O gene para formação de raízes que é mais antigo que as próprias raízes
Em um exemplo didático de reaproveitamento de trechinhos de DNA pela seleção natural, pesquisadores japoneses demonstraram a antiguidade do gene RLF, que já existia em plantas simples de 470 milhões de anos atrás.

A equipe do pesquisador japonês Fukaki Hidehiro, da Universidade de Kobe, descobriu que um gene responsável por regular o desenvolvimento de raízes em plantas vasculares – o tipo de planta mais comum na Terra atualmente, ao qual pertencem todas as árvores, arbustos e ervas que você conhece – já existiam em plantas mais simples, que sequer têm raízes: as hepáticas, que surgiram há 470 milhões de anos.
Esse achado, publicado no periódico New Phytologist, é um exemplo didático de como, ao longo da história da vida na Terra, muitos trechinhos de DNA foram reaproveitados para novas funções em resposta às pressões da seleção natural. Um exemplo clássico disso é o gene Syncytin-1, que pertencia originalmente a um retrovírus, mas acabou se provando útil para a formação da placenta humana.
“Meu grupo já havia descoberto que um gene chamado RLF é necessário para o desenvolvimento das raízes laterais na planta Arabidopsis thaliana [que é uma planta vascular, parente da mostarda]”, explicou Hidehiro em declaração à imprensa. Queríamos saber se o equivalente desse gene em outras plantas também estaria envolvido em processos semelhantes.”
Fukaki recorreu à planta modelo terrestre mais simples que conseguiu encontrar, a hepática Marchantia polymorpha, que tem a aparência de um pequeno guarda-chuva. A dita-cuja sequer têm raízes capazes de extrair água ou nutrientes do solo, mas possui sua própria versão do gene RLF.
Calhou que as hepáticas sem RLF apresentam deformações graves em vários órgãos, o que demonstra que o RLF também participa do desenvolvimento de órgãos em plantas terrestres mais básicas. A equipe demonstrou até que os RLFs das duas espécies são intercambiáveis: o gene da Arabidopsis pode desempenhar sua função na hepática – e o da hepática, na Arabidopsis.