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Eu acredito em Darwin

O líder da banda Bad Religion, Greg Graffin, é doutor em biologia evolutiva e briga para fazer acadêmicos admitirque a Teoria da Evolução implica a negação de Deus

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h53 - Publicado em 30 nov 2005, 22h00

Mauro Tracco

Em agosto, a super entrevistou Howard Jacobs, um dos biólogos mais renomados da Europa, que em vez de avental usa cabelos moicanos e roupas de couro. Agora, o outro lado da moeda: Greg Graffin é vocalista do Bad Religion, uma das mais importantes bandas punk do mundo, e assim como Jacobs, é apaixonado por biologia. Filho de professores universitários, é formado em geologia e fez doutorado em biologia evolutiva na Universidade Cornell, em Ithaca, Nova York.

Ateu convicto, defendeu em sua tese de doutorado que religião e evolução não se misturam. Graffin enviou questionários para os principais biólogos evolutivos do mundo (272 ao todo, 151 responderam) para descobrir até que ponto ia o ceticismo dos que ambicionam descobrir a origem da vida. Para ele, as implicações lógicas da Teoria da Evolução de Charles Darwin não admitem que a vida tenha surgido por uma causa sobrenatural; logo, quem crê em Darwin não pode crer em Deus ou coisa que o valha.

O que lhe interessou antes? Ciência ou punk rock?

Ciência. Quando eu tinha 13 anos, li um livro sobre a história da cultura, que me inspirou a estudar as origens do homem. O punk foi entrar na minha vida dois anos depois.

Quais são os aspectos comuns entre as duas áreas?

Punk é um modo de vida comprometido a desafiar o status quo e as visões da sociedade. A ciência, por sua vez, tem o compromisso constante de desafiar teorias preconcebidas por meio de experiências. Novos experimentos e descobertas podem destruir completamente os alicerces de uma determinada área da ciência. Nesse sentido, os dois campos são semelhantes.

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Você é formado em geologia. Por que resolveu ser doutor em biologia evolutiva?

Tenho muito interesse na história da Terra e de seus habitantes. E acho que a única maneira de ter um bom domínio desse assunto é aprendendo as duas coisas: geologia e biologia.

Você está com 40 anos. Qual é o seu maior interesse nessa idade, a música ou a biologia?

Eu adoro compor álbuns para o Bad Religion e estou empolgado com a idéia de escrever meu primeiro livro no ano que vem. Espero produzir muito ainda nas duas áreas. Hoje em dia, compro mais livros do que discos.

O resultado de seu projeto de doutorado correspondeu às suas expectativas?

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Não. Eu esperava que os membros da comunidade de biologia evolutiva rejeitassem em peso a teologia tradicional e acreditassem que religião e evolução sempre estarão em guerra. Mas o que encontrei foi um grande índice de apatia pelo assunto. Poucos biólogos evolutivos estão dispostos a afirmar com veemência que evolução e religião são incompatíveis. A maioria deles acredita que ambas podem coexistir. Eu acho essa descoberta muito estranha.

Como é a teoria da evolução segundo Greg Graffin?

Minha teoria, simplificada, defende que a vida é essencialmente composta por guerras entre populações, que ocorrem constantemente em diversos níveis. Não é uma idéia nova, mas acho que ainda não foi defendida com a convicção necessária.

Você acha que os fãs do Bad Religion realmente entendem as suas letras?

Sei que a maioria dos nossos fãs só quer saber da música rápida e pesada que fazemos. Alguns poucos são atraídos pelas letras e gosto de acreditar que eles aprendem algo de seu conteúdo.

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Você não acha que alguns punks são tão cegos quanto fundamentalistas religiosos?

Todos precisam de educação. Há muita gente que encara o ideal punk como um culto religioso. Quanto mais bem informados forem os punks, mais irão perceber a diversidade que existe em seu meio e, principalmente, que se trata de uma filosofia tolerante. A melhor maneira de se informar sobre isso é estudar a cena punk de diferentes países para se dar conta de que é um estilo de vida global. É um erro achar que ele pode ser estereotipado como um fenômeno da classe operária inglesa ou das ruas de Los Angeles.

Qual é a sua opinião sobre a teoria do Design Inteligente, corrente que rejeita o darwinismo e crê que entidades inteligentes são responsáveis pela origem da vida? Seus defensores se dizem “punks da biologia evolutiva”, por supostamente irem contra a maneira dogmática de se fazer ciência.

Eu não vejo nada punk no Design Inteligente. É ridículo. Seus argumentos são idênticos aos da Teologia Natural defendida por William Paley em 1802. Eles basicamente não dizem nada que já não tenha sido dito, e de forma mais eloqüente, há 200 anos. Em 1859, Darwin apresentou uma maneira melhor de entender a natureza e a vida. O Design Inteligente é apenas uma forma de compatibilizar o estudo da natureza com a religião. Na forma como vejo a natureza, não há nada de inteligente em seu design. Em minha dissertação, entrevistei George C. Williams, que diz que, se realmente existiu um designer, ele não foi muito esperto. É fácil pensar em “criações burras”, como o dente do siso, um agente perpétuo de infecção, ou o apêndice, que sempre causa cirurgias de emergência.

Qual é a maior diferença que existe entre você e os outros biólogos evolutivos?

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Sou um caso raro, pois não ganho a vida com aulas ou fazendo pesquisa. Isso dá liberdade de atacar questões centrais da evolução que nem sempre estão na agenda mainstream. Não tenho medo de perder o emprego se escrever algo que ofenda a comunidade da biologia evolutiva. A maioria dos cientistas se esquiva do tópico “evolução versus religião” por ser capaz de afetar sua posição na universidade, especialmente quando a instituição tem uma base religiosa.

Quem o influenciou mais, Darwin ou os Ramones?

Darwin, pois até hoje seu trabalho me ajuda a entender o mundo. Os Ramones me ajudaram a atravessar os anos de adolescência e eu serei eternamente grato a eles por isso.

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Gregory Graffin

• Gregory Walter Graffin III, 40 anos, nascido em Racine, Wisconsin.

• A mãe de Greg Graffin foi reitora da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e seu pai era professor de inglês.

• Sua dissertação foi publicada em forma de livro e pode ser adquirida pelo site https://www.cornellevolutionproject.org .

• O disco Suffer, de 1987, é tido por muitos como o responsável pela revitalização do punk, que voltou com toda a força nos anos 90.

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