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Cientistas divulgam primeira imagem de um buraco negro

Colaboração internacional com mais de 200 pesquisadores obtém imagem revolucionária - que revela a estrutura do buraco negro supermassivo da galáxia M87

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 28 out 2019, 14h24 - Publicado em 10 abr 2019, 12h55

Quarta-feira, 10 de abril de 2019. Foi neste dia que, pela primeira vez, o mundo pôde ver com seus próprios olhos algo que, até então, era considerado invisível. “Nós tiramos a primeira foto de um buraco negro”, comemora Sheperd Doeleman, cientista que coordenou a complexa empreitada, em um comunicado. “Isso é um feito científico extraordinário, alcançado por um time de mais de 200 pesquisadores”, afirma o diretor do projeto que, de certa maneira, pode ser considerado a maior “câmera fotográfica” já concebida.

O EHT (sigla em inglês para Telescópio do Horizonte de Eventos) é uma rede que conecta oito potentes radiotelescópios espalhados pelo planeta, trabalhando em conjunto com um objetivo: fotografar a sombra de buracos negros. Esses objetos monstruosos não emitem luz, já que nem fótons escapam do horizonte de eventos, o ponto que delimita a prisão gravitacional do buraco negro. Mas é possível enxergá-lo no meio do anel de matéria brilhante que gira em torno desse “ralo” cósmico.

Foi exatamente essa imagem que foi divulgada hoje, simultaneamente em várias conferências de imprensa conduzidas pelo globo. A foto revolucionária mostra o buraco negro supermassivo no centro da galáxia M87, um dos maiores e mais ativos que conhecemos. Os estudos revelaram que esse objeto concentra uma massa 6,5 bilhões de vezes maior que a do Sol, em um diâmetro de 1,5 dia-luz, comparável ao do Sistema Solar.

Com sua resolução extremamente potente, o EHT deu conta do recado. Se ele fosse uma pessoa sentada em um café em Paris, seria capaz de ler um jornal do outro lado do Atlântico, em Nova York. A rede trabalha com a técnica de interferometria, a mesma utilizada para captar ondas gravitacionais. As observações de todos esses instrumentos são sincronizadas através de relógios atômicos instalados em cada uma das instalações participantes do projeto.

A forma como a colaboração processa todos os dados coletados impressiona. Durante a primeira rodada de observações realizada em 2017, cada um dos sete radiotelescópios gerou 350 terabytes de dados por dia. Como não há nuvem que aguente armazenar tudo isso de informação e nem internet que viabilize um upload diário dessa magnitude, os cientistas realizaram um procedimento peculiar.

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Os dados foram guardados em HDs externos especiais, com gás hélio em seu interior (para evitar danos aos discos, o que causaria perda de dados), e levados de avião até supercomputadores no Instituto Max Planck de Radioastronomia, na Alemanha, e no Observatório Haystack, do MIT, nos Estados Unidos. Nessas máquinas, um total de 5 petabytes de informação foi processado através de modelos e algoritmos avançados, criados pelo próprio EHT.

Durante a coletiva da NSF, a Fundação Nacional da Ciência, uma das financiadoras do projeto, o astrônomo Dan Marrone, da Universidade do Arizona, deu uma noção prática do que são 5 petabytes de dados. Seriam 5 milênios de músicas MP3 tocando (a pirâmide de Gizé foi construída há pouco mais de 4,5 mil anos). Ou, ainda, a soma de todas as selfies tirada por 40 mil pessoas ao longo de toda a vida.

Seis artigos detalhando os resultados foram publicados em uma edição especial do The Astrophysical Journal Letters, e a jornada também será divulgada ao público nesta sexta (12) no documentário Black Hole Hunters (Caçadores de Buracos Negros), produzido pelo Smithsonian Channel. Além de representar o início de uma nova era para o estudo dos buracos negros, o jato violento de partículas que eles liberam e como eles interferem na vida das galáxias e do Universo como um todo, a foto também representou mais uma comprovação da teoria da relatividade geral, de Albert Einstein.

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O formato do anel seguiu à risca as predições elaboradas pelo físico alemão – exatamente 100 anos depois da primeira prova de que a teoria era verídica. Ela foi fornecida durante um eclipse solar em 1919, observado por cientistas britânicos em uma expedição a Sobral, no Brasil, e na Ilha do Príncipe. A foto não deixa dúvida de que a relatividade geral funciona para qualquer tamanho de buraco negro, seja ele de pequeno ou supermassivo.

Durante a coletiva, Shep Doeleman afirmou que não promete nada, mas em breve espera que o segundo alvo do EHT tenha sua foto revelada: o Sagitário A*, buraco negro supermassivo que fica no centro de nossa galáxia. O próximo passo do projeto é realizar melhorias para observar em frequências mais altas e também adicionar novos telescópios à rede, aumentando a resolução e nitidez das imagens.

Atualmente, o projeto já conta com observatórios em vulcões no Havaí e no México, em montanhas do Arizona nos EUA e em Sierra Nevada na Espanha, no deserto do Atacama no Chile e no polo sul, na Antártica. “Dominação mundial não é o suficiente para nós, também queremos chegar no espaço”, disse Doeleman, expressando o objetivo de incluir um telescópio espacial no grupo. O sucesso da empreitada e as expectativas deixam claro: estamos diante de uma revolução no estudo dos buracos negros.

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A SUPER produziu um minidocumentário sobre buracos negros. Para assistir, é só clicar aqui embaixo.

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