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Islândia cria memorial para a primeira geleira destruída pelas mudanças climáticas

Okjökull perdeu o status de geleira em 2014 e passou a se chamar apenas Ok; especialistas temem que as mais de 400 geleiras do país sofram o mesmo fim nos próximos 200 anos

Por A. J. Oliveira
25 jul 2019, 07h58

Na língua islandesa, a palavra jökull significa geleira. Cinco anos atrás, em 2014, a Islândia perdeu oficialmente sua primeira geleira, Okjökull, para o aquecimento global — e o jökull de seu nome perdeu a razão de ser. Desde então, o local passou a se chamar apenas Ok. Pesquisadores da Universidade Rice, dos Estados Unidos, contaram essa história em um documentário. Agora, o lugar simbólico está prestes a ganhar um memorial.

A placa é uma “carta para o futuro” de autoria do escritor islandês Andri Snær Magnason, candidato nas eleições presidenciais de 2016 no país. Ela diz o seguinte: “Ok é a primeira geleira islandesa a perder seu status de geleira. Nos próximos 200 anos, todas as nossas geleiras devem seguir o mesmo caminho. Este monumento é para reconhecer que sabemos o que está acontecendo e o que precisa ser feito”. E termina: “só vocês sabem se fizemos”.

O memorial será inaugurado em agosto de 2019, durante uma cerimônia com a presença do autor, dos documentaristas e do glaciólogo Oddur Sigurðsson, que fez o atestado de óbito da Okjökull há cinco anos. Os organizadores convidaram o público a participar do evento gratuito: a “Turnê Degelo” sai da capital Reykjavík no domingo (18/8) às 9 da manhã e segue por 90 km até o monte Ok. O grupo retorna no final da tarde.

Embaixo da data, a mensagem termina com “415ppm CO2” — nível de dióxido de carbono registrado em maio na atmosfera. Foi a primeira vez ao longo de toda a história humana que a concentração do gás atingiu a marca. “Será o primeiro monumento à uma geleira perdida para as mudanças climáticas no mundo inteiro”, disse em comunicado a antropóloga Cymene Howe. Ela e o colega Dominic Boyer produziram o documentário Not Ok.

(Rice University/Divulgação)

Okjökull era uma das menores geleiras islandesas conhecidas, e seu declínio foi aceleradíssimo. De 1901 a 1945, ela passou de 38 km² para ínfimos 5 km². Em 2005, já havia sumido quase que por completo, restando apenas alguns resquícios. Somadas, as mais de 400 geleiras da Islândia estão perdendo 11 bilhões de toneladas de gelo por ano — estima-se que todas devam desaparecer até 2200 se as emissões de gases do efeito estufa não diminuírem.

E não é só na Islândia que o aquecimento global causado pelas atividades humanas está condenando geleiras: Antártida, Groenlândia e outros pontos do planeta também estão sofrendo perdas severas. Além de preservarem registros atmosféricos do passado distante, as geleiras também são valiosas fontes de água doce que se perdem. Howe e Boyer esperam despertar a consciência da Islândia e do mundo sobre esse risco.

“Um de nossos colegas islandeses foi muito sábio quando disse que os memoriais não são para os mortos; eles são para os vivos”, diz Howe. “Com este memorial, queremos sublinhar que cabe a nós, os vivos, responder coletivamente à rápida perda das geleiras e aos impactos em andamento das mudanças climáticas. Para a geleira Ok, já é tarde demais; ela é agora o que os cientistas chamam de ‘gelo morto’.” Só nós podemos salvar as demais geleiras. E pode ter certeza: as futuras gerações irão nos culpar para sempre se falharmos.

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