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El Niños reforçados ajudaram a extinção do Permiano. Pode acontecer de novo?

No maior evento de extinção em massa da história da Terra, erupções vulcânicas massivas pioraram o efeito estufa e causaram El Niños reforçados. Agora, nós somos o vulcão.

Por Manuela Mourão
15 set 2024, 14h00
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  • Solo seco de um deserto, com grandes fissuras aparentes. Ao fundo há uma árvore.
     (traveler1116 / Getty Images/Reprodução)

    Há cerca de 250 milhões de anos, a Terra enfrentou uma catástrofe natural sem precedentes, que levou à extinção de mais de 80% das espécies marinhas e dois terços das espécies de terra firme.

    Esse evento, que ocorreu na transição do período Permiano para o Triássico – o primeiro período em que houve dinossauros –, é considerado o maior dos cinco eventos de extinção em massa da história da Terra.

    Embora erupções vulcânicas massivas na atual Sibéria sejam frequentemente citadas como o principal fator por trás desse cataclisma, uma nova pesquisa sugere que uma versão pré-histórica do fenômeno climático El Niño pode ter desempenhado um papel crucial também.

    O estudo, liderado pelo geólogo Yadong Sun da Universidade de Geociências da China, usou simulações de computador para recriar as condições atmosféricas e as variações na temperatura da água do mar do final do Permiano. 

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    Nessa época, os continentes atuais estavam unidos em um supercontinente chamado Pangeia, e havia uma vasta diversidade de coníferas (as antepassadas dos atuais pinheiros e araucárias) e de répteis de quatro patas (incluindo os avôs dos dinossauros). Com a extinção, apenas 10% das espécies de vertebrados terrestres sobreviveriam.

    A camada espessa de rochas ígneas na Sibéria indica um período extenso de atividade vulcânica que coincidiu com o limite geológico Permiano-Triássico, há 252 milhões de anos. As erupções vulcânicas liberaram grandes quantidades de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa, aquecendo o clima.

    Essas erupções também podem ter danificado a camada de ozônio e gerado a multiplicação descontrolada de microorganismos nas águas que, inicialmente, aumentaram a concentração de oxigênio nos oceanos, mas depois o consumiram até quase esgotá-lo, agravando ainda mais a crise.

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    A novidade é que o estudo aponta que flutuações climáticas intensas e prolongadas, semelhantes aos eventos contemporâneos de El Niño, poderiam ter desempenhado um papel crucial na extinção em massa. 

    No El Niño atual, acontece um aquecimento atípico das águas na superfície do Pacífico próximo à América do Sul devido a uma diminuição dos ventos alísios nome dos ventos ao longo da linha do Equador que normalmente empurrariam as águas quentes para o oeste, em direção à Ásia. 

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    Esse aquecimento altera os padrões de pressão atmosférica (e, por tabela, os ventos) em todo o planeta, gerando mudanças no clima como aumento das chuvas em algumas regiões da Terra e secas severas em outras.

    As consequências incluem inundações, deslizamentos de terra e variações extremas de temperatura, que afetam a agricopecuária. Entenda mais aqui.

    Falar em um El Niño pré-histórico é uma força de expressão, já que o fenômeno depende da geografia atual do Pacífico, e no Permiano não havia um Pacífico: a disposição da Pangeia na crosta terrestre era completamente diferente do mapa-múndi atual.

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    Mas é fato que já existiam ventos alísios, que eles podiam desacelerar, e que mudanças severas no clima da Terra – como erupções vulcânicas gigantescas e duradouras causando efeito estufa – podiam piorar a intensidade desses Niños do Permiano, tornando-os mais prolongados e severos do que os atuais. 

    Sun explica, “Antes das erupções, os níveis atmosféricos de CO2 eram cerca de 400 partes por milhão (ppm), semelhantes aos níveis atuais. À medida que esses níveis aumentavam, nosso modelo mostrou que começaram a ocorrer eventos profundos de El Niño.”

    A equipe descobriu que esses mega El Niños reforçados por mudanças climáticas provocaram uma série de desastres ambientais, como desflorestamento e destruição de corais, o que reduziu a capacidade de sequestro de carbono dos oceanos e aqueceu ainda mais o clima. 

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    Embora os modelos indiquem a presença dessas oscilações climáticas extremas, mais evidências diretas no registro geológico são necessárias para confirmar completamente essas descobertas.

    O estudo também revela como os eventos de El Niño podem explicar a discrepância entre as extinções terrestres e marinhas, já que a crise terrestre começou milhares de anos antes das extinções marinhas, sugerindo um atraso que pode ser atribuído ao impacto do El Niño.

    Finalmente, o estudo levanta preocupações sobre o futuro, com o aumento dos níveis de gases de efeito estufa hoje potencialmente desencadeando eventos de El Niño extremos semelhantes aos do final do Período Pérmico. Sun adverte: “Tudo o que acontece hoje, aconteceu antes. Só que, desta vez, a humanidade é o vulcão.”

    O estudo foi publicado no periódico Science.

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