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O kit para criar um sapo mutante em casa está à venda por US$ 499

Cientista dos Estados Unidos quer tornar técnicas de engenharia genética acessíveis a qualquer pessoa – tudo sem sair de casa

Por Guilherme Eler
Atualizado em 18 set 2018, 10h35 - Publicado em 17 set 2018, 16h41

O americano Josiah Zayner é um cientista polêmico. Apesar de ostentar no currículo um doutorado em bioquímica e biofísica pela Universidade de Chicago, nos EUA, e ter passado uma temporada como funcionário da Nasa, ele ganhou notoriedade no meio biohacker – onde ele usa essas credenciais para fins um tanto… peculiares.

A corrente propõe a união da biologia, e todas as suas aplicações mais modernas, como técnicas de engenharia genética, à lógica hacker. Assim como programadores anônimos invadem domínios na internet, o conhecimento científico seria algo acessível a qualquer pessoa. Para os biohackers, criar experimentos rápidos e baratos é uma forma de superar a lógica de que ciência precisa ser feita dentro de laboratórios. É o chamado DIY (sigla em inglês para “faça você mesmo”) aplicado à ciência.

Como paladino da desconstrução científica, Josiah Zayner começou a ter notoriedade em 2016, quando ganhou atenção da imprensa realizando um auto-transplante fecal.

Depois, em dezembro de 2017, o cientista tentou editar seu próprio DNA usando a técnica CRISPR/Cas9. CRISPR e Cas9 são duas proteínas capazes de editar material genético com precisão inédita, e vêm sendo cada vez mais estudadas nos últimos anos. Na frente de 30 pessoas que participavam de uma conferência em São Francisco, nos EUA, Zayner usou uma seringa para injetar em seu braço um tratamento para herpes que usava exatamente essa dupla. O experimento chamou a atenção pela ousadia quase kamikaze, já que a técnica havia sido usada em humanos pela primeira vez dois meses antes.

Em entrevista à revista americana The Atlantic, Zayner se declarou arrependido da demonstração, dizendo que se sentia responsável por ter incentivado experimentos mal-sucedidos ou feitos à margem da lei por outros biohackers. Mesmo assim, não parou por aí: o hacker biológico começou a comercializar um kit para edição genética em bactérias em abril de 2018.

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Agora, as bactérias deram lugar a seres um tanto mais complexos. Em sua mais nova tentativa de democratizar a ciência, Zayner passou a vender todos os itens que uma pessoa precisa para tornar real o sonho do sapo mutante próprio.

O kit é comercializado com exclusividade pela Odin, loja online criada pelo biohacker. Por US$ 499, é possível arrematar seis pererecas da espécie Hyla cinerea, que têm pouco mais de 5 cm de tamanho e esta aparência, gaiolas, comida para as cobaias e seringas, além do coquetel genético. Este último se trata de uma mistura que contém IGF-1, proteína que garante o crescimento muscular.

Se você seguir as instruções certinho, o resultado esperado é a criação de um sapo mais musculoso que o normal. Foi este, pelo menos, o resultado dos testes preliminares. Sapos que passaram pela terapia genética descrita no kit durante algumas semanas registraram, em média, 23% de aumento na massa corporal – sem suplementação ou qualquer tipo de exercício. É de fazer inveja a qualquer bodybuilder.

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Os materiais já estão disponíveis para reserva, e começarão a ser despachados para os primeiros compradores a partir do dia 1 de outubro. Fãs de engenharia genética ao redor do mundo ainda terão de esperar algum tempo, já que a novidade está disponível apenas nos Estados Unidos.

O autor da ideia garante que todos os protocolos e procedimentos estão de acordo com o que recomenda o NIH, conselho nacional de saúde norte-americano. Antes de receber tudo no conforto do lar, é preciso apenas preencher um quiz de segurança, “como forma de garantir que o comprador saiba como trabalhar com animais” (nas palavras do site).

“Ainda que um modelo anfíbio não seja perfeito, ele fornece uma maneira para que as pessoas possam testar seus tratamentos antes de os aplicarem em si próprios. A meta é que o kit auxilie pessoas que precisam desse tipo de ajuda, sem precisarem recorrer a atividades ilegais”, completa a descrição do produto.

É provável que essa segunda aplicação, contudo, sirva apenas àqueles que riem da cara do perigo, como Zayner. Em comunicado à agência Bloomberg, a FDA (agência dos EUA que regula alimentos e medicação) reforçou que o uso dos kits em humanos é proibida – mesmo que o humano em questão seja você mesmo. Não tente isso em casa. Nem aqui, nem nos EUA.

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