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Memórias perdidas são resgatadas com luz

E isso pode ser uma revolução para a neurociência. Entenda por quê

Por Fábio Marton
Atualizado em 31 out 2016, 19h06 - Publicado em 29 Maio 2015, 20h45

Cientistas do Massachusetts Institute of Technology – o famoso MIT – conseguiram reativar1 memórias perdidas por amnésia retrógrada. E, ao fazerem isso, acreditam ter respondido algumas das grandes dúvidas da neurociência.

Amnésia retrógrada é aquela na qual as memórias haviam sido armazenadas e eram lembradas, mas deixaram de ser. Acontece em lesões cerebrais, estresse ou doenças como o Mal de Alzheimer. É diferente da amnésia anterógrada, quando novas memórias não podem ser formadas – e, assim, não há o que se recuperar.

Funcionou assim: primeiro, os cientistas condicionaram ratos de laboratório a temerem uma câmara que dava choques elétricos – fraquinhos, eles garantem. Quando os ratos que haviam passado pelo trauma eram postos novamente na câmara, mesmo sem choques, imediatamente paralisavam de medo. Alguns desses ratos receberam então a aplicação de anisomicina, uma droga que impede a consolidação de memórias. Tornaram-se completamente indiferentes à câmara do terror. Conclusão: não se lembravam dela.

Os cientistas então fizeram uso de uma técnica chamada optogenética. Com o uso de vírus, modificam-se os genes de certos neurônios, de forma que criem proteínas ativadas por luz. Então se lança um feixe de laser ou luz comum contra esses neurônios, que têm sua atividade estimulada. Aplicando os feixes às células responsáveis por buscar a memória, os cientistas fizeram os ratos amnésicos temerem novamente a câmara. Isto é, curaram sua amnésia.

A pesquisa é extremamente importante por duas razões. Primeiro, eles responderam a uma velha questão, se a amnésia é causada por dano direto às células que armazenam a memória ou se a memória ainda está lá, mas foi tornada inacessível. “A maioria dos pesquisadores favoreciam a teoria do armazenamento, mas mostramos no nosso paper que a maioria está provavelmente errada”, afirma Susumu Tonegawa, condutor do estudo2, num release do MIT. “Amnésia é um defeito da recuperação [de memórias]”.

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A outra razão é que o estudo pode ter esclarecido a própria maneira como as memórias são armazenadas. Não estava muito claro como funciona o engrama, a forma como o cérebro vai buscar as memórias. Havia a ideia que as sinapses de um único neurônio seriam responsáveis por esse trabalho. Mas a pesquisa indica que são múltiplas, em um vasto circuito cerebral. “Estamos propondo um novo conceito, no qual existe um caminho de várias células de engrama, ou circuito, para cada memória”, afirma Tonegawa. “Esse circuito passa por múltiplas áreas cerebrais e os caminhos das células de engrama nessas áreas são conectados especificamente para uma memória em particular.”

Referências:

1) Engram cells retain memory under retrograde amnesia, ScienceMag:  https://www.sciencemag.org/content/348/6238/1007

2) Researchers find “lost” memories, MIT: https://newsoffice.mit.edu/2015/optogenetics-find-lost-memories-0528

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