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O DNA é um código livre

Devemos nos inspirar nos hackers se quisermos usar a genética para salvar nossa saúde, a economia e até o ambiente

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h46 - Publicado em 23 mar 2010, 22h00

Robert Carlson*

A genética tem passado por uma revolução. Graças a novas tecnologias, as ferramentas usadas para ler e escrever códigos de DNA têm ficado mais potentes. E o custo para desenvolvê-las tem caído. Isso é ótimo: quão mais acessíveis as ferramentas forem, mais gente aproveitará os usos da biotecnologia, que tem rendido novos grãos, remédios e biocombustíveis. Como no Brasil: em 2011, a empresa americana Amyris Biotechnology e a usina goiana Boa Vista lançarão um diesel vegetal feito com a modificação dos genes de uma levedura.

Mas isso acontece na teoria. Na prática, existe um obstáculo a essa revolução. Qualquer invenção gerada a partir da engenharia genética precisa ser protegida por patentes. São registros que criam pequenos monopólios na biologia, e impõem barreiras à inovação que vem de fora das grandes empresas. Existe, no entanto, uma proposta que poderia mudar isso: a chamada Biologia Open Source. A ideia por trás dela? Entregar a inovação aos hackers.

Para entender do que estamos falando, pense em um conceito parecido: o dos softwares open source, ou sofwares livres. O criador de um programa nesse formato detém os direitos autorais sobre ele, por um processo automático e quase de graça. Mas ainda assim o software pode ser baixado, utilizado e aperfeiçoado por qualquer um, sem custo. Dessa forma, o código não para de crescer.

Com a biologia, poderíamos fazer o mesmo. Já dá para encomendar sequências de DNA pela internet, de empresas que sintetizam o código e enviam genes para o cliente em um tubo de ensaio. Esse DNA pode ser introduzido em plantas ou bactérias, fazendo o organismo se comportar de novas maneiras.

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Em 2006, eu fundei uma empresa pensando nisso. A ideia era desenhar um novo gene, pedir o DNA online e fazer experiências com a proteína codificada por ele. Está funcionando. Pretendo descobrir um uso para a proteína e vendê-la. O problema é que não tenho automaticamente os direitos sobre ela, como aconteceria com um programa. Preciso de uma patente para que ninguém a copie. E esse registro já me exigiu um valor 10 vezes maior do que o gasto com a produção da proteína e as pesquisas.

Se tivéssemos um sistema aberto, essa barreira à inovação cairia. E teríamos a participação nas pesquisas de pequenas empresas e empreendedores, cada um em seu laboratório – os hoje hackers do sistema. Essa rede é fundamental. Assim como aconteceu com aviões ou computadores, as grandes empresas não conseguirão desenvolver sozinhas os grãos, drogas e biocombustíveis do futuro.

Há quem tema que esse sistema alimente o bioterrorismo. Mas construir um vírus, por exemplo, é uma tarefa extremamente difícil. Há consenso na ciência de que uma ameaça assim não sairá tão cedo de uma garagem. Na verdade, precisaremos da ajuda desses hackers justamente para responder às ameaças que poderão aparecer no futuro.

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* Robert Carlson é fundador da empresa de biotecnologia Biodesic e autor de Biology Is Technology.

Os artigos aqui publicados não representam necessariamente a opinião da SUPER.

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