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Mito: a acústica dos anfiteatros da Grécia antiga não é milagrosa

Sabe aquela história de que dá para ouvir uma moeda cair no chão da última fileira? Então, não é bem isso

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
16 out 2017, 18h24

Cientistas descobriram que a acústica de anfiteatro de Epidauro, construído pelos gregos há 2,4 mil anos, não é tão boa assim – e que, ao contrário do que reza uma das lendas favoritas de guias turísticos, não dá para ouvir uma moeda cair no chão do palco (ou um fósforo sendo aceso) se você estiver sentado na última fileira.

Os responsáveis por derrubar o mito foram quatro pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda. Eles distribuíram 20 microfones pelos assentos, alguns mais próximos da “grade”, outros mais distantes. Depois, posicionaram duas caixas de som no palco, que emitiram sons de diferentes volumes e frequências – foram geradas, ao todo 2,4 mil gravações. O procedimento (que foi repetido em outros dois anfiteatros célebres, o Odeão de Herodes Ático, em Atenas, e o Teatro de Argos) é relatado em uma série de quatro artigos científicos.

Depois de usar os sons artificiais para colher dados de referência, os pesquisadores tocaram sons reais – como a moeda e o fósforo já citados, um papel sendo rasgado e um ator sussurrando – e viram como eles se comportavam.

De fato, foi possível ouvir a moeda cair e o papel ser rasgado nas fileiras mais distantes (são 55 ao todo). Mas o som era tão tênue que o ouvido humano não colheria informações suficientes para sabermos quais fenômenos geraram os ruídos. O fósforo sendo aceso só é ouvido pela metade inferior da plateia, e o sussuro alcança apenas as primeiras fileiras.

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Isso não significa que os anfiteatros são ruins. Artigos mais antigos, como este, de 2007, provam que a arquitetura de estruturas como o de Epidauro é de fato capaz de conter frequências mais graves (as que geralmente compõe o ruído ambiente) e filtrar as mais agudas, o que colabora com a compreensão da voz humana para quem está longe da fonte de emissão.  

A  questão é que não dá para fazer milagre – um toque de ceticismo que foi bem recebido por outros pesquisadores da área. “Você certamente pode ouvir coisas, mas os resultados estão certos: se você quer entender o que está sendo dito, ter uma percepção boa até nas últimas fileiras, então você precisa de alguém que possa projetar a voz”, afirmou ao The Guardian Bruno Fazenda, da Universidade de Salford.

 

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