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Groenlândia já perdeu 3,8 trilhões de toneladas de gelo

Geleiras estão derretendo 7 vezes mais depressa do que na década de 1990, quando a medição começou a ser feita

Por A. J. Oliveira
11 dez 2019, 17h07

Não é fácil fazer projeções precisas para o futuro baseadas em modelos climáticos. Isso porque o clima da Terra é muito complexo, e as observações nem sempre são detalhadas o bastante. Assim, as incertezas ficam altas. Uma forma de entender melhor essas incertezas e atenuá-las é coletar mais dados observacionais — foi o que fez um grupo de 89 cientistas polares apoiados pelas agências espaciais americana (Nasa) e europeia (ESA). Em um dos levantamentos mais abrangentes realizados até agora sobre o derretimento das geleiras da Groenlândia, os pesquisadores usaram dados de 13 diferentes satélites para medir quanto de gelo foi perdido para o mar entre 1992 e 2018. A constatação impressiona: o total foi de 3,8 trilhões de toneladas ao longo do período de 26 anos. Se toda essa essa água fosse usada para encher piscinas olímpicas, seriam 120 milhões a cada ano.

Os resultados obtidos pelo grupo internacional IMBIE foram publicados nesta terça (10) na revista Nature. Eles mostram que, com a intensificação do aquecimento global, também a perda das geleiras groenlandesas está acelerando em níveis alarmantes. Nos anos 90, a massa de gelo que se perdia a cada ano era de 25 bilhões de toneladas; já a taxa atual saltou para 234 bilhões de toneladas anuais — ocorre sete vezes mais depressa que antes.

Segundo os dados, esse derretimento contribuiu sozinho com um aumento de 11 milímetros no nível do mar. Se a situação seguir no ritmo atual, a estimativa é que até 2100 o número fique em torno de 70 e 130 milímetros. O estudo comprova que o mundo caminha para o pior dos cenários contemplados pelas projeções de aumento do nível do mar, colocando em risco milhões de pessoas que vivem em zonas litorâneas.

“Para cada centímetro de aumento, 6 milhões de pessoas são expostas a alagamentos costeiros ao redor do planeta”, disse em comunicado Andrew Shepherd, primeiro autor do artigo e pesquisador da Universidade de Leeds, no Reino Unido. Além de alagar cidades e portos, causar erosão e contaminar plantações e aquíferos com sal, o aumento do nível do mar também agrava a ocorrência de furacões e tempestades.

A Groenlândia, um território dinamarquês, é a maior ilha da Terra, e três quartos de seu território é coberto por gelo. Se todo esse gelo derretesse, elevaria o nível dos mares em 7,4 metros. É o único lugar além da Antártida a abrigar um manto de gelo permanente: massas em áreas maiores que 50 mil quilômetros quadrados — abaixo disso ficam as chamadas calotas glaciares. A própria existência desse manto ajuda a resfriar o planeta.

Todo esse gelo reflete a radiação solar que incide ali para o espaço. Conforme ele vai sendo perdido, o solo da Groenlândia absorve mais calor, e portanto também aquece ainda mais o planeta. O novo estudo do IMBIE deve melhorar a precisão dos modelos usados pelo IPCC para avaliar os riscos que o aumento do nível do mar impõem a populações no presente e no futuro. Cada milímetro provoca estragos — e a única saída é frear o aquecimento global.

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