais próxima de 10, mais pontos ela valia. A pontuação final dos estudantes seria a soma correspondente às palavras que eles decoraram. Até aqui, tudo na paz.
Depois de entenderem o jogo, as cobaias se dividiram em quatro grupos. O primeiro ficou totalmente focado no desafio, livre de distrações. Mas os pesquisadores prepararam algumas situações para pentelhar os grupos restantes – pelo bem da ciência, é claro.
Enquanto as pessoas do segundo grupo tentavam decorar suas palavras, por exemplo, havia de pano de fundo um áudio de uma voz humana lendo números. Não bastasse o incômodo sonoro, eles receberam a tarefa de apertar a barra de espaço do computador toda vez que ouvissem três números consecutivos que fossem estranhos à sequência passada de antemão.
Os outros dois times deram mais sorte, e foram atrapalhados apenas com música. O terceiro grupo ouviu hits conhecidos de artistas pop norte-americanos, como “Roar”, de Katy Perry. Já o último grupo ficou com músicas pop mais desconhecidas, que nunca haviam escutado antes.
De 20 em 20 palavras, os candidatos recebiam sua pontuação. Quem não foi atrapalhado, ou estava apenas ouvindo música, obviamente se dava melhor: decorava, em média, 8 palavras. Quem teve de dividir seu foco com a outra tarefa, porém, não teve tanto sucesso, se lembrando de apenas 5. Um aproveitamento total de 40% versus 25%.
Mas o que valia mesmo, afinal, era a disputa intelectual por pontos de quem tinha a melhor memória. Nesse quesito, pode-se dizer que ninguém fez tão feio assim. Isso porque os participantes de todos os grupos (mesmo os incomodados) se mostraram 5 vezes mais propensos a decorar palavras que valiam 10 pontos, em comparação àquelas que somavam apenas 1 ponto. Ou seja: estavam cientes de sua missão, e deram seu jeito de coletar o máximo de pontos que conseguiram – ainda que estivessem contra tudo e contra todos.
Para os cientistas, isso é um sinal de que aquilo que realmente é essencial deixa sempre sua marca em nossa memória.“Todo mundo priorizou conscientemente as palavras que valiam mais, direcionando seu foco a elas”, explicou Catherine Middlebrooks, que liderou a pesquisa. “Eles entenderam que precisavam se lembrar daquilo que realmente importava, mesmo se algo estivesse tentando sugar sua atenção”, completa. O estudo foi publicado no jornal Psychological Science.