Sílvia Campolim
Parece conversa fiada, mas existem mesmo males que vêm para bem. Por exemplo: as mulheres que sentem enjôo nas primeiras semanas de gravidez deviam abençoá-lo e agradecer à natureza por isso. De acordo com os neurobiologistas Samuel Flaxman e Paul Sherman, da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, o mal-estar surgiu durante a evolução e evita que a mãe, ao comer alimentos contaminados, perca o bebê. Essa conclusão aparece claramente no estudo abrangente que Flaxman e Sherman fizeram com 79 000 grávidas de 16 países. A maioria delas têm náusea especialmente ao sentir cheiro de carne, de peixe ou de aves – os três produtos mais sujeitos a contaminação. Um parasita muito comum, nesses casos, é a bactéria toxoplasma, responsável por má-formação de fetos ou por abortos. Os pesquisadores americanos compararam seus resultados com dados coletados por antropólogos em 27 sociedades sobre os sintomas que mais afetam as gestantes no início da gravidez. Desse conjunto, sete povos baseavam sua alimentação em vegetais como o milho, o arroz e a batata ou a mandioca. Entre eles, o enjôo era uma experiência desconhecida. Nas outras 20 sociedades, consumidoras de carne, aves e peixe, o desconforto da gestação era um acontecimento comum.