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Ele (quase) nasceu psicopata

O neurocientista decidiu escanear o próprio cérebro - e viu nele o mesmo padrão de serial killers.

Por Eduardo Szklarz
Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 4 jan 2011, 22h00

O neurocientista James Fallon, da Universidade da Califórnia, passou anos investigando o cérebro de psicopatas assassinos. Descobriu que eles têm inativa uma região ligada ao comportamento ético e à tomada de decisão. Viu também que possuem genes ligados à violência. Seria uma pesquisa comum, não tivesse Fallon decidido escanear o próprio cérebro – e ver nele o mesmo padrão de serial killers.

Como você descobriu que poderia ser um psicopata?
Durante décadas, estudei cérebros de milhares de pessoas com todo tipo de distúrbio psíquico. Nos anos 90, passei a investigar cérebros de assassinos psicopatas. E vi que todos seguiam o mesmo padrão: um dano no córtex órbito-frontal, região cerebral bem acima dos olhos associada com tomada de decisão e conduta ética. Só depois descobri que eu tinha muito em comum com eles.

Como foi?
Por pura coincidência. Há uns anos, soube de ao menos 6 assassinos na família do meu pai. Um homem foi enforcado em 1673 por matar a mãe, e uma mulher, acusada de matar o pai e a madrasta com um machado em 1892. Fiz então tomografias de meu cérebro e vi que quase não há atividade no meu córtex órbito-frontal. Na mesma época, fiz testes genéticos em minha família para saber o risco de cada um desenvolver Alzheimer. E descobri que também compartilho com psicopatas o “gene guerreiro”, que pode deixar o cérebro da pessoa insensível ao efeito calmante da serotonina.

Você tem, então, dois ingredientes comuns aos “assassinos por natureza”. Como escapou de ser um deles?
É que não tive o terceiro ingrediente: abuso severo na infância, necessário para expressar o gene guerreiro. Minha infância foi muito benevolente e cercada de amor. Após dar à luz meu irmão mais velho, minha mãe teve 4 abortos naturais. Quando cheguei, me trataram como um garoto de ouro. Se tivesse sido tratado normalmente, talvez fosse hoje meio barra-pesada. E, se fosse abusado, creio que não teríamos esta conversa agora.

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Poucos psicopatas são violentos. Muitos são executivos, políticos, médicos, os chamados “psicopatas bem-sucedidos”. Você é um deles?
Alguns psiquiatras me chamam assim. Mas nunca pensei em mim dessa forma. Quando vi toda a análise de meu cérebro e meus genes, pedi a vários colegas que fossem francos comigo e com minha família sobre meu “lado escuro”. Não acho que sou psicopata. Não tenho um charme superficial. Sou honesto e realmente trato bem os demais, do mesmo jeito que trato minha família.

Como você lida com os impulsos agressivos?
Não sou fisicamente agressivo, mas tenho cabeça quente, odeio perder, gosto de jogar e tenho comportamento arriscado. Já expus meus filhos a safáris perigosos entre leões, mergulhos em zonas com tubarões. Mas nunca precisei canalizar isso para a violência física ou ir contra a lei.

Seu exemplo permite concluir que a biologia não é determinante, pelo menos no caso de psicopatas?
Genética e função cerebral são talvez necessários, mas não suficientes. O abuso parece ser crítico para um psicopata violento. Não creio que a biologia seja determinante, apenas coloca a pessoa em alto risco. A interação com o ambiente deve ser levada em conta.

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