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Limpando lixo espacial

O acúmulo de detritos em órbita já começa a causar colisões entre satélites

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h52 - Publicado em 12 fev 2011, 22h00

Não é tão glamoroso falar disso, mas o espaço sideral está cheio de lixo. Sim, lixo. E o pior: nós é que colocamos toda aquela tranqueira por lá.

Para cada satélite que lançamos, o último estágio do foguete usado no lançamento também costuma ir parar numa órbita ao redor da Terra. Isso sem falar em pequenos detritos gerados pela separação de estágios. Ou seja, para cada peça tecnologicamente útil que colocamos lá em cima, um monte de porcaria acaba indo junto.

A nossa sorte é que o espaço é, como o nome sugere, bem espaçoso. Mas, no ritmo atual, logo, logo teremos problemas sérios com detritos. Ou melhor, já estamos tendo. Pergunte à empresa de telecomunicações Iridium. No dia 10 de fevereiro deste ano, ela subitamente perdeu contato com um de seus satélites. Quando foram ver o que tinha acontecido, ele havia sido destruído por uma colisão com um antigo satélite militar soviético, há muito desativado. Além do prejuízo, o episódio produziu, adivinhe o quê, mais lixo espacial. Em vez de dois satélites, agora havia mais de 60 pedaços grandes (além de incontáveis pedaços pequenos) de metal em órbita da Terra.

Esses detritos causaram alarme. Até mesmo a Estação Espacial Internacional correu um pequeno risco de ser atingida pelos destroços.

Desde o impacto original, nenhuma colisão subsequente foi registrada – ainda. Mas o episódio, até então inédito na história da exploração espacial, foi um alerta: o limite para a quantidade de lixo que o espaço ao redor da Terra pode absorver está perto de ser atingido. Mais que isso e teremos outras colisões com resultados sérios.

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“O espaço é o ambiente mais frágil que existe, porque tem a menor capacidade de se reparar. Apenas a atmosfera da Terra pode remover satélites de órbita”, afirma Joel Primack, astrônomo da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, nos EUA. “Destroços em órbitas mais altas do que 800 quilômetros da superfície estarão lá por décadas; mais do que 1 000 quilômetros, por séculos; e acima de 1 500 quilômetros, praticamente para sempre.”

Indo para o pau no espaço

Mesmo com os esforços para reduzir a poluição espacial, o pior, ao que parece, ainda está por vir. Desde o início da década, supostamente empurrado pelo combate ao terrorismo, o governo americano desistiu de seguir os acordos estabelecidos durante a Guerra Fria para impedir o armamentismo espacial e decidiu trabalhar forte no desenvolvimento de um escudo antimísseis, com infraestrutura instalada em terra e no espaço. O projeto, apelidado de Guerra nas Estrelas, existe desde o governo Reagan, nos anos 80, mas só agora parece ter sido encampado de forma definitiva pelos americanos.

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A ideia já está incomodando, e muito, a comunidade internacional. A Rússia já se manifestou contra a instalação de armas no espaço. A mesma coisa fez a China. Mas, depois que os protestos ressoaram em ouvidos surdos, os chineses decidiram fazer um barulho maior. Em janeiro de 2007, usaram um míssil para demonstrar sua capacidade de destruir objetos em órbita. Detonaram um antigo satélite meteorológico chinês. O resultado final, de novo, foi a produção de milhares de detritos espaciais, localizados na antiga órbita do satélite.

“Talvez a razão pela qual a defesa de mísseis no espaço tenha ido tão longe quanto foi seja porque tão poucas pessoas entendem as leis da física”, diz Primack. “O espaço nunca fica limpo após uma explosão próxima ao nosso planeta. Os fragmentos continuam circulando a Terra, suas órbitas cruzando as de outros objetos. Lascas de tinta, parafusos perdidos, peças de foguetes explodidos – tudo isso vira pequeninos satélites.”

Caso os americanos instalem – e venham a utilizar – seu escudo antimísseis no espaço, corremos o risco de que a quantidade de detritos produzida leve a uma reação em cadeia que destrua muitos dos nossso preciosos satélites em órbita. Além disso, a iniciativa americana acaba dando o direito a outras nações de fazerem a mesma coisa. No fim das contas, caso um ou vários países vão mesmo para o pau no espaço, a Terra pode acabar envolvida por um invólucro impenetrável de lixo – problema que impediria todas as iniciativas futuras de exploração espacial, tripuladas ou não.

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