O livro sombrio dos seres vivos
Elas podem controlar o seu cérebro e devorar você por dentro. Saiba quais são, como vivem e o que fazem as 11 criaturas mais cruéis, nojentas e aterrorizantes do planeta
Alguns encaram a natureza como uma mãe acolhedora, onde há uma harmonia sagrada em cada ecossistema. Pura ficção. Na vida real, ela está mais para uma madrasta de contos de fada: todos querem matar todos, e muitas vezes de formas tão cruéis que nem os seres humanos as imaginariam. São parasitas que controlam a mente dos hospedeiros – e, sim, isso talvez inclua você -, invasores que tomam o lugar de órgãos de outros animais, vespas que criam transgênicos para destruir seu sistema imunológico. Na anarquia indiferente da natureza, não há almoço grátis, e faz-se absolutamente de tudo por um almoço. Compilamos aqui os piores exemplos deste lindo mundo cão em que viemos a nascer. Bom apetite!
A língua diabólica
Nome científico – Cymothoa exigua
Tamanho – 4 cm
Onde vive – Atlântico Norte
Imagine um parasita que se apossa do seu braço, o faz cair e passa a ocupar o lugar do membro – mas mantendo um lindo visual natural alienígena, com garras, olhos e boca, e várias vezes maior que o braço original. Um pesadelo digno de filmes como Resident Evil. Mas não é roteiro de ficção científica: existe aqui e agora na linda Mãe Terra. A vítima atende pelo nome de Luciano – os peixes da espécie Lutjanus guttatus, comuns na costa dos EUA. O parasita? Cymothoa exigua ou pulga-do-mar, muito prazer. Quando o peixe está nadando, essa pulga entra pelas guelras sem que ele perceba. O invasor vai até a boca do animal, onde se prende firmemente com suas garras em formato de gancho e corta os vasos sanguíneos para a língua, que fica sem circulação e atrofia. Quando isso acontece, a pulga-do-mar substitui o órgão – ela se torna a língua, passando a controlar a alimentação do peixe. A vítima leva uma vida normal, exceto pelo horror que deve ser conviver com um monstro dentro da boca.
O verdadeiro dono do mundo
Nome científico – Toxoplasma gondii
Tamanho – 0,0008 mm
Onde vive – mundo todo
Lady Gaga. Barack Obama. A presidente do FMI. A criatura mais influente do mundo não é nenhuma dessas. É um protozoário minúsculo, mas com uma capacidade poderosíssima: transformar mamíferos em zumbis. E isso inclui o ser humano.
Tudo começa nas fezes. De gato. Quando um rato (ou um ser humano) entra em contato com elas e é infectado pelo Toxoplasma, seu comportamento muda. O rato adquire um instinto bizarro: passa a se sentir atraído pelo cheiro de gatos. É o Toxoplasma manipulando o cérebro da vítima, com um propósito terrível. O parasita quer que o rato seja morto e comido por um gato – pois quando isso acontece, ele infecta o gato (que não apresenta nenhum sintoma) e volta a se propagar.
Nos seres humanos, a doença tem sintomas leves, típicos de gripe. A maioria das pessoas nem sabe que foi infectada – 67% dos brasileiros são portadores do parasita. Mas ele também mexe com o cérebro humano. Vários estudos feitos a partir da década de 1990 indicam que os infectados apresentam mudanças de personalidade. Os homens tendem a quebrar mais regras, assumir mais riscos e ter capacidade intelectual menor. As mulheres, ao contrário, se tornam mais inteligentes e sociáveis. Ambos ficam mais promíscuos. Ambos se envolvem em 2,5 vezes mais acidentes de trânsito.
Segundo um estudo da Universidade da Califórnia, o Toxoplasma também poderia explicar as diferenças culturais entre países com poucos infectados (como Inglaterra e EUA, com 6% e 12% respectivamente) e outros onde ele é mais comum, como Espanha (22%) e Itália (32%). O tal “sangue latino”, na verdade, pode ser apenas um efeito do parasita.
Devorado vivo
Nome científico – Cochliomyia hominivorax
Tamanho – até 1 cm
Onde vive – trópicos da América, do México ao Brasil
Esta mosca tem gosto refinado: a carne de animais vivos. Ela coloca seus ovos em feridas ou partes moles do corpo, como olhos, nariz ou ânus, e, em 12 horas, as larvas começam a degustar o animal (ou você) vivo. O resultado é uma ferida horrenda cheia de larvas vorazes. O tratamento da doença, que é uma versão mais agressiva da conhecida berne, consiste em arrancar as larvas – só que elas cavam mais fundo se você tentar. Depois de uma semana, se você tiver a sorte de elas não terem comido nada vital, as larvas caem ao chão para se tornarem casulos e virar novas moscas.
Chifre alienígena
Nome científico – Cordyceps unilateralis
Tamanho – até 1,5 cm
Onde vive – Brasil
Este fungo entra pelas vias respiratórias e come as partes não vitais da vítima, enquanto cresce e estende seus filamentos por dentro até chegar à cabeça, onde faz crescer um horrendo chifre alienígena – na verdade, um cogumelo, que lança pelo ar esporos infecciosos para contaminar novas vítimas. Felizmente, só ataca formigas.
Comedor de ossos
Nome científico – várias espécies do gênero Osedax
Tamanho – 1 cm
Onde vive – Fundo do mar
Quando uma baleia morre, diversas criaturas ficam até 2 anos comendo seu cadáver. Só depois chega a mais nojenta: um verme cujas larvas se instalam nos ossos, criando filamentos que crescem para dentro. Eles podem viver décadas devorando os ossos, e só as fêmeas são visíveis – os machos são larvas microscópicas que infestam o corpo da própria fêmea.
A dor mais forte do planeta
Nome científico – Synanceia verrucosa
Tamanho – até 51 cm
Onde vive – Oceanos Índico e Pacífico
Corais são lindos. Mas também abrigam um morador perigosíssimo: o peixe-pedra. Ele tem esse nome porque sua camuflagem o faz parecer uma pedra. Se você pisar nele, levará uma injeção de um veneno terrível – que provoca o que alguns cientistas classificaram como a pior dor que pode ser sentida pelo ser humano. Ela dura meses e mesmo o mais potente analgésico, morfina, não consegue pará-la. O veneno também provoca atrofia muscular, deixando uma perna menor que a outra. A vítima não morre, mas talvez até gostasse: a literatura médica traz casos de pessoas que pediram para sofrer eutanásia após um ataque. Se serve de consolo, os japoneses gostam de fazer sashimi com o peixe-pedra (que precisa ser fatiado com muito cuidado para retirar o veneno). Vingança.
Castrador de homens
Nome científico – Vandellia cirrhosa
Tamanho – até 15 cm
Onde vive – Brasil
O candiru é um peixinho fino e comprido, parente dos bagres, que vive nos rios da bacia amazônica. Ele nada para dentro das guelras de outros peixes e fica lá, sugando seu sangue. É um bicho diabólico, mas meio burro – tem o hábito de confundir certas partes do corpo humano, como o canal da uretra masculino, com as guelras de peixes. Isso significa que, se um homem nadar pelado ou urinar no rio (sim, o peixe sobe nadando pelo xixi), o candiru pode entrar em seu pênis. É uma péssima ideia para o peixe: não há espaço suficiente para ele se soltar, e também não há água ou oxigênio, de forma que o candiru não sobrevive, e você, depois de lidar com um bagre de pontas afiadas se debatendo em suas partes íntimas por horas, termina com um bicho morto entalado dentro de você.
Só há como tirar o peixe com cirurgia, um serviço que não é exatamente abundante nas partes remotas da Amazônia onde você pode pegar um candiru. Se a pessoa não for tratada rapidamente, há risco de infecção e perda do pênis.
Vespa louca
Nome científico – família Braconidae
Tamanho – 1 mm a 4 cm
Onde vive – mundo todo
Esta vespa injeta veneno suficiente para paralisar, mas não matar, uma lagarta. Aí, as larvas da vespa nascem e se alimentam da lagarta viva. Mas o parasita tem um requinte de crueldade: junto com o veneno, ele injeta uma espécie de vírus que modifica o DNA da lagarta, tornando seu sistema imunológico incapaz de destruir as larvas.
Morte aos embriões
Nome científico – Gênero Wolbachia
Tamanho – 0,00015 mm
Onde vive – mundo todo
As bactérias do gênero Wolbachia atacam 60% dos insetos existentes na Terra. E odeiam machos. Odeiam tanto que os matam quando ainda são embriões. Se o macho nascer, é transformado em fêmea ao longo da vida. A Wolbachia também ajuda as fêmeas a se reproduzirem de forma assexuada. É que ela só se propaga por meio de óvulos.
A bolha assassina
Nome científico – Naegleria fowleri
Tamanho – 0,001 mm
Onde vive – mundo todo
Amebas são fascinantes. Elas não têm forma – modificam o próprio corpo para engolfar e comer bactérias, outros protozoários, alimentos no intestino de alguém, o que estiver dando sopa. Se você nadar numa piscina ou num lago contaminado, esta ameba entra pelo nariz e se alimenta do seu cérebro. Não há tratamento, e a probabilidade de morte é de 99%.
De pai para filho
Nome científico – Trichomonas gallinae
Tamanho – 0,001 mm
Onde vive – mundo todo
O protozoário Trichomonas gallinae afeta pombos, aves de rapina e galinhas. Ele causa feridas na boca, que se parecem com aftas, e, o mais cruel, é transmitido dos pais para os filhotes (devido ao hábito das aves de regurgitarem a refeição ou, no caso dos pombos, pela glândula que secreta para os filhotes uma substância parecida com leite). E essa praga aviária já fez vítimas maiores. O fóssil mais preservado de tiranossauro, uma fêmea apelidada de Sue escavada em 1990, que viveu entre 65,5 e 67 milhões de anos atrás, tem buracos na mandíbula que sempre intrigaram os cientistas. Estudando Sue e mais 60 fósseis com os mesmos problemas, um grupo de pesquisadores australianos e americanos concluiu que o tormento dos tiranossauros era o próprio T. gallinae, que nos dinos causava lesões ainda piores. Um parasita que sobreviveu à grande extinção do Jurássico? Uma salva de palmas, Trichomonas.