Entenda em 3 minutos: o que é astrobiologia?
Sabemos que a vida surgiu ao menos uma vez na história do cosmos: na Terra. Em breve, poderemos finalmente responder se estamos ou não sós no Universo.
A vida é provavelmente o mais fascinante fenômeno da história do nosso – quiçá de qualquer – Universo. Sabemos que ela surgiu pelo menos uma vez, aqui na Terra, mas as evidências sugerindo que ela pode ser um processo comum em outras partes do cosmos só começaram a se empilhar no século 21. A missão da nascente ciência de astrobiologia é justamente dar conta de colocar a vida nesse contexto mais amplo.
Para isso, um fator fundamental é compreender como exatamente substâncias simples progridem até gerar moléculas capazes de se autorreplicar e passar por evolução darwiniana. Nos últimos cem anos de pesquisas sobre nossas próprias origens, encontramos várias pistas. Famoso, por exemplo, é o experimento Urey-Miller*, de 1953, que produziu a partir de compostos simples vários aminoácidos – moléculas orgânicas que servem como tijolos básicos das proteínas.
Desde então, diversos outros experimentos parecidos conseguiram mostrar os incríveis malabarismos que moléculas simples fazem para compor química complexa, dadas as condições apropriadas.
A receita completa, contudo, continua nos escapando. Por isso, os cientistas que procuram entender como (e onde) a vida surge por ora se mantêm abertos a muitas possibilidades e trabalham apenas com uma lista básica de ingredientes: são eles água em estado líquido, moléculas complexas baseadas em carbono e uma fonte de energia para alimentar reações químicas.
Esse é o ponto de partida fundamental para a vida como a conhecemos. Há quem especule a possibilidade de que existam outros caminhos para o surgimento da biologia, baseados em substâncias alternativas (digamos, amônia como solvente, e silício no lugar de carbono), mas são apostas exóticas.
Fato é que água é o melhor e mais abundante solvente que existe, carbono é o elemento químico mais versátil da tabela periódica inteira, além de ser muito comum, e sempre será preciso alguma forma de energia para alimentar reações químicas. Então, essa pode não ser a única fórmula para a vida, mas certamente é a mais promissora e a mais comum. De concreto, podemos dizer que, pelo menos uma vez, ela deu certo.
Boa parte do esforço dos astrobiólogos agora se volta para mostrar que a natureza repete essa receita com alguma frequência. Ao longo do século 21, descobertas fantásticas ajudaram a dar ânimo à busca.
Em 2009, a Nasa lançou ao espaço o satélite Kepler, destinado a descobrir planetas localizados fora do Sistema Solar. Durante quatro anos, ele permaneceu apontado fixamente para um pedacinho de céu, tentando flagrar pequenas reduções de brilho das estrelas que indicassem a passagem de um planeta à frente delas.
A estratégia resultou em milhares de descobertas, e o experimento demonstrou que mundos rochosos, como o nosso, na zona habitável** de seus sistemas planetários, são abundantes no cosmos. Em resumo: há muitas Terras por aí onde o fenômeno da vida pode ter florescido. É o que sugere a Equação de Drake, formulada pelo astrofísico Frank Drake para estimar a prevalência de vida no Universo.
Ao mesmo tempo, a exploração do próprio Sistema Solar ampliou o número de possíveis habitats na nossa vizinhança. Em 2004, o jipe robótico Opportunity encontrou em Marte as primeiras evidências em solo de que o planeta vermelho já teve mares, há 4 bilhões de anos.
Ao mesmo tempo, análises dos dados das sondas americanas Galileo e Cassini revelaram que entre as luas de Júpiter e Saturno há duas especialmente amigáveis à vida: Europa, em Júpiter, e Encélado, Saturno, possuem, sob sua crosta de gelo, oceanos globais de água líquida, mantidos aquecidos pelo poderoso efeito de maré gerado pelos planetas gigantes em torno dos quais orbitam.
O grande desafio dos próximos anos é buscar evidências telescópicas de que há vida em algum dos mundos fora do Sistema Solar e explorar com espaçonaves nossa própria vizinhança, em busca de uma “segunda origem” para formas biológicas. Caso isso venha a acontecer, a astrobiologia promete ser uma das ciências mais revolucionárias do século 21.
*Experimento Urey-Miller: criado por Stanley Miller e Harold Urey, ele simulou a atmosfera primitiva da Terra com hidrogênio, amônia, metano e água.
**Zona habitável: região em torno de uma estrela em que o nível de radiação luminosa permite que um planeta tenha água líquida na superfície de forma estável.