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Nova variante do HIV é identificada em três regiões do Brasil

Vírus que combina genomas dos tipos B e C do HIV não parece responder de maneira diferente aos antirretrovirais, mas exige atenção dos epidemiologistas.

Por Manuela Mourão
Atualizado em 19 ago 2024, 09h56 - Publicado em 16 ago 2024, 16h00

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em colaboração com uma instituição sul-africana, revelou a circulação de um novo subtipo do vírus HIV em pelo menos três das regiões brasileiras.

Os resultados, publicados na revista especializada Memórias do Instituto Oswaldo Cruz e divulgados à imprensa pela Agência Bori, indicam que essa variante, denominada CRF146_BC, é uma combinação do material genético dos dois tipos de HIV mais prevalentes do Brasil, chamados de B e C.

A descoberta foi feita a partir da análise de uma amostra genética coletada em 2019 de um paciente em tratamento em Salvador, Bahia.

Durante o estudo, os cientistas identificaram segmentos dos dois subtipos do vírus, sugerindo que a recombinação ocorreu em um portador infectado simultaneamente por ambos os tipos. Essa recombinação pode gerar híbridos virais durante o processo de replicação, resultando em novas variantes, como no caso da CRF146_BC. 

A pesquisadora Joana Paixão Monteiro-Cunha, autora do estudo, explicou que a predominância do material genético do tipo C na nova variante pode indicar uma pressão seletiva favorável a esse tipo.

Em outras palavras, pode ser que o genoma do tipo C confira certas vantagens na sobrevivência e replicação do vírus. Ainda são necessárias novas investigações, porém, para confirmar quais seriam essas vantagens. 

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As variantes recombinantes representam cerca de 23% das infecções globais por HIV. Desde os anos 1980, mais de 150 misturas entre os subtipos B e C foram identificadas no mundo.

O que difere a CRF146_BC de outras variantes?

A pesquisadora, coordenadora de um grupo dedicado ao monitoramento da epidemia de HIV no Nordeste, conta que a identificação veio a partir de uma análise abrangente de 200 amostras.

Entre elas, um caso em particular chamou a atenção: um recombinante dos subtipos B e C. Embora a identificação de variantes assim seja frequente, a combinação específica entre esses subtipos é rara na região da Bahia.

Ao comparar o genoma desse vírus recombinante com os de outras amostras coletadas anteriormente, o grupo percebeu que ele é semelhante a quatro outras cepas já conhecidas, e que todas compartilham uma mesma origem.

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As cepas foram identificadas em diferentes regiões do Brasil, incluindo o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro. Essas descobertas sugerem que a nova variante já está se espalhando pelo país, o que levanta preocupações sobre sua disseminação.

Por que é importante monitorar as variantes?

De acordo com a coordenadora, “o surgimento de novas formas virais, subtipos e recombinantes pode significar um desafio para o controle epidemiológico”, uma vez que novas variantes têm uma possibilidade maior de acumular mutações. 

“Eles (os subtipos) surgem quando o indivíduo é infectado por dois vírus distintos. Essas células duplamente infectadas geram recombinações, e essas recombinações começam a circular pela população.” 

A cientista explica que a infecção dupla ocorre quando o indivíduo, já portador do vírus, entra em contato com outra variante, uma vez que estar infectado não o torna imune a uma nova infecção. 

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Por isso, reforça a importância de manter as campanhas de prevenção ativas: “O indivíduo infectado tem que ter cuidado para não se expor, muitas vezes ele pode perder a preocupação e por isso pode ser re-infectado.” 

Mesmo assim, afirma que o monitoramento de disseminação de variantes hoje em dia é muito bem feito. 

Existe alguma necessidade de ir atrás do diagnóstico desse subtipo?

A autora ressalta que ainda não há evidências de que a nova variante exija mudança nos tratamentos atuais contra o HIV, já que, até o momento, os subtipos não mostram grandes diferenças na resposta à terapia antirretroviral. Isso significa que pessoas com o vírus não precisam ir atrás de identificá-lo: basta manterem as preocupações usuais.

Próximos passos

Monteiro-Cunha diz que a equipe pretende fazer novos estudos de triagem e analisar o maior número possível de amostras para identificar o comportamento dessa variante, e a possibilidade do surgimento de outras recombinações a partir da CRF146_BC. 

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Além disso, diz ser importante compartilhar as descobertas com órgãos que monitoram essas variantes. O SIMC (Sistema de Monitoramento Clínico das Pessoas Vivendo com HIV/aids), por exemplo, é crucial para o controle e a vigilância do HIV e da aids, e ajuda a mitigar os impactos dessa doença.

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