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Não existe “gene gay” único que defina a sexualidade

Uma ampla pesquisa revela que milhares de genes influenciam o comportamento sexual — mas nenhum deles é capaz de “prever” a sexualidade do indivíduo.

Por Maria Clara Rossini
30 ago 2019, 20h00

A sexualidade não é determinada por um único gene específico, e tampouco é uma “opção” do indivíduo. A maior pesquisa da história sobre genética e sexualidade identificou centenas de milhares de genes que influenciam o comportamento sexual. Cada um deles produz um efeito pequenino, e em conjunto colaboram para as diferentes maneiras de se relacionar.

O estudo publicado pela revista Science analisou o DNA de meio milhão de pessoas. E conseguiram quantificar o tamanho da influência da genética no comportamento sexual – ela teria 25% da responsabilidade na hora de determinar a orientação sexual de alguém. 

Mesmo assim, afirmam aos autores, a genética não justifica, sozinha, um comportamento tão complexo. O que isso quer dizer é que teste de DNA nenhum é capaz de cravar se um indivíduo é heterossexual, bissexual, homossexual ou se possui alguma outra orientação.

A principal característica ressaltada pelos autores é que definitivamente não existe um “gene gay”.

A década de 1990 viu surgir uma enorme quantidade de pesquisadores em uma cruzada para localizar o fator determinante da homossexualidade no material genético. Um estudo de 1993 até alegou ter encontrado o tão procurado “gene gay”, supostamente encontrado no cromossomo X — mas a ideia logo foi refutada por pesquisas posteriores.

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Até então, a maioria dos estudos usava uma amostragem pequena de pessoas e focava principalmente na população masculina. A abrangência amostral de quase 500 mil pessoas e metodologia de pesquisa é o que diferencia a nova publicação.

Os participantes foram divididos em dois grupos: aqueles que declararam já ter transado com pessoas do mesmo sexo e os que mantinham relações somente com o sexo oposto. Em uma primeira análise, os cientistas compararam mais de um milhão de marcadores de diferenças genéticas para verificar se as pessoas com os mesmos marcadores também tinham os mesmos comportamentos em comum. O resultado é capaz de explicar de 8% a 25% das variações entre comportamentos sexuais.

Os pesquisadores ainda fizeram uma segunda análise, dessa vez focando em procurar qual gene específico seria mais influente na situação.  Foramencontrados cinco marcadores mais comuns em indivíduos que relacionam com o mesmo sexo — dois em ambos os sexos, dois apenas em homens e um somente em mulheres. Juntando todos esses diferenciadores, eles não são capazes de explicar nem 1% do comportamento sexual.

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Essas variantes genéticas podem não explicar a orientação sexual, mas dão dicas de onde as diferenças podem estar. Um dos marcadores está perto dos genes que determinam a calvice, sugerindo que ele possa estar relacionado à testosterona. Outro marcador encontra-se em uma área associada ao olfato, que também está ligado à atração sexual.

Mesmo sem encontrar um gene específico e determinante, o estudo é a evidência mais sólida que mostra a existência uma base genética (ainda que complexa) a sexualidade. “Pela primeira vez, podemos dizer que conhecemos alguns genes que de fato influenciam a propensão a ter parceiros do mesmo sexo”, diz o psicólogo Michael Bailey em entrevista à Science Magazine.

No entanto, a pesquisa não abarcou todas as letras do movimento LGBT+. Para tornar o estudo o mais preciso possível, os pesquisadores estudaram apenas o DNA de pessoas cujo sexo biológico condiz com gênero com os quais elas se identificam. Ou seja, transsexuais e não-binários foram deixados de fora dessa vez.

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A fonte dos dados foi uma limitação para o estudo. Grande parte dos dados genéticos foi obtida pelo UK Biobank, um programa que monitora a saúde de milhares de britânicos. O questionário aplicado aos participantes se limitava a perguntar se eles já haviam tido alguma experiência sexual com alguém do mesmo sexo, e não sobre a sexualidade em si. Ter relações com o mesmo sexo pode apontar apenas a intenção de experimentar, e não necessariamente é um indicador da homossexualidade.

Ainda são necessários mais estudos sobre o tema — tanto para incluir mais pessoas quanto para explorar outras variantes genéticas. A sexualidade humana é muito mais complexa do que achávamos no passado. Por isso, o estudo recente contou com a instrução de grupos LGBT+ sobre a melhor forma de apresentar os dados ao público. O site da pesquisa conta com um vídeo que expõe os resultados de forma didática e também pontua as limitações da metodologia. Para quem quiser conferir, o site pode ser acessado aqui.

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