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No compasso da Terra

Os ritmos biológicos sintonizam o corpo com a passagem das horas.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h51 - Publicado em 14 out 1999, 22h00

Maria Fernanda Vomero

Quando o astrônomo Jean-Jacques De Mairan (1675-1774) afirmou, em 1729, que os seres vivos tinham ciclos definidos pelo ambiente, a Academia de Ciências de Paris riu da cara dele. Hoje se sabe que a maioria das criaturas possui mecanismos que marcam o tempo e produzem ciclos. Bambus florescem a cada 117 anos; pássaros-pretos têm picos de atividade no começo e no fim do dia; alguns mamíferos hibernam por até seis meses.

Nos seres humanos, o relógio biológico mais importante é o hipotálamo, a parte do cérebro que controla os ritmos com duração de mais ou menos 24 horas. São os chamados ciclos circadianos – do latim, “em torno de um dia”. O ciclo mais evidente é o de atividade e repouso sincronizado pela rotação da Terra. “Os organismos evoluíram num planeta cíclico, onde os dias, as noites e as estações do ano estão sempre se alternando”, explica o fisiologista Luiz Menna-Barreto, da Universidade de São Paulo.

Os genes também funcionam como peças desse relógio natural. Alguns deles são os mesmos para plantas e animais, como é o caso dos responsáveis pela produção das proteínas sensíveis à luz. Sua descoberta revela um aspecto importante da evolução das espécies. “É provável que os organismos que originaram tanto animais quanto vegetais já tivessem ritmos definidos”, comenta o médico John Fontenelle Araújo, do Laboratório de Cronobiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

 

Câmera lenta

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O que dura mais: 2 horas de um bom filme ou 2 horas de uma prova de vestibular? A pergunta parece absurda, mas para o cérebro ela faz muito sentido. Um estudo feito há dois anos por cientistas da Universidade Duke, nos Estados Unidos, mostra que há um circuito de células cerebrais responsáveis pela percepção de determinados intervalos de tempo. Cada movimento nesse relógio interno corresponde ao período que os impulsos nervosos demoram para completar o circuito. Quem sincroniza os impulsos é a dopamina, um mensageiro químico associado à sensação de prazer. Assim, situações de estresse, nas quais o nível de dopamina cai, parecem durar mais. Isso também explica por que pacientes esquizofrênicos sentem o tempo andar mais depressa. A doença aumenta o nível de dopamina no cérebro.

 

A ilha dos madrugadores

Quanto mais perto da linha do Equador, onde os dias são mais longos, mais cedo você tende a dormir e a acordar. Uma pesquisa feita pelo Museu Paraense Emílio Goeldi com moradores de Belém e de uma ilha vizinha, Combu, mostrou que os moradores dessa ilha são os maiores madrugadores do país. Quase 68% dos ilhéus são matutinos radicais: acordam em média às 6h14 e se deitam às 20h38. Em Belém, o horário de acordar é 7h33 e o de dormir, 22h46, em média. A diferença se deve ao fato de os habitantes de Combu viverem da pesca e do extrativismo – seu relógio biológico é sincronizado só pela luz do dia. Na cidade, o trabalho sob luz artificial atrasa o tique-taque do organismo.

 

Quem sabe é super

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Entre os mamíferos, o maior dorminhoco é o leão. Ele dorme 18 horas por dia. Já o sono da girafa é um dos menores – apenas 2 horas por dia.

 

Cronômetro cerebral

Circuitos nervosos controlam a percepção do tempo.

1. Os gânglios basais – um tipo de célula do cérebro – têm circuitos nervosos que marcam o tempo. O relógio é acertado pelo período que um impulso nervoso leva para completar esse circuito.

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2. A dopamina, mensageiro químico liberado por uma região chamada substantia nigra, sincroniza os impulsos. Quanto mais dopamina houver circulando, mais rápido o relógio do cérebro irá andar.

 

Orientação pela luz

Os ritmos diários acompanham as fases de claro e escuro.

16h – GÁS TOTAL

 

O cortisol é um hormônio produzido um pouco antes da hora de despertar. Ele prepara o corpo para as atividades do dia. Por isso, a maior parte das pessoas está mais disposta dutante o dia.

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14h – HORA DA NECA

O desempenho diminui por volta de 2 horas da tarde, quando aumenta a produção de serotonina e acetilcolina, substâncias que diminuem a capacidade dos neurônios. Por isso, em muitos países, a sesta, é sagrada.

 

12h – A VOZ DA BARRIGA

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O organismo se prepara para receber a comida em momentos específicos do dia. Nesses horários, o aparelho digestivo liberar enzimas e ácido clorídrico, que irão atacar as paredes internas do estômago se a comida não chegar na hora certa.

 

6 h – JANELAS DO CORPO

A luz captada pelos olhos e por células sensíveis do corpo vai para a área do cérebro que comanda os ciclos diários. Lá é produzida a melatonina, hormônio que avisa o corpo quando é a hora do repouso. A luz do dia inibe os neurônios produtores de melatonina. Aí você acorda.

 

18h – BOCEJO DAS SEIS

A melatonina, que controla o ciclo sono-vigília, é exclusivamente noturna. Ela começa a ser liberada pela glândula pineal assim que o nível de luz do ambiente cai. O resultado é aquele soninho que dá depois do pôr-do-sol – e que só aumenta durante a noite.

 

23h – BONS NHOS

Um bom exemplo de ritmos menores que um dia são os estados de sono. Durante a noite, o chamado estado REM (sigla para Movimento Rápido dos Olhos, em inglês), fase na qual os sonhos ocorrem, se alterna várias vezes com o estado não-REM.

 

2h – BAIXA GUARDA

A atividade do sistema imunológico diminui à noite, reduzindo as respostas do organismo aos micróbios.

 

3h – TRABALHADORES NOTURNOS

Assim como a melatonina, várias outras substâncias aproveitam o escuro para agir. É o caso do hormônio do crescimento, que atinge o pico no organismo por volta das 3 horas da madrugada.

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