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O dia em que “nevou” em São Paulo

Em 1918, uma estação meteorológica na Avenida Paulista teria flagrado neve na cidade. Mas não foi bem assim que aconteceu.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 26 ago 2020, 14h51 - Publicado em 21 ago 2020, 19h56

Sentindo os pés gelados? Saiba que você provavelmente não está sozinho: uma frente fria causada por uma massa de ar polar vinda da Argentina diminuiu a temperatura em 12 estados do Brasil nesta semana. Em cidades do sul, onde os termômetros podem ficar abaixo de zero, é possível até que caia neve nos próximos dias. Como você viu aqui na SUPER, quem não puder assistir a cobertura branca tomar o próprio quintal conseguirá prestigiar o evento à distância, por transmissões ao vivo.

Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), as geadas poderão atingir até mesmo as partes oeste e sul do estado de São Paulo – onde a temperatura pode bater os 3º C. Uma análise do Climatempo mostrou que, na capital, a temperatura deve ser a mais baixa do ano na madrugada dos dias 22 e 23 de agosto. Segundo simulações feitas por especialistas da empresa MetSul Meteorologia, isso poderia fazer “locais pouco acostumados a ver neve ou que não testemunham o fenômeno por décadas”.

Pronto. Era o que os paulistanos precisavam ouvir para alimentar uma teoria que há muito permanecia adormecida no imaginário popular: há chances de cair neve em São Paulo?

Antes de mais nada, vale uma explicação breve: não, moradores da capital paulista podem esquecer os planos de fazer seus próprios bonecos de neve improvisados. Apesar da chuva e da temperatura baixa, condições para a ocorrência de neve, o frio não deve ser suficiente para que flocos de gelo se acumulem na superfície.

Mas de onde vem essa esperança de assistir uma paisagem digna de inverno europeu no sudeste brasileiro? Bem, da história de que, há mais de cem anos, a cidade de fato viu neve.

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O episódio remonta a 1918 – mais precisamente o dia 25 de junho daquele ano. Coube a um dos pioneiros da meteorologia do país, José Nunes Belford Mattos, a medição que causou todo o equívoco. Segundo consta do caderno de anotações do especialista, a Avenida Paulista, local onde ficava a estação meteorológica da cidade, estava encoberta por uma neblina naquele dia. Então, nevou por alguns instantes, e o tempo voltou a ficar aberto.

O problema é que outros registros meteorológicos da época dizem que não havia nebulosidade – ou formação de nuvens de chuva – no fatídico 25 de junho de 1918. Sem nuvens, não é possível ter neve. Afinal, assim como a chuva, os cristais de neve se formam no interior das nuvens.

De acordo com Josélia Pegorim, meteorologista do Climatempo, o fenômeno que Mattos flagrou em São Paulo foi causado pela sublimação da névoa que estava sob a cidade. Sublimação, como você talvez se lembre, é quando a água (ou qualquer outra substância) passa direto do estado gasoso para o sólido.

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“Com isso se formaram cristais de gelo, praticamente uma ‘poeira de neve’ como a que vemos em geladeiras antigas” explicou, em entrevista ao G1. “Como estava muito frio, esse gelinho não derreteu ao tocar o solo, criando uma camada branca e dando um aspecto europeu à cidade. O fenômeno durou pouco, o gelo não resistiu ao sol da manhã”.

Ou seja: em vez de neve, o que aconteceu em São Paulo foi nada além de uma forte geada. Os cristais de gelo são parecidos nos dois casos – o que justifica o equívoco de Mattos. Naquele dia, os termômetros marcavam -1,2 ºC. Foi a temperatura mais baixa já registrada na capital. Apesar de incomum, ela aconteceu em pelo menos outras três datas – 6 e 12 de julho de 1942 e 2 de agosto de 1955.

Não há previsões de que ela vai se repetir tão cedo: a frente fria que castigará o estado por esses dias, por exemplo, deixará os termômetros pouco abaixo dos 10ºC. “Quente” o suficiente para extinguir as chances de formação de neve na capital. Ou cristaizinhos de gelo que se pareçam com neve, que seja.

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