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Estudo relaciona pragas do Império Romano a períodos de frio intenso

Três das maiores pandemias de Roma (incluindo a peste bubônica) ocorreram durante ondas de frio. Entenda como os pesquisadores chegaram à conclusão.

Por Caio César Pereira
30 jan 2024, 19h15

Cada vez mais pesquisas relacionam alterações climáticas a surtos de doenças. Um estudo de 2022, por exemplo, mostrou que as mudanças causadas no ambiente podem aumentar as chances de pandemias, e isso é uma situação que vale tanto para o presente, futuro… e passado.

Uma nova pesquisa revelou que alguns surtos que aconteceram durante o império romano tiveram, de alguma forma, uma relação com períodos de frio intenso. Publicado na revista Science, a pesquisa, conduzida por universidades nos EUA, Holanda e Alemanha, mostrou que pelo menos três pandemias coincidiram com variações climáticas.

Eles realizaram uma reconstrução da temperatura e precipitação dos períodos das pandemias, entre 200 a.C até 600 d.C. Essas datas abrangem do final da república romana ao final do império romano. Para correlacionar clima e doenças, duas pesquisas foram conduzidas.

Primeiro, os pesquisadores analisaram sedimentos de alguns anos específicos. Eles foram coletados na região conhecida como Golfo de Tarento (a parte da “sola” da bota da Itália). Essa região concentra sedimentos de vários rios do país, então resíduos de várias partes do império foram depositados ali com o passar do tempo. 

Para estabelecer os anos no estudo, os pesquisadores correlacionaram os sedimentos encontrados aos sedimentos de erupções vulcânicas famosas, como a do Vesúvio em 79 d.C.

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Já para reconstruir a temperatura e o clima daquele período, os pesquisadores recorreram a pequenos organismos chamados dinoflagelados: algas unicelulares que vivem em colunas d’água que ficam preservados no sedimento.

Esses microorganismos são bastante sensíveis a alterações de temperatura, já que os ciclos de vida de determinadas espécies variam conforme o clima. Dependendo da espécie, elas podem preferir climas mais frios ou quentes.

Durante seu período de repouso, esses organismos formam uma espécie de cisto, que fica preservado no registro fóssil dos sedimentos. Graças a presença desses organismos nos sedimentos, os pesquisadores foram capazes de determinar como estava o clima daquele período.

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Depois, analisando os dados sobre as pandemias da época, os pesquisadores descobriram que houve fortes períodos de frio durante alguns surtos de doenças famosas da época. 

Em 165 d.C. ocorreu a Peste Antonina, uma peste causada por um patógeno desconhecido, que levava a sintomas como febre, diarreia e até pústulas na pele. A peste durou até por volta de 180 d.C, justamente o tempo de uma forte onda de frio.

Entre 245 e 275 d.C, outra pandemia atingiu o império. Conhecida como a Peste de Cipriano, a doença causava vômitos e diarreia. Assim como a Peste Antonina, os historiadores ainda não sabem qual foi o causador, mas alguns acreditam que seja sarampo ou varíola. O que se sabe, porém, é que o período também foi marcado por uma intensa onda de frio.

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E o surto de doença mais famosa da época também não ficou de fora dessa gelada. Em 500 d.C, a Terra passava pela Pequena Era Glacial Tardia Antiga, um período de resfriamento do planeta já conhecido no registro histórico. Em 541 d.C, aconteceu a chamada Peste de Justiniano, um surto da peste bubônica na Eurásia ocidental, que foi precursora da peste negra que viria a atingir a Europa séculos depois.

Para Kyle Harper, historiador romano da Universidade de Oklahoma e do Instituto Santa Fe, e um dos autores do estudo, vários fatores podem explicar esse elo, mas lembra que o ecossistema é um equilíbrio delicado.

“Quando você abala o sistema climático, isso realmente afeta os patógenos, ecossistemas e, acima de tudo, as sociedades humanas”, disse ao Live Science.

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