Mãozinha da ciência
Para evitar que os filhotes de condor-dos-andes se acostumem com os humanos, biólogos argentinos resolveram trapacear usando fantoches de aves adultas.
Texto Pedro Lima
O condor-dos-andes voa 500 quilômetros por dia, vive em média 77 anos e a envergadura de suas asas chega a 3 metros, o que garante a ele o título de maior ave de rapina do mundo. Tanto poder não evitou que o pássaro sagrado dos antigos incas entrasse em extinção – em toda a América do Sul, restam menos de 4 mil indivíduos. Na tentativa de salvá-lo, biólogos argentinos estão fazendo um megaprojeto de repovoamento. A missão de resgate consiste em coletar ovos de casais mantidos em zoológico e chocá-los em incubadoras, onde ficam muito mais protegidos e têm mais chances de resultar em filhotes. Para que os bichos não se acostumem com os humanos, os biólogos dão uma enganada neles na hora de alimentá-los: usam fantoches de condor adulto como esse aí de cima.
O teatrinho com o filhote é só uma fase do projeto. Depois de coletar o ovo, os biólogos o monitoram por dois meses, até que a casca se rompe. Quando o condor começa a crescer, o contato com humanos é evitado ao máximo – se ele deixar de se identificar com a própria espécie, poderá ter dificuldades em se relacionar com outros condores e se reproduzir. Após um ano no zôo de Buenos Aires, quando já consegue comer sozinho, o bicho é solto em habitat natural – as altas montanhas andidas, onde seus vôos chegam a 10 mil pés. Desde 1991, o projeto já devolveu 77 exemplares a parques de 5 países. Um deles é o sítio Paileman, na Patagônia – o mesmo onde Charles Darwin estudou a espécie há 170 anos. Do total de condores entregues, 24 vieram de incubadoras e o resto foi encontrado ferido e curado por veterinários do projeto. Uma vez liberados, os condores são rastreados por satélite, tudo para assegurar que se adaptem bem.