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‘Ilhas de floresta’ são alternativas eficazes para recuperar a biodiversidade em monoculturas

Estudo conduzido por brasileiro aponta que o plantio de espécies nativas no meio de plantações intensivas pode ajudar a resgatar a biodiversidade local.

Por Bela Lobato
14 nov 2024, 18h00

Em meio a uma monocultura, “ilhas” de floresta com vegetação nativa são uma boa alternativa para recuperar a biodiversidade local, concluiu uma nova pesquisa. O estudo de larga escala, feito em uma plantação de dendê na Indonésia, também apontou que quanto maiores e mais diversas forem essas ilhas, melhor.

O experimento foi dirigido por instituições alemãs e indonésias, durou seis anos e os resultados foram publicados hoje (14) na revista Science. No começo, 52 ilhas de árvores foram criadas, cada uma com um design experimental diferente, para testar os efeitos que cada tipo teria nos resultados finais de restauração da mata nativa.

As áreas iam de 25 a 1.600 metros quadrados em extensão, com diferentes quantidades de espécies nativas de árvores, variando de nenhuma até seis espécies. Ao final do experimento, os pesquisadores contaram 2.788 novas plantas de 58 espécies e 28 famílias diferentes – ou seja, a biodiversidade floresceu. Muitas delas já começaram a frutificar e algumas já têm mais de 15 metros de altura.

As ilhas de árvores com maior diversidade inicial permitem a sobrevivência e regeneração de espécies com diferentes estratégias ecológicas. Assim, o ecossistema se torna mais forte e resiliente.

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Ainda assim, os cientistas afirmam que o nível de biodiversidade dessas áreas é menor do que os das florestas primárias, que nunca foram devastadas. A conservação dessas áreas é insubstituível, mas as ilhas de floresta são oferecidas como alternativas para acelerar a restauração florestal sem a necessidade de plantio extensivo.

Essas ilhas também podem facilitar a dispersão de sementes por animais e melhorar as condições microclimáticas. Além disso, os autores apontam no texto que os efeitos positivos “transbordam” a área das florestas e, por isso, “é possível esperar efeitos positivos nos serviços de ecossistemas, como a polinização de culturas e o controle biológico de pragas”.

“Essas ilhas funcionam como atratores de biodiversidade; após seu crescimento, as árvores atraem aves e animais frugívoros, que trazem mais sementes e enriquecem a regeneração da vegetação. Com o tempo, essas ilhas podem se expandir e formar uma área florestal contígua, sem a necessidade de plantar árvores em toda a área”, explica o brasileiro Gustavo Paterno, pesquisador na Universidade de Göttingen, na Alemanha, e autor principal do estudo, em comunicado divulgado pela Agência Bori.

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Segundo Paterno, o Brasil poderia adaptar esse método, utilizando espécies nativas e diferentes composições de ilhas de acordo com as especificidades dos biomas brasileiros. “Essas medidas podem manter parte da biodiversidade tropical fora das áreas protegidas e, ao mesmo tempo, proporcionar benefícios ecológicos, sociais e econômicos”, os autores explicam no texto.

“Por exemplo, a abordagem poderia ser aplicada em plantações de eucalipto, que ocupam grandes áreas na Mata Atlântica, assim como em outras monoculturas importantes, como laranja, café, cana-de-açúcar, e soja”, explica Paterno. Para o pesquisador, o principal benefício dessa estratégia é manter parte da biodiversidade nativa que não consegue sobreviver na matriz agrícola, ampliando a capacidade de conservar a biodiversidade desses ecossistemas.

A escolha de uma plantação de dendê na Indonésia não foi aleatória. “As florestas do sudeste asiático são pontos críticos de biodiversidade que passaram por conversão em larga escala em plantações de dendê africano”, escreveram os autores no estudo. “Isso resultou em perdas alarmantes de biodiversidade, história evolutiva e da função do ecossistema.”

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