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Flora nordestina para inglês ver

Projeto do Real Jardim Botânico Britânico vai fazer um estudo sobre a flora nordestina.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h47 - Publicado em 31 ago 1991, 22h00

Um projeto que surpreende pela simplicidade, embora sua prática exija uma perseverança de sertanejo, vai associar pesquisadores de várias universidades brasileiras aos cientistas de Kew Gargens, como é conhecido o Real Jardim Botânico, criado em 1959. O alvo do estudo é o Nordeste. Ocupando 1,2 Km² nas cercanias de Londres, a instituição contém o maior acervo da flora tropical do mundo na coleção de 30 000 espécies vivas e 6 milhões de plantas secas que formam seu herbário, uma espécie de biblioteca vegetal.

“O Projeto Nordeste tem objetivos muitos claros”, informa o taxiólogo (especialista em classificação de formas vivas) Brian Stannard, do Kew, ouvido por Gisela Heymann, para SUPERINTERESSANTE. “Trata – se de organizar um estudo sem precedentes sobre a flora local, um passo indispensável para qualquer tentativa de reabilitação dos ecossistemas destruídos na região.” Ao contrário do que pode sugerir a clássica imagem do sertão calcinado, no Nordeste viceja nada menos de 40% da flora brasileira. De 15 a 20 000 espécies vegetais brotam em 1,5 milhão de km², que compreende nove Estados e a população mais pobre do país. “O Nordeste é uma das mais importantes áreas de diversidade vegetal em regiões semi – áridas, como a caatinga, e de concentração de plantas economicamente importantes para o homem”, esclarece o botânico Stannard, um inglês que já visitou a região várias vezes e esbanja um português impecável.

O Projeto Nordeste pretende catalogar o maior número de plantas passíveis de exploração comercial e úteis à revitalização do meio ambiente local. Na prática, isso significa identificar as plantas que podem servir de alimento, remédio ou fonte de energia e as que ajudam a proteger os lençóis freáticos e a fertilizar o solo. Para tanto, uma centena de ingleses e brasileiros vão gastar cerca de 10 milhões de libras (6 milhões de cruzeiros ao câmbio de julho último) numa investigação prevista para durar dez anos. A conta será paga por muitas mãos – Kew Gardens, empresas privadas e pela Overseas Development Association, uma agência do governo britânico.

Livros e folhetos com explicações sobre as propriedades das plantas catalogadas e sua utilização prática serão publicados para distribuição no Nordeste. Prevê – se também a criação de um banco de sementes, com a colaboração do Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargem), de Brasília. “O Projeto Nordeste poderá propiciar, a longo prazo, o restabelecimento das florestas de brejo, a criação de florestas artificiais para fornecer madeira de uso doméstico e o reaproveitamento de terras marginais de caatinga”, diz Brian Stannard.

O interesse do Jardim Botânico Britânico pela flora brasileira não é de hoje. No último andar do prédio da administração do parque, outro inglês Martin Pendred, um ex-bancário cujo português nada deve ao de Stannard, dirige a Fundação Margaret Mee, em homenagem à botânica e desenhista especializada na flora amazônica, falecida em 1986. A Fundação proporciona bolsas de estudo para botânicos e artistas plásticos brasileiros interessados no assunto. “Uma excelente oportunidade”, rejubila – se Dulce Terezinha do Nascimento, uma dos oito bolsistas brasileiros em Kew. A Fundação também deverá oferecer ajuda a pesquisadores interessados no Projeto Nordeste. “Não vamos nos restringir aos desenhos”, anuncia Pendred. “A tendência agora será concentrar esforços nesta missão.”

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