E se o cão não fosse o melhor amigo do homem?
Da filosofia à viagem do homem à Lua, muita coisa seria diferente. E teríamos que nos contentar com o gato, que nem assim seria nosso melhor amigo
É provável que os gatos fossem os bichos mais populares entre os humanos. Mas eles não substituiriam cachorros, pois não preenchem as mesmas funções sociais dos cães. Gatos respondem com mais dificuldade a gestos de comunicação, não percebem alterações de humor e, como todo dono de gato sabe, não são facilmente adestráveis. Enquanto isso, os cães viveriam a vida louca da selva. Na verdade, eles seriam lobos, já que os cachorros como conhecemos, dos vira-latas aos pugs sem focinho, só foram possíveis graças ao convívio com o homem.
Tudo começou 15 mil anos atrás, quando descobrimos que poderíamos plantar alimentos em vez de vagar pelo mundo em busca de comida. Lobos viram nos nossos dejetos uma oportunidade, mas se assustavam com a presença humana e fugiam. Os que tinham mais fome e menos medo ficavam – e acabaram desenvolvendo estratégias para ganhar comida desse macaco pelado. Além de ficarem mais fofos e dóceis, passaram a digerir amido, o que não acontecia entre lobos, segundo um estudo da Universidade de Uppsala, na Suécia. E nós também vimos vantagem nesses animais: poderiam ser bons caçadores, condutores de rebanho, companhias fiéis.
Sem essa amizade, a história da civilização poderia ser um pouco diferente. A saída do homem da Terra poderia ter atrasado caso a cadela Laika não estivesse disponível para ser o primeiro ser terráqueo a orbitar o planeta – a simpática cadelinha morreu torrada sete horas depois do lançamento, um sacrifício difícil de pedir a um humano. Cachorros eram os melhores passageiros porque possuem inteligência e disciplina para aguentar o confinamento. Sem eles, os estudos de como seres vivos se comportam no espaço estariam comprometidos. Assim como o cinema. Um pastor alemão salvou um dos maiores estúdios da história da bancarrota. Sem os 26 filmes de sucesso de Rin Tin Tin, a Warner Bros não seria mais do que o sonho de quatro irmãos poloneses querendo dar certo na vida.
Ainda mais importante, nosso conhecimento sobre política, filosofia, arte, literatura, astronomia e física seria muito diferente caso o valente cão Péritas não tivesse salvo Alexandre, o Grande, de ser esmagado por um elefante. No episódio histórico, o cachorro investiu contra o paquiderme durante um ataque na decisiva Batalha de Gaugamela, que deu a Alexandre o título de imperador persa. Assim, Alexandre tornou possível o contato da cultura grega com a romana, criando a cultura helenística, base para grande parte do conhecimento ocidental.
Fontes Daniel Svevo, consultor de comportamento da empresa de adestramento Cão Cidadão; livro 100 Cães que Mudaram a Civilização, de Sam Stall; Pesquisa Euromonitor Internacional; Stanley Coren, professor do Departamento de Psicologia da Universidade da Colúmbia Britânica, Canadá.
Imagem: Getty