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Estrela que engole seus ‘filhos’ é batizada de Cronos

Nos últimos 4 bilhões de anos, HD 240430 – que homenageia o titã grego devorador de filhos – engoliu massa equivalente à de 15 Terras

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
25 set 2017, 20h24

HD 240430 podia ser só mais uma das muitas estrelas a que os astrônomos terráqueos se referem pelo código – e que nunca tiveram o privilégio de ganhar um nome de verdade, como HD 148478 (Antares) ou HD 48915 (Sirius).

Ela, porém, cultiva um hábito curioso: engolir seus próprios planetas. O que lembra o comportamento do titã Cronos, personagem da mitologia grega. Segundo a Teogonia, do poeta Hesíodo, o rei dos titãs temia ser destronado por seus filhos. Como é melhor prevenir do que remediar, engoliu todos.

Engolir, aqui, é no sentido de comer, mesmo. Eles ficaram “detidos” no estômago do pai (à maneira do Jonas bíblico, que passou três dias e três noites no interior de um grande peixe), e só depois foram regurgitados – ou extraídos, esse detalhe varia conforme a versão do mito.  

Frente à semelhança, não deu outra: HD 240430 agora é Cronos. Em seus 4 bilhões de anos de existência, a estrela, localizada a 320 anos-luz de distância de nós, engoliu material planetário equivalente a 15 vezes (!) a massa da Terra. A descoberta (e o nome de batismo) foram registrados neste artigo científico.

Os astrônomos responsáveis, da Universidade de Princeton, sabem disso graças a comparações entre a composição química de HD 240430 e a de outra estrela, de código HD 240429 – que ganhou o nome de um irmão menos célebre de Cronos, o titã Crio.

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As duas formam um sistema binário, ou seja: giram uma em torno da outra, e os demais planetas giram em torno de ambas. Mais ou menos o que acontece no sistema Tatooine, onde fica o lar desértico de Luke Skywalker em Star Wars.

Elas têm mais ou menos o mesmo tamanho, e tudo indica que elas foram formadas na mesma nuvem de gás, como gêmeas. Por algum motivo, porém, Cronos é repleta de lítio, magnésio e ferro – entre outros nomes da tabela periódica que são escassos ou inexistentes em Crio. Segundo os cálculos, o jeito mais fácil de uma estrela acumular concentrações incomuns desses elementos seria engolindo coisas enormes que os contém – no caso, planetas similares à Terra.

Dito isso, tudo leva a crer que Cronos não tinha a intenção de comer seus “filhotes” planetários. Na opinião do pesquisadores, é mais provável que outra estrela, ao passar perto demais do sistema em algum momento dos últimos bilhões de anos, tenha desestabilizado as órbitas dos planetas e os colocado em rota de colisão com a mãe. Ela não pode evitar o choque.

Isso aproxima o Cronos astro do destino de Tereu, filho de Marte – que, sem saber, comeu um banquete preparado com a carne do próprio filho por Progne, sua esposa vingativa. Almoçar os filhos, pelo jeito, era ato dos mais temidos pelos gregos da antiguidade.

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