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Consciência: o maior mistério do Universo

O maior enigma da existência continua onde sempre esteve: na sua cabeça. Quem é, afinal de contas, esse sujeito aí dentro que você chama de "eu"?

Por Rodrigo Rezende e Alexandre Versignassi
Atualizado em 2 jan 2020, 16h13 - Publicado em 30 nov 2004, 22h00

 

(Thaís Beltrame/Superinteressante)

Sabe aquela pessoa que sempre morou na sua cabeça e que você apelidou de “eu”? Então: imagine que um dia exista uma máquina que faça cópias perfeitas de você, com a sua cara, seu cérebro, suas memórias. Tudo. Será que a sua consciência vai parar lá também? Ou sua cópia ganha outro “eu”?

Se você não conseguiu responder, fique tranquilo: nada é mais misterioso que esse cidadão aí dentro. Uma prova disso é o grande número de teorias que tentam explicar o que é a consciência. Muitas delas vão bem fundo no problema, mas batem de cabeça umas com as outras. Uns acham que ela nem existe. Outros, que está em todo lugar. Muitas perguntas continuam sem resposta – e, como você pode ver nas colunas ao lado, nunca vão ter. Mas não faltam argumentos que nos deixem pelo menos mais perto de esclarecer o mistério. Prepare-se para conhecer esse “eu” que mora em você.

Você, por você mesmo

Afinal, o que é a consciência? Foi esse o problema enfrentado pelo linguista Ray Jackendoff, da Tufts University, e pelo filósofo Ned Block, da Universidade de Nova York. Eles chegaram a dois significados fundamentais.

Em primeiro lugar, consciência é o conhecimento que você tem de você mesmo. Nossa cabeça consegue formar ótimos bancos de dados sobre tudo o que você vê e sente, certo? Lá estão informações sobre todo mundo que você conhece. Então não seria nem um pouco surpreendente ela ter formado uma ficha sobre você mesmo, uma que você compila na memória desde os primeiros anos de vida. Nesse sentido, a consciência é um modelo interno do mundo com um “eu” inserido. “O acesso a informações sobre esse `eu¿ é fácil de reproduzir. Um robô que possa se reconhecer num espelho não seria mais difícil de construir do que um capaz de reconhecer qualquer outra coisa”, diz o neurocientista Steven Pinker, da Universidade de Harvard, EUA, em seu já clássico livro Como a Mente Funciona.

Outra parte é a forma com que o cérebro acessa a infinidade de informações que tem lá dentro. Numa conversa, por exemplo, você pode falar do filme de ontem, de alguém que está passando na sua frente, da chuva. Mas não tem como discorrer sobre a velocidade com que seu sangue está correndo agora ou o jeito como enzimas estão sendo secretadas pelo seu estômago. Tudo o que você vê e boa parte do conteúdo da sua memória são o que sua cabeça pode acessar. O resto fica “escondido” no seu cérebro.

Isso mostra que o sistema nervoso divide claramente o que vai e o que não vai para a consciência. Então a gente fica com um outro jeito de definir o “eu”: ele é tudo a que você pode ter acesso pela sua cabeça na hora. Ou, mais exatamente, tudo o que você precisa pensar para falar e fazer. Nesse processo, informações da parte consciente às vezes são escondidas. Quando você está aprendendo a dirigir, por exemplo, precisa pensar para trocar as marchas do carro. Operar o câmbio é uma preocupação que faz parte da consciência do motorista de primeira viagem. Depois de alguma experiência, a troca de marchas vira uma coisa automática, tão inconsciente quanto a respiração e o trabalho das enzimas do estômago. E o “eu” fica liberado para matutar sobre o filme, os passantes, a chuva.

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Essas definições explicam alguma coisa, mas deixam muita coisa de fora. Não explicam questões que parecem simples, mas que são impossíveis de responder, do tipo: como é ser um besouro, como seria estar morto, ou qual o sentido do “eu”. E aí entram as teorias que mergulham fundo para resolver esses problemões. Bem fundo, até a parte irracional da nossa mente.

(Thaís Beltrame/Superinteressante)

Você, pela sua emoção

Lembra o que acontece quando você toma um susto? Primeiro vem uma espécie de chacoalhão no seu corpo, depois um salto meio inconsciente e aí a sensação de medo. E não há nada que você possa fazer para evitar essa reação em cadeia. Aliás, para ser bem sincero, não existe nem um “você” presente nesse processo todo. A consciência de que o susto aconteceu só vem depois dele. E talvez não seja à toa. Segundo um dos neurologistas mais respeitados do mundo, o português António Damásio, da University of Southern California, o processo que te levou a perceber o susto reproduz a história evolutiva da mente, na qual a consciência é o último passo de todo o processo.

A primeira forma de pensamento na natureza não vinha com o “eu” no pacote. Era só emoção. Para Damásio, a emoção é uma imagem mental formada por várias coisas ao mesmo tempo, tipo a dilatação da pupila, a descarga de adrenalina e a tensão muscular que acontecem na hora do susto. Quando a mente processa tudo isso junto e vê que tem algum perigo por perto, faz você dar um salto, por exemplo. Isso foi essencial para os animais primitivos na luta pela sobrevivência, já que permitiu reagir automaticamente a ameaças.

Com o tempo, o cérebro aprendeu a lidar melhor com a tal emoção dos seres vivos, criando um “eu” para administrá-la. Que vantagem isso dá? Simples: imagine que você sempre tome um baita susto toda vez que vê uma barata. E que comece a trabalhar num lugar infestado delas. Em vez de passar a dia inteiro cheio de adrenalina e com a musculatura tensa, gastando um monte de energia à toa, você usa a consciência e se pergunta: “Por que eu tenho medo de barata?” E tenta arranjar um jeito de se livrar desse medo.

Mas por que não é fácil controlar o medo e outros sentimentos que só atrapalham a sua vida? Exatamente porque a consciência é só a ponta do iceberg desse conjunto de reações irracionais e automáticas que deu origem à mente. Para Damásio, a emoção e o sentimento compõem o grosso da mente, e não o pensamento, a razão.

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Essa teoria dá uma boa ideia da origem da consciência. Afinal, ela é útil para o controle das emoções, e acaba ajudando na sobrevivência. Mas por que tem de existir um “alguém” aí dentro de você? Não daria para a mente trabalhar no piloto automático? Alguns acham que é isso mesmo que ela faz, que não mora ninguém dentro da sua cabeça.

(Thaís Beltrame/Superinteressante)

Você, robô

Você já leu esta linha. E esta também. Faz meio segundo que o seu cérebro processou cada uma dessas letras que você está lendo agora. Ele faz todo o trabalho antes que você tenha consciência do que está acontecendo, sem perguntar nada. Sempre foi assim: todas as decisões da sua vida foram tomadas sem que você fosse consultado. Todas. Se neste momento você resolver jogar esta revista pela janela, saiba que seu cérebro já ordenou que você fizesse isso sem que a parte consciente da sua cabeça se desse conta.

Essa é uma possibilidade aberta por pesquisas sobre o funcionamento do cérebro feitas pelo falecido neurocientista norte-americano Benjamin Libet, pioneiro dos estudos sobre a consciência. Entender o raciocínio dele é fácil: levante seu braço agora mesmo. Levantou? Pois Libet concluiu que o impulso que seu cérebro acabou de enviar para erguer o seu braço partiu um pouco antes de você ter decidido levantá-lo. Você, o legítimo dono do membro, pode não passar de um figurante nesse processo.

Mas espera um pouco. Se realmente não temos domínio sobre nossas ações, somos o quê, então? Sinto lhe dizer, mas, segundo Richard Dawkins, professor emérito da Universidade de Oxford – que hoje pode ser famoso pela militância antirreligiosa, mas é (ironia) um dos “papas” da biologia moderna – você não passa de um robô, “ainda que um bem complexo”.

Essa posição tão simpática vem de uma ideia genial: a de que somos “máquinas de sobrevivência” dos nossos genes. “Máquinas” porque eles usam nossos corpos para se reproduzir e depois vão embora. Por essa visão, quem já teve o trabalho de arrumar parceiros sexuais e criar filhos pode morrer tranquilo por ter cumprido sua missão: ajudar suas moléculas de DNA a continuar sobre a Terra. E mais nada. Bom, se os genes são os chefes dos nossos corpos, quem manda na nossa mente, nas nossas ideias? Para Dawkins, a diretoria aí não é formada exatamente pelo genes, mas pelos memes – pelo menos esse é o nome que o inglês inventou.

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Você vê o mesmo que eu?

Como ter certeza de que as cores que você vê aí em cima são as mesmas que outra pessoa veria? E se a sensação que você tem do vermelho é idêntica à que eu tenho do verde? Para a física, o que chamamos de vermelho é apenas uma frequência de uma onda eletromagnética, mas nada garante que a representação mental dessa cor seja a mesma para nós dois.

Isso tem pouco que ver com as piadinhas de humor duvidoso na internet, que herdaram o nome por sua pretensão a se tornarem memes. Um meme, no sentido original, é basicamente uma idéia, um conceito qualquer. Mas, note bem, eles têm vida própria. E estão na Terra com um objetivo único: se espalhar, igual os genes fazem. Quer ver um meme agora mesmo? Então pense em alguma música das Spice Girls – ou em qualquer uma que você gostava quando era mais novo. Se ela começa a tocar sozinha na sua cabeça, é porque você está testemunhando um meme em ação. Se você resolver cantar a música e alguém que estiver do seu lado ficar com ela na cabeça, você está vendo um meme se reproduzir, passar de um corpo para outro. Como se fosse um gene! Ou uma carinha mal desenhada na internet.

Essa lógica serve para tudo no mundo. Um filósofo, do ponto de vista “memético”, é o meio que uma biblioteca tem de produzir outras bibliotecas. E por aí vai. Vivemos numa “memosfera” carregada de ideias que lutam para se reproduzir.

E em que lugar uma ideia tem melhores condições de procriar? Num cérebro humano. É ele quem tem o trabalho de espalhar ideias por aí, não é? Cérebros são o paraíso dos memes. Um conceito que esteja em várias cabeças, entrando por muitas orelhas e saindo por muitas bocas, fica com chances melhores de crescer e de se reproduzir no “mundo das ideias”. Para Dawkins, então, a mente é um emaranhado de memes em busca de um lugar ao Sol. E você, o dono do cérebro, não tem nada a ver com isso. A briga para ver o que se passa na sua cabeça é entre eles, caro robô.

Se você achou isso difícil de engolir, não é o único. O filósofo Daniel Dennett, do Centro de Cognição da Universidade Tufts, nos EUA, também achou. Mas é uma ideia que se encaixa tão bem em outras teorias da biologia que até ele acabou engolindo. E criou uma explicação da consciência baseada nos memes.

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Para ele, o nosso cérebro é um emaranhado quase infinito de memes que estão agora mesmo no seu inconsciente. O que eles fazem é ficar brigando uns com os outros lá no escuro até que um ganha vantagens sobre os outro se consegue “ver a luz”. Quer dizer: ele emerge na sua cabeça em forma de uma ideia consciente, pronta para sair da sua boca e se reproduzir em outras cabeças.

O modelo de Dennett é bastante complexo, mas tem uma essência simples. Para ele, o cérebro tem dificuldade em lidar com o turbilhão de ideias que moram lá. Então a consciência não seria exatamente um meme qualquer que pula para fora, mas uma “máquina virtual” criada para controlar o jorro de ideias, uma espécie de “filtro” dos memes que estão enterrados em sua cabeça. E o nome que você dá para essa máquina, enfim, é “eu”, amigo robô.

A conclusão, mais uma vez pouco animadora, é que a sua consciência não passa de ilusão. O que você chama de “eu”, na verdade, é uma estratégia dos milhões de memes para se regularem. Tudo certo então? Claro que não. Uma teoria da consciência, pelo menos tão instigante quanto essa, fala exatamente o contrário. Vamos lá.

Você, em todo lugar

Se você está preocupado com a possibilidade de ser apenas um robô sem controle sobre si mesmo, chame o neurocientista e filósofo David Chalmers, da Universidade Nacional da Austrália. Para ele, esse tipo de argumento é coisa de gente preguiçosa. “A maneira mais fácil de desenvolver uma teoria da consciência é negar que ela existe”, afirma ele em seu livro The Conscious Mind (“A Mente Consciente”, inédito em português). Chalmers, você vê, acredita que a consciência não seja só uma ilusão e bate de frente com Dennett, seu mais ferrenho rival acadêmico.

Pense bem, a consciência é um fenômeno bastante poderoso, mas que ninguém sabe muito bem onde está. Mesmo sendo o centro da existência de todo mundo, nenhum cientista conseguiu matar a charada e dizer de onde ela surge, ou sequer afirmar com certeza quais seres têm ou não consciência.

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Um jeito científico de tentar detectá-la é colocar animais na frente de um espelho para ver se eles conseguem se reconhecer. Por esse critério, bebês humanos de um ano não têm consciência. Os animais que passaram no teste até hoje são outros hominídeos (chimpanzés, bonobos e orangotangos, mas não gorilas), elefantes, golfinhos nariz-de-garrafa, orcas e, por incrível que pareça, a pega-rabuda (esse é o nome), um tipo de gralha europeia. Ainda assim, muitos cientistas contestam os resultados. Mas por enquanto não dá para ir mais longe.

Para Chalmers, ninguém conseguiu achar a resposta por um motivo bem simples: ela estava embaixo do nariz de todo mundo. A consciência para ele é uma propriedade das coisas. De qualquer coisa: de um ganhador do Nobel a um caixote, tudo tem consciência.

Se, a essa altura, você já está segurando o seu chapéu e achando isso tudo um absurdo, pense de novo na ideia. Largue o seu chapéu e tente responder: por que essa benção, essa força tão poderosa, só apareceria no cérebro humano? Não parece muita pretensão nossa?

É por isso que, para Chalmers, a consciência pode, sim, estar em tudo: seja numa pedra, num pedaço de papel ou numa estrela. O motivo pelo qual você nunca percebeu essa habilidade neles é que existem diferentes graus de consciência. Para ele, quanto mais complexa for a atividade de uma coisa, quanto maior for o número de diferentes “experiências” que ela vivencia – em outras palavras, quanto mais complexo for o objeto – maior sua “quantidade” de consciência.

Um cérebro experimenta bilhões de impulsos elétricos por segundo. É a coisa mais frenética do Universo conhecido. Então ele tem um grau alto de consciência. Já uma pedra não passa por muitas emoções ao longo da vida. A única coisa que ela faz é esfarelar com o tempo, bem devagarinho. Então seu grau de consciência seria minúsculo. Uma estrela, digamos, é grande e agitada por dentro, mas não faz nada de complexo: é só uma bolona que gera energia fundindo hidrogênio, uma rotina bastante tediosa. Então seu grau de consciência não seria lá essas coisas.

Por esse ponto de vista, a consciência é nada mais que uma propriedade do mundo físico, como a massa e a velocidade. Do mesmo jeito que uma coisa pode ser mais rápida ou mais pesada, ela também pode ser mais consciente que outra.

Mas a teoria não faz sentido para todo mundo. Na verdade, Daniel Dennett, o arqui-inimigo de Chalmers, acha tudo isso tão absurdo que se preocupa basicamente em tirar sarro da teoria.

Dennett propõe a seguinte cena: um bebê brincando com um filhote de cachorro. O que os dois têm em comum? São fofos. E muito. Assim como a consciência, a fofura é uma força poderosa, que pode estar em qualquer lugar e que é bem difícil de conceitualizar (tente, por exemplo, explicar o que é fofura sem usar os dedos. Difícil, não?) “Já que é assim, por que não considerar a fofura uma propriedade fundamental da matéria?”, disse o filósofo, em um artigo de 2004.

O problema é que não existem meios de provar nem a teoria de um, nem a do outro. A biologia fica de mãos atadas na hora de debater a consciência. Mas a física talvez não.

(Thaís Beltrame/Superinteressante)

Você, atômico

A gente pensa num cérebro como se fosse um grande computador. É até natural. Afinal, os dois têm memória, processam informações e travam de vez em quando. Além disso, a estrutura do cérebro, com bilhões de neurônios, axônios e sinapses, lembra o emaranhado de fios e microchips que temos nas nossas máquinas. E existe um sinal elétrico correndo lá dentro, seja na máquina, seja na cabeça.

Mas existe uma coisa que os cérebros manjam e que computador nenhum consegue fazer: abstrações. Uma partida de xadrez, por exemplo, tem um número absurdo de caminhos diferentes. O que um computador faz na hora de jogar? Tenta um número enorme de jogadas até achar uma que tenha boas chances de sucesso. Já você, antes de cada lance, pensa só nas três ou quatro jogadas mais sensatas. Mesmo sem perceber, você de alguma forma conseguiu tirar um sentido do jogo e agir de acordo com alguma lógica – algo que fios, chips e eletricidade não conseguem fazer sozinhos.

Outro ponto em que somos bem diferentes das máquinas é que nós nunca pensamos em apenas uma informação por vez. Você pode até estar aqui processando as informações desse texto, mas ao mesmo tempo está ligando essas ideias ao cheiro que você está sentindo, às memórias do que você fez nos últimos tempos, à sensação do lugar em que você está e aos barulhos que está ouvindo. Cada momento que você vive é processado ao mesmo tempo por vários neurônios, em diferentes partes do cérebro. É como se o mesmo sinal passasse por vários processadores intimamente ligados, como se todos fossem um só.

E é claro que um computador não consegue fazer uma reprodução exata disso. Mas por que não? Para responder essa pergunta, o matemático Roger Penrose, da Universidade de Oxford, Inglaterra, buscou inspiração em um mundo quase tão estranho quanto nosso cérebro: o da física quântica, que descreve o comportamento das coisas ultramicroscópicas.

Lembre-se do que acabamos de dizer sobre o cérebro: é uma máquina que processa informações como se elas estivessem em vários lugares ao mesmo tempo e que, de alguma forma, consegue extrair uma força maior, um sentido de tudo isso. É algo que poderia ser comparado a um elétron, por exemplo. Ele nunca está em um lugar definido. É como se estivesse sempre indeciso sobre onde ficar e, enquanto não “resolve”, se mantém em vários lugares ao mesmo tempo. E, de alguma forma, é dessas interações que saem as leis da física com as quais lidamos no dia a dia.

As estranhezas da física quântica não param por aí. As partículas podem se comportar como pequenos bonecos de vodu. Exatamente: se você “espetar” uma aqui, outra “sente a dor” em outro lugar, não importa a distância que separe as duas. Bizarro, não?

O mesmo aconteceria no cérebro. Dentro da sua cabeça, tudo o que você sente e pensa está espalhado em áreas distantes. O que você vê agora é processado perto da sua nuca, e as coisas de que você lembra ficam no meio do cérebro.

Para Penrose, então, os sinais que os neurônios transmitem poderiam ficar em vários lugares ao mesmo tempo, que nem os elétrons dos experimentos quânticos, por uma fração de segundo. A junção dessas pequenas flutuações resultaria no jeito como você e eu sentimos a cor azul e a sensação de segurar esse papel simultaneamente. Em suma, ela formaria a sensação do “eu”.

O problema é que nenhum desses argumentos fez a ideia de Sir Penrose ganhar crédito. Uns contestam a matemática da teoria. Outros falam que os fenômenos quânticos não poderiam existir dentro de um cérebro, um ambiente grande e quente que não dá condições para que os átomos se comportem de um jeito tão estranho. Tem ainda quem diga que Penrose só substituiu um mistério por outro e não tem nada que tentar explicar o inexplicável. “Mas estou aberto para qualquer um que venha e me mostre que eu estou errado. E ainda estou esperando!”, desafiou a matemático. Vai encarar?

Com certeza, muita gente vai. Penrose continuou trabalhando em sua teoria e, em 2013, ele e o anestesiologista Stuart Hameroff afirmaram com todas as letras que o cérebro é um “computador quântico”. Uma máquina que mal existe ainda. Mas essa é uma daquelas questões centrais a qualquer área da ciência – e que nunca vai morrer. Enquanto existir essa voz aí na sua cabeça que você se acostumou a chamar de “eu”, existirá quem tente descobrir de onde ela vem, do que ela é feita. Quem sabe o “eu” de algum deles ainda desvende o seu?

 

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