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Metabolismo pode explicar longevidade do vertebrado mais velho do mundo

O tubarão-da-groenlândia tem expectativa de vida de 400 anos – e o mais velho deles pode ter até 523 anos. Entenda como funciona seu organismo.

Por Eduardo Lima
3 jul 2024, 18h00

O tubarão-da-groenlândia é o animal vertebrado mais longevo conhecido. O peixe, que pode medir mais de 6,5 metros de comprimento e pesar mais de uma tonelada, tem uma expectativa de vida estimada de 400 anos. É o dobro do que vivem as tartarugas-gigantes, que são os animais terrestres mais duradouros.

O animal mais velho do mundo é um desses tubarões. Ele pode ter até 523 anos de idade – o que seria suficiente para acompanhar toda a história do Brasil. Os cientistas chegaram a essa estimativa medindo os níveis de radiocarbono nos olhos de fêmeas que foram capturadas acidentalmente por um barco de pesca. É provável que elas sejam mais novas, mas não dá para dizer com certeza qual a idade do peixe secular.

Uma nova pesquisa experimental, liderada pelo doutorando Ewan Camplisson na Universidade de Manchester, no Reino Unido, tenta entender os segredos da longevidade desses animais, estudando seu metabolismo.

“Nós testamos cinco enzimas metabólicas e suas taxas de atividade [nos tubarões]”, explica Camplisson. Esses catalisadores são essenciais para diferentes etapas do metabolismo, ajudando a ter uma visão compreensiva de como funciona a produção de energia para o tubarão-da-groenlândia.

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A atividade das enzimas foi testada nos músculos de fibra vermelha de 23 tubarões com idades entre 60 e 200 anos. Em outras espécies, essa atividade varia dependendo da idade do indivíduo, o que é um sinal tradicional de envelhecimento. Os  tubarões-da-groenlândia, por outro lado, não apresentaram uma variação significativa nos níveis de atividade, fossem eles mais jovens ou mais velhos.

Mudanças climáticas ameaçam longevidade

Apesar do nome, o tubarão-da-groenlândia já foi avistado nadando pelo oeste do Caribe. Mesmo assim, ele prefere águas frias e profundas, e por isso é menos estudado do que outros tubarões.

Seu nome científico, Somniosus microcephalus, significa “sonolento de cabeça pequena”, fazendo referência ao comportamento lento do tubarão raro. Sua longevidade já foi associada aos ambientes frios e aos poucos movimentos dos animais, mas a pesquisa liderada por Camplisson mostra que o segredo da longa vida dos peixes é mais complexo.

Os tubarões-da-groenlândia têm um amadurecimento tardio. Eles só atingem a idade reprodutiva, em média, aos 150 anos. “Com o aumento das temperaturas da água ao redor do mundo, eu acredito que é importante entender como a espécie vai reagir a essas condições”, diz Camplisson.

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O estudo experimental mostrou que o metabolismo dos tubarões muda de forma significativa quando a temperatura da água é mais quente. Ainda não dá para saber se essa mudança na atividade das enzimas é prejudicial para a longevidade da espécie, mas já dá para perceber que os animais são sensíveis à variação térmica.

Saber que os tubarões-da-groenlândia são afetados por temperaturas mais quentes pode influenciar medidas de conservação dos animais, que correm risco de extinção num mundo de mudanças climáticas.

Entender melhor o metabolismo do tubarão-da-groenlândia é importante não só para a conservação dos peixes, mas para os seres humanos, também. Agora que sabemos que o metabolismo dos tubarões funciona de um jeito diferente, entender como isso acontece pode ser importante para “melhorar a vida dos mais idosos, que podem sofrer com problemas cardiovasculares”, espera Camplisson.

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