Clique e Assine SUPER por R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

O lagarto brasileiro teiú é 1º réptil que produz calor próprio. Mas como?

Essa espécie tupiniquim desenvolveu um mecanismo celular similar ao das aves e dos mamíferos, nunca antes visto nos répteis, para aquecer seu sangue.

Por Eduardo Lima
28 jul 2024, 14h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Um grande lagarto em cima de uma rocha com flores no entorno.
     (Leonardo Palermo Gentile / Wikimedia Commons/Reprodução)

    Os répteis, como aprendemos na escola, são animais de sangue frio. Além deles, anfíbios e peixes também são ectotérmicos: dependem do calor do ambiente para se aquecer. Há uma exceção que prova a regra, e ela é do Brasil: o teiú consegue se aquecer com o calor do próprio corpo, sem depender do ambiente externo, durante seu período reprodutivo.

    O Salvator merianae habita grande parte do Brasil, o norte da Argentina e do Uruguai. Um grupo de cientistas apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) descobriu que o teiú regula sua temperatura corporal sem depender de condições externas, mas só durante o período reprodutivo. Os resultados dessa pesquisa foram publicados na revista científica Acta Physiologica.

    Só as aves e os mamíferos são conhecidos por serem endotérmicos, ou terem “sangue quente”. Esse estudo é a primeira vez que esse comportamento é observado dessa maneira num réptil. A autora principal do estudo, Livia Saccani Hervas, começou a pesquisar os teiús antes mesmo de terminar a faculdade, em sua iniciação científica. Agora, ela é doutoranda na Unesp.

    Já em 2016, pesquisadores brasileiros descobriram que os teiús deixavam seus corpos mais quentes do que as tocas onde passavam a noite durante o período reprodutivo. Mas ainda não se sabia como eles, animais de sangue frio, conseguiam fazer isso sem a luz do Sol para se aquecer. Até agora.

    Continua após a publicidade

    Fábrica de calor

    Os cientistas passaram três anos colhendo biópsias do músculo esquelético de dez espécimes de teiú. Eles fizeram isso durante o verão, em fevereiro, e na primavera, em setembro e outubro. Esses pequenos pedaços de tecido, tirados de uma das patas dianteiras e uma das traseiras, foram submetidos a análises bioquímicas e a um calorímetro, medindo o calor emitido.

    Durante o período reprodutivo, tanto o músculo dos machos quanto das fêmeas produzia muito mais mitocôndrias do que o normal. Essa organela é a responsável por produzir energia nas células, queimando o carboidrato comido com o oxigênio respirado e gerando gás carbônico. O calor, muitas vezes, é um subproduto do processo de geração de energia da célula.

    A proteína ANT, ligada a um processo bioquímico que gera calor nas aves, era mais presente e mais ativa nas mitocôndrias durante o período reprodutivo. O calor extra é usado pelas fêmeas para gerar os ovos e construir os ninhos, e pelos machos para buscar territórios e aumentar suas gônadas, as glândulas onde estão localizadas as células reprodutivas e onde são produzidos os hormônios sexuais.

    Continua após a publicidade

    Antes da descoberta sobre os teiús, os únicos répteis conhecidos que conseguiam aumentar sua temperatura eram pítons. As serpentes asiáticas, que podem chegar a cinco metros de comprimento, tremiam, agitando os músculos para gerar calor e ajudar a chocar os ovos. O teiú não precisa tremer para ficar mais quente.

    Talvez a endotermia seja mais frequente entre os répteis do que se imaginava, com os exemplos dos teiús e das pítons. A estratégia celular dos lagartos, muito parecida com a das aves e dos mamíferos, pode ser um indício de que o sangue quente tem raízes evolutivas mais antigas do que se imaginava.

    Compartilhe essa matéria via:
    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 9,90/mês

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 14,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.