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IgNobel 2024: a pesquisa que provou que mamíferos podem respirar pelo ânus

O prêmio que celebra descobertas científicas engraçadas agraciou um estudo que mostra que camundongos, ratos e porcos podem receber oxigênio por... lá (rs).

Por Eduardo Lima
13 set 2024, 19h00

Todo ano, a comunidade científica espera ansiosamente duas premiações: o Nobel e o IgNobel, que celebra as descobertas mais inusitadas, engraçadas ou francamente escatológicas do passado recente com potencial para aumentar o interesse em ciência do público não especialista.

Nesta edição, a premiação organizada pela debochada revista Annals of Improbable Research (“Anais da Pesquisa Improvável”) reconheceu um estudo de 2021 que descobriu que alguns mamíferos podem, em situações de emergência, respirar pelo ânus.

O estudo que ganhou o prêmio IgNobel de Fisiologia de 2024 foi publicado no periódico Med. Nele, os pesquisadores sugeriam que essa descoberta, se aplicável aos seres humanos, poderia ser aproveitada para combater a crise de falta de respiradores durante a pandemia de covid-19.

Como funciona

Peixes como o bagre-americano e até tartarugas com a capacidade de respirar pelo reto em situações de privação de oxigênio já eram conhecidos pela ciência.

Pensando nisso, e motivado pela intubação de seu pai com uma infecção pulmonar, o cientista japonês Takanori Takebe começou a pesquisar se os mamíferos também tinham essa característica.

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Os experimentos de Takebe e sua equipe foram realizados com camundongos, ratos e porcos. Para isso, eles privavam os animais de oxigênio e testavam diferentes formas de inserção de O pelo ânus.

Oxigênio gasoso, junto de raspagem do muco retal, proporcionou os melhores resultados, mas fazer essa raspagem pode trazer outros problemas para o sistema digestivo – além de um profundo desconforto.

Por isso, os cientistas trocaram o gás pela solução aquosa perfluorocarbono (PFC) oxigenado, compatível com o corpo humano e riquíssima em O.

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Os animais do grupo de controle, sem nenhum tipo de ajuda anal, não aguentaram mais de 11 minutos sem oxigênio.

Já a taxa de sobrevivência entre os que receberam a versão gasosa foi de 75%, com alguns aguentando até 50 minutos em hipóxia (quando as células não conseguem respirar). Os resultados foram semelhantes para quem recebeu a solução líquida de PFC oxigenado. 

Nenhum dos casos apresentou efeitos colaterais, mas não se sabe os impactos de longo prazo do tratamento. O fato é que o intestino consegue, sim, fazer trocas gasosas e mandar oxigênio direto para a circulação, já que é cheio de vasos sanguíneos. É por isso que vários medicamentos podem ser administrados pela via retal, com efeito rápido no corpo todo.

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Medicina tradicional

A ventilação enteral – ou seja, pelo intestino – ainda está longe de poder ser aplicada em casos com humanos. Por mais que a equipe de Takebe tenha descoberto que o método funciona com porcos, ratos e camundongos, ainda são precisos muitos outros estudos para entender se isso seria possível ou indicado para pessoas.

Até isso virar prática clínica, há um longo caminho. Muitos testes de medicamentos para humanos são feitos com porcos, que compartilham semelhanças fisiológicas conosco. Nesse caso, a técnica seria menos invasiva do que a ventilação mecânica e ajudaria a não sobrecarregar hospitais.

O método pode parecer bizarro, mas tem história: indígenas norte-americanos faziam algo muito parecido há 400 anos com o enema de fumaça de tabaco. O método era usado para reavivar e aquecer pessoas próximas da morte, como vítimas de afogamento. Um tubo longo era usado para soprar a fumaça diretamente no ânus dos doentes. Veja só você: conhecimento tradicional chegando no palco do IgNobel.

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