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Grupo Amish têm mutação genética que faz viver 10 anos a mais

Uma anomlia que aumenta a expectativa de vida está se espalhando em uma das comunidades de cristãos radicais, que não usam carro ou celular

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 22 dez 2017, 12h08 - Publicado em 16 nov 2017, 16h11

Pedra filosofal? Fonte da juventude? Esqueça tudo isso: se quiser garantir uns anos de vida a mais na face da Terra – e de quebra evitar problemas como o diabetes –, você precisa mesmo é de um pouco de DNA Amish nas suas células.

Os Amish são um grupo cristão conservador, famoso por usar trajes sóbrios e evitar contato com automóveis, celulares e outras inovações tecnológicas não tão recentes assim. Sua origem é uma espécie de “ala radical” do protestantismo que emergiu na Suíça no final do século 16 – e atravessou o oceano, pegando carona com a colonização dos atuais territórios dos EUA e do Canadá. Atualmente, há por volta de 200 mil fiéis dessa denominação na América do Norte.

Como eles são obrigados a se casar com membros da própria comunidade, tendem a ter grandes semelhanças genéticas entre si. Isso é ruim por um lado, já que torna quase impossível evitar a disseminação de doenças hereditárias quando elas aparecem. Por outro, se calhar de aparecer um gene novo e extremamente vantajoso em um Amish, em algumas poucas gerações ele se espalhará e beneficiará uma grande fatia da população.

É justamente esse fenômeno que foi “flagrado” por pesquisadores da Universidade Northwestern, em Chicago. Analisando uma amostra de 177 Amish do estado de Indiana, eles descobriram que 43 deles carregavam uma rara alteração no gene Serpine1 – associada a um aumento médio de dez anos na expectativa de vida do portador, além de um metabolismo mais saudável e maior resistência ao diabetes.

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“Essa é uma mutação genética rara, que parece proteger contra o envelhecimento biológico em seres humanos”, explicou à imprensa Douglas Vaughan, líder do estudo. Os resultados foram publicados em um artigo científico.

Uma das funções do gene Serpine1 é dar ao corpo as instruções para fabricar uma proteína chamada PAI-1, que estimula o processo de senescência. Em bom português, sua função é impedir nossas células de criarem novas cópias de si próprias – o que impede a renovação dos nossos tecidos e nos leva, em última instância, à morte.

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Quando esse gene “dá pau”, as células não recebem mais instruções para parar de se reproduzir – e o portador da mutação acaba vivendo mais e melhor. Vaughan e sua equipe verificaram uma redução de 50% na produção de PAI-1 nos Amish estudados – o que significa, em termos biológicos, que eles herdaram uma cópia problemática do gene de um dos pais, e uma cópia saudável do outro (o que os torna heterozigóticos).

Em escala celular, essa juventude prolongada se manifesta em estruturas chamadas “telômeros”. Telômeros são estruturas que ficam posicionadas como tampas de caneta na ponta dos cromossomos. Via de regra, eles ficam mais curtos conforme o corpo envelhece. Não por coincidência, os telômeros dos Amish que ganharam na loteria genética são mais compridos que o normal para suas faixas etárias – uma prova de que eles realmente demoram mais para entrar na terceira idade.

Legal. Só não dá para exagerar na dose. Sete dos 43 investigados acabaram herdando a característica tanto do pai quanto da mãe – o que cortou completamente a atuação do Serpine1, e, por consequência, a produção de PAI-1. Os pesquisadores ainda não sabem o quanto uma dose dupla da mutação será capaz de aumentar a expectativa de vida desses portadores – o mais velho deles tem 30 anos de idade. Mas eles já sofrem com problemas de saúde associados ao problema. Na dúvida, melhor não exagerar: dez anos a mais já são bastante coisa, não é mesmo?

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