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O físico brasileiro que não acredita em Big Bang

Juliano Neves, doutor pela USP, questiona a famosa teoria — e propõe um universo diferente, que pode até ser cíclico. Veja o papo dele com a SUPER.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 17h55 - Publicado em 6 dez 2017, 11h56

Juliano Neves é um ateu da física: ele não acredita em Big Bang. O pós-doutorando na Universidade de Campinas causou um rebuliço na mídia na última semana ao afirmar que a expansão inicial do cosmos, a partir de uma singularidade de densidade infinita, é só uma visão entre várias possíveis.

Outras dessas visões é bom lembrar, todas teóricas pressupõem a existência de um universo cíclico, de um imenso balão em constante contração e expansão. Uma das consequências da adoção desse modelo seria a existência de um cosmos anterior ao nosso (e de um posterior também). O que deixou este repórter pensativo à noite, e te deixará também.

Para peitar o onipresente Big Bang, Neves usou uma analogia matemática com a outra coisa da astrofísica que, segundo a maior parte dos especialistas, tem densidade infinita: os buracos negros. O brasileiro parte de premissas diferentes das criadas por Stephen Hawking e Roger Penrose para compreender o espaço e o tempo — que sem dúvida são coerentes em si mesmos, mas não são os únicos desdobramentos possíveis da Relatividade Geral de Einstein. Para entender melhor essa ousadia e alegria, a SUPER bateu um papo de 13,8 bilhões de anos com Neves.

As várias histórias do Universo

O que torna a ciência um jeito tão eficiente de compreender o mundo é o fato de que ela não aceita respostas definitivas. Tudo só está provado até que se prove o contrário. É claro que precisamos pesar as evidências: se todos os experimentos feitos nos últimos 2 mil anos (que envolvem até, olha só, subir num foguete e ir para o espaço) pendem a favor de uma teoria — no caso, a de que a Terra é redonda —, então todo mundo dá o braço a torcer: pois é, a Terra é redonda mesmo.

Quando estamos lidando com a história de 13,8 bilhões de anos atrás – vulgo início do Universo –, aí a coisa muda um pouco de figura. É quase impossível acumular evidências suficientes para cravar uma ou outra versão do parto do cosmos como 100% correta. Desde a publicação da Relatividade Geral, em 1915, as fórmulas de Einstein indicaram caminhos, interpretações plausíveis para o fenômeno.

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Dentre elas, a mais popular e mainstream delas é a teoria do Big Bang. Uma singularidade – um estado inicial de energia impensavelmente grande e dimensões impensavelmente pequenas – se expande bruscamente e dá origem a tudo que conhecemos. Ela não é difundida só porque teve bons defensores na arena pública (como Stephen Hawking e Roger Penrose), mas porque sua matemática funciona especialmente bem. As contas dão certo quando existe uma expansão primordial nas fórmulas.

“Com o passar dos anos, a cosmologia padrão se estabelece com um Universo em expansão e com a singularidade inicial”, conta Neves. Acontece que o modelo padrão tem problemas internos, como todo modelo físico tem, então muitos pesquisadores começam a pensar em alternativas.

Na teoria, a prática é outra

Os buracos negros que estão lá no céu – os que têm existência física e que trombam volta e meia, gerando ondas gravitacionais – são muito diferentes dos buracos negros matemáticos. Fórmulas são interpretações sintéticas de fenômenos reais, usadas para descrevê-los.

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A matemática que apoia o Big Bang é a mesma matemática que apoia a descrição mais popular dos buracos negros: pontos de densidade infinita cercados por um horizonte de eventos. Um perímetro de não-retorno, além do qual nada é capaz de escapar da atração gravitacional – nem a própria luz.

Neves parte de um ponto de vista matemático diferente, que compartilha algumas conclusões amplamente aceitas, mas difere em um aspecto essencial. “O modelo que eu propus é a favor da expansão, da radiação cósmica de fundo e outras coisas muito bem estabelecidas [que também são essenciais para a cosmologia padrão]”, explica o brasileiro. “Mas eu não acredito na existência de singularidades. Não acho que houve um Big Bang, e eu também acho que, cruzando o horizonte de eventos, não há uma singularidade no interior dos buracos negros.”

Os buracos negros de Neves têm uma massa variável, que aumenta conforme você se aproxima do centro. São chamados regulares, em vez de singulares. Deles é possível pressupor um universo ricochete: em que não houve um Big Bang, e em que a fase atual de expansão foi precedida por uma de contração.

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Evidências de outro mundo

Ele não é o primeiro. Ainda na década de 1970, um cientista brasileiro chamado Mário Novello (segue uma ótima história) já levava muito a sério o questionamento do Big Bang, ainda que partindo de princípios diferentes dos de Neves. Ele chegou a publicar um livro sobre o assunto.

Neves acredita que, se a expansão atual do nosso Universo de fato foi precedida pela contração de um universo anterior, talvez restem por aí ondas gravitacionais que tenham sido criadas no universo que veio antes do nosso — e que poderiam ser detectadas por nós.

Sua posição ainda não é tão popular entre astrofísicos, mas descobertas recentes, como a energia escura, deixam a cosmologia padrão em uma posição mais frágil do que a que ela ocupou nos últimos 50 anos. Visões que se opõem ao Big Bang tendem a se tornar cada vez mais comuns. E, mesmo que porventura não se provem corretas, terão a virtude de todas as hipóteses: alimentar a discussão mais importante da humanidade. Como, afinal, nós viemos parar aqui?

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