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Em laboratório, vermes podem apresentar “larica” similar à humana

No experimento, cientistas mergulharam o C. elegans em uma solução com um canabinoide encontrado naturalmente em vermes e mamíferos.

Por Luisa Costa
24 abr 2023, 16h29

Fumar ou ingerir maconha pode causar um desejo intenso por comida. Mas a “larica” não é exclusiva dos humanos: cientistas descobriram que vermes da espécie Caenorhabditis elegans também ficam com fome quando expostos a um canabinoide.

O estudo sugere que o mecanismo pelo qual a Cannabis sativa afeta o apetite evoluiu há mais de 500 milhões de anos, em um ancestral comum dos C. elegans e dos humanos. Ele também aponta que, dada a semelhança, os vermes poderiam ajudar os cientistas a entender como a planta afeta o sistema nervoso humano.

Vamos primeiro entender a larica. Você tem moléculas chamadas endocanabinoides no seu cérebro. Elas se ligam aos receptores do sistema endocanabinoide, que regula funções importantes no corpo, como sono, memória, ansiedade e apetite.

Acontece que as moléculas de substâncias encontradas na cannabis (canabinoides), como o composto psicoativo tetrahidrocanabinol (THC), têm estrutura semelhante à dos endocanabinoides produzidos naturalmente pelo nosso organismo e podem se ligar aos mesmos receptores. Essencialmente, é assim que a cannabis exerce seu efeito no corpo humano.

Pesquisas anteriores mostraram que os canabinoides causam “alimentação hedônica” – ou seja, o desejo de consumir alimentos somente por prazer – em outros mamíferos além dos humanos, como ratos e primatas. Agora, pesquisadores da Universidade de Oregon acrescentaram um nematóide, o C. elegans, à lista.

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Como foi o estudo

Para investigar os efeitos comportamentais dos canabinoides, a equipe mergulhou os C. elegans em uma solução com anandamida, um endocanabinoide que existe naturalmente em mamíferos e também nessa espécie de vermes, que se alimenta de bactérias.

Em seguida, os cientistas colocaram os C. elegans em labirintos em forma de T. De um lado, havia uma refeição menos apetitosa (bactérias menos nutritivas); de outro, uma refeição mais atraente (bactérias mais nutritivas). No teste, os vermes que receberam anandamida extra pareceram ter maior apetite, mostrando preferência pela refeição nº 2 e passando mais tempo comendo.

Os pesquisadores também deram um banho de anandamida em vermes geneticamente modificados, que tinham receptores humanos do sistema endocanabinoide. Eles agiram da mesma forma quando colocados no labirinto.

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A conclusão? “Os receptores cannabinoides humanos e de nematóides [de vermes como o C. elegans] são intercambiáveis”, disse Shawn Lockery, professor de biologia da Universidade de Oregon e autor do estudo, ao portal Live Science. “Isso enfatiza a semelhança dos efeitos canabinoides em nematóides e humanos, mesmo após 500 milhões de anos de evolução.”

O laboratório de Lockery ainda não obteve autorização para expôr os nematóides à cannabis real, mas os cientistas acreditam que isso também os faria preferir alimentos com alto teor calórico, ativando os mesmos receptores.

De acordo com o estudo, a anandamida pode desencadear a fome nos vermes ao tornar os neurônios olfativos mais sensíveis ao cheiro de alimentos e menos sensíveis a outros. A pesquisa foi publicada na última quinta (20), na revista científica Current Biology.

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